Capítulo 14- Talvez um dia...

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Silêncio.

Silêncio foi o que se criou entre nós. Era possível ouvir os ponteiros do relógio na cozinha a fazerem a sua rotina diária, as pipocas no micro-ondas estourarem e os poucos carros que passavam na vizinhança. Qualquer um nesta situação a descreveria como ganhar enfim a paz, serenidade que procuraram pela a vida inteira, já eu, vejo a ausência de som com constrangimento e um certo mal-estar. As palavras que o meu pai pronunciou ecoavam na minha cabeça e apoderaram-se de cada pensamento que fluía na minha mente. "Namorado"... "Namorado"...Não podia culpá-lo de não saber que a pessoa que eu amava morreu há pouco menos de um mês mas será que a relação que eu tinha com o Peter era tão forte para as pessoas do exterior pensarem que fossemos mais que meros amigos? Será que o Peter tem esperanças do nosso relacionamento evoluir? Não! Eu fui bem clara naquele dia no parque, mas, só para ter a certeza terei uma conversa com ele mais tarde. Agora preciso encontrar uma forma simples de explicar ao meu pai o que aconteceu enquanto ele estava longe, pensei por um momento e quando sabia o que dizer aproximei-me do mesmo.

—Er...— Por alguma razão estava a gaguejar— Ele não é meu namorado, ele é o meu melhor amigo— A Ava e a Abïgail voltaram-se para mim e com um simples olhar percebi que estavam a interrogaram-me o que havia acabado de  dizer, eu tentei mostrar que explicaria mais tarde e elas assentiram— Eu tinha um namorado, para dizer a verdade ele era meu noivo mas- — Dei um longo suspiro e ganhei coragem para dizer as palavras aterradoras que seguiam— Ele morreu há um mês e meio.

—Marianne...eu...eu não sabia, desculpa— Pela a maneira que a voz dele estremeceu e as bochechas estavam rosadas vi que estava envergonhado.

—Não tem mal, não tinhas como saber, não te preocupes.— O ambiente ficou pesado mas tudo o que eu queria era esquecer-me desse episódio negro da minha vida nem que seja por um dia, com a minha família e amigos.— Bom, vamos começar a maratona?— Perguntei com um sorriso na cara e recebi outros cinco.

Enquanto eles instalavam-se eu voluntariei-me para trazer as pipocas para a sala, quando cheguei na mesma deparei-me com a minha mãe e o meu pai num dos sofás, a Ava e a Abïgail noutro e o Peter sentando sobre um colchão por falta de espaço. Eu pousei o balde de pipocas sobre o meu colo e fui atacada pela a Ava que pegou em quase metade e colocou na pequena bacia que tinha, depois foi a vez da minha mãe de tirar algumas para a bacia de vidro que iria partilhar com o meu pai. Como cada dupla tinha apenas um recipiente para os respetivos aperitivos eu tive que partilhar o meu balde com o Peter, nós começamos a maratona pelo o famoso e único Missão impossível 1 de 1996, devo dizer que para um filme mais antigo ele é melhor do que alguns que são chamados 'atuais'.

Tínhamos começado a ver os filmes às 15h e após muitas pipocas, batatas-fritas, chocolates, fatias de pizza, estávamos no quinto filme da franquia. Era quase meia-noite e os únicos ainda acordados eram eu e o Peter, nós perdemos a minha mãe no terceiro, o meu pai no meio do quarto e a Ava e a Abïgail no início do quinto. Como tinha visto o quinto filme há pouco tempo, aproveitei o ínicio e fui encher novamente o balde das pipocas, incrivelmente descobri que o Peter pode comer mais do que um humano deveria ser capaz de ingerir. No fim do filme, aproveitei o momento para ter uma conversa séria com ele, quando me virei para ele nós dois dissemos o nome um do outro ao mesmo tempo o que nos fez rir.

—Podes falar primeiro.— Eu teria aceitado se não estivesse curiosa pelo o que ele tinha a dizer.

—Não, tu primeiro...

—Ok. Eu sei que a morte do Simon abalou-te imenso e que dizes não querer mais a presença de 'amor' na tua vida, mas sinto que tenho que dizer que esta última semana que passamos juntos eu percebi que gosto de ti, e eu penso não ser o único a partilhar este sentimento, eu acho que estás a afastar o que sentes por medo e por achares que estarias a trair o Simon de alguma forma. Mas eu acho que ele ficaria contente por saber que tu encontraste alguém que te faz sorrir, algo que a minha prima disse que não fazias desde que perdeste o Simon.— Não respondi, continuei a olhá-lo nos olhos e deixei as lágrimas se libertarem— Eu não espero que me digas que gostas de mim também ou que estás disposta a tentar levar a nossa amizade por um outro caminho mas quero que saibas que não vou desistir tão facilmente, violetinha.

—Violetinha?— Perguntei entre risos e choro

—Achei justo criar um apelido para alguém especial como tu.— Limpei as lágrimas que tinham molhado a pele do meu rosto e pensei em uma maneira gentil de dizer o que tinha a dizer ao Peter.

—Eu não estou preparada para esquecer o Simon— Ele tentou interromper-me mas eu não deixei— Eu sei! Eu sei que não foi o que me pediste mas não posso simplesmente entrar num relacionamento com alguém sem estar a cem por cento comprometida ao mesmo. Não seria justo, nem contigo, nem comigo. O Simon até há pouco tempo era a pessoa com a qual eu via o meu futuro, ele era o homem da minha vida e isso tudo desapareceu de um momento para o outro e como se isso não fosse o suficiente umas semanas mais tarde- —Parei de falar abruptamente, tinha medo de pronunciar as palavras que tenho guardado para mim mesma, eu sei que depois de as dizer não poderei voltar atrás e isso assusta-me.— Semanas mais tardes eu conheci alguém que atirou a minha atenção e que se tornou o protagonista dos meus sonhos. Finalmente depois ler livros e mais livros sobre isso, conheci o meu cavaleiro de armadura reluzente, aquele que vem para salvar a dama em apuros...— Fiz uma pausa antes de continuar— Mas, mesmo que admita que há sentimentos que não consigo explicar eles não são suficientes para eu me aventurar a começar uma relação que seja mais que amizade com ele.

—Posso fazer uma pergunta?— Eu assenti— Mais para a frente, quando estiveres finalmente pronta para ter outro relacionamento e quando vires o quão maravilhoso eu sou— Nós rimos— Poderias ponderar a possibilidade de termos uma relação que ultrapasse a amizade?

—Talvez— Não consegui conter a palavra ela saiu por vontade própria, como se quisesse ser dita.

—Isso é o suficiente para não desistir tão facilmente.— Um minuto de silêncio foi executado até que ele decidiu mudar de assunto— Agora que já falamos tudo o que tínhamos a falar, o que me dizes de continuarmos a ver os filmes do Tom Cruise? Não estou com sono...— Eu ri e assenti.

A meio do seixto filme comecei a sentir os olhos ficarem pesados e o cansaço venceu-me, pousei a cabeça sobre o ombro do Peter e fechei os olhos. Antes de adormecer ouvi uma espécie de sussurro da parte dele.

—Por ti vale a pena...— Ele depositou um beijo na minha testa e eu entrei na obscuridade em questões de segundos.


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O capítulo foi escrito com muito carinho e amor🤗
Beijinhos!!

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