Capítulo 10- A procura

4 3 0
                                    

Depois do que aconteceu, passei o resto do dia abraçada à minha mãe no sofá a ver uma série na Netflix. Mesmo que a minha mãe me tenha perdoado ainda me sentia mal por tê-la feito sofrer daquela maneira então hoje, acordei às oito horas das manhã para preparar um pequeno almoço digno da super-heroína que é a minha mãe. Quando ela chegou na cozinha e olhou para a mesa um sorriso que já não via há algum tempo invadiu o rosto dela, ela abraçou-me e disse que não precisava ter feito aquilo mas ao ver como aquele gesto tinha alegrado o dia dela eu soube que aquilo era exatamente o que deveria ter feito. Eu aprendi da pior maneira que temos que dar valor às pessoas que amamos enquanto podemos porque um dia elas morrem e aí será tarde demais. Nós partilhamos o pequeno almoço e entre risos e conversas toda a comida que tinha cozinhado desapareceu, a minha mãe saiu para trabalhar e deixou-me sozinha para limpar a louça que tinhamos sujo.

Como não tinha planos para hoje fui para o sótão. Escolhi um livro de romance da biblioteca que ainda não tinha lido e sentei-me no meu velho amigo puff. Comecei a ler o livro e alguns minutos depois tive que parar, tinha uma razão para deixar de lado este livro, Five feet apart é um livro que tinha comprado algum tempo antes do Simon morrer e bom, como sei que os personagens principais estão doentes e que vão apaixonar-se mas um deles vai morrer no fim, decidi deixá-lo na prateleira para quando estivesse pronta para o ler. É incrível como com apenas algumas páginas ele já conseguiu fazer a saudade que sinto do Simon fazer-se presente, pousei o livro sobre as minhas pernas e levei a minha mão até o meu pescoço para abraçar o colar com o anel de noivado. Eu nunca tiro o colar, nem para tomar banho, então imaginem o meu espanto quando a pele da minha mão entrou em contacto com a pele do meu pescoço e não senti o fio de prata que nunca o deixava. Desesperada, desci as perigosas escadas do sótão e fui até o meu quarto, ao entrar fui direta às mesas de cabeceira na esperança de encontrar o meu bem mais precioso. Abri as gavetas, olhei o chão à volta das mesas e da cama e nada de colar, aflita comecei a procurar em todos os cantos do meu quarto. No guarda-roupa, casa de banho, perto da minha parede com algumas decorações com personagens de séries, de livros ou de filmes, embaixo da cama, na varanda do quarto mas nada...

Desolada, fui até o quarto da minha mãe e virei-o de pernas para o ar, mas mais uma vez nada. Procurei na cozinha, sala de estar, casa de banho dos convidados, sótão, jardim....NADA! Já com lágrimas nos olhos, com o coração despedaçado, sentei-me no sofá e comecei a chorar. Como pode ser tão estúpida e perder uma coisa tão importante assim? Tinha acabado de perder a única coisa que me fazia levantar da cama, a que me acalmava nas horas que mais precisava, a que me dava esperança e acima de tudo a que não me deixava esquecer o quanto eu amava o Simon e o quanto fomos felizes juntos. O que ele diria se estivesse aqui neste momento? Provavelmente estaria desapontado comigo.

—Desculpa, eu perdi-o...— Olhei para o teto na esperança de obter uma resposta ou claridade.

Ao mesmo tempo que chorava e suplicava para forças invisíveis que me ajudassem a encontrar o colar alguém bateu à porta. Enquanto andava até à porta, limpava as lágrimas e tentava esconder a tristeza que tinha tomado conta de mim, respirei fundo e abri a porta sem nem verificar primeiro quem era. A minha tristeza passou a incompreensão ao ver o Peter e sorriso presunçoso do outro lado da porta, sorriso que morreu quando ele olhou para mim.

—Wow! Eu sei que não gostas de mim mas não sabia que isso era motivo para me abrires a porta com uma cara...não muito...como vou dizer isto gentilmente?— Ele levantou os olhos e pôs-se a pensar.

—Se eu soubesse que eras tu não teria aberto, e se vieste para me insultar escolheste o pior dia para o fazer. Não estou com cabeça para discutir com um menino convencido que acha que é o centro do mundo— Quando estava prestes a fechar a porta ele esticou a mão e balançou um fio prateado, não qualquer fio, o meu colar! Aliviada, peguei nele e levei-o ao meu peito.

—Pelos os vistos esse colar é importante...— A voz do Peter tirou-me do transe que tinha entrado ao sentir uma vez mais o anel e o fio, levantei o olhar e assenti.— Será que posso saber o motivo?— O olhar dele pousado no meu sempre mexeu comigo mas naquele momento tudo o que via era alguém de confiança, alguém que estava disposto a ouvir-me, alguém que podia finalmente entender o que eu sentia há meses.

Com precaução deixei um espaço entre mim e a porta e convidei-o a entrar com um gesto delicado, ele percebeu imediatamente e entrou, o olhar dele alternava entre mim e as decorações. Coloquei o colar ao redor do meu pescoço e fui até a sala de estar, o Peter seguiu-me até à mesma em silêncio, ao chegarmos convidei-o para sentar-se no sofá e eu sentei-me no sofá de frente ao dele. Nós olhamo-nos por um momento em silêncio, um olhar cúmplice e que me deixava sem saber o que fazer, baixei o olhar e mordi o lábio inferior nervosa. Reuni coragem e comecei a contar tudo o que tinha acontecido, começando por dizer como conheci o Simon, de  como começamos a namorar, de como éramos felizes, de como ele pediu-me em casamento, de como tínhamos planos para o futuro. Ele ouviu-me atentamente e de vez em quando reagia a algumas coisas que eu contava, pelo um sorriso de compreensão ou arregalando os olhos de surpresa.

—E essa é história por detrás deste colar— Dei um sorriso desanimado.

— Eu sabia que eras especial, mas não tinha ideia do quanto até hoje.— Ele sorriu mostrando os dentes que por incrível que pareça também eram perfeitos.— É preciso muita coragem para fazer o que tu fizeste, tu perdeste a pessoa que amavas e num espaço de um mês continuas a sorrir e a tentar viver, isso demonstra o quão forte és realmente.— Um sorriso envergonhado tomou conta do meu rosto e desviei o olhar do dele.

—Pode ser considerado coragem quando tudo o que faço é mentir para toda a gente ao dizer que estou bem e ao mostrar um sorriso falso para o comprovar?— Ele ficou pensativo com a minha pergunta e notei que não sabia o que dizer— Exatamente...eu não passo de uma farsa.

—Não! Desculpa mas não vou permitir que te insultes a ti própria. Ninguém te obrigará a estar feliz nem vai te censurar por demonstrar o quanto perder o Simon foi duro para ti. Se não te permitires a fazer o luto nunca vais conseguir superar essa dor, nunca vais conseguir amar de novo, sorrir genuinamente, serás miserável.

—Eu não quero amar outra vez... O amor para mim já não faz sentido, ele só nos traz dor. Amar não é para mim e nunca será.

—Nunca digas nunca, talvez encontrarás alguém que te possa fazer feliz e fazer-te voltar a acreditar no amor, nunca se sabe— Preferi não lhe responder e ignorar o que ele tinha acabado de dizer.— Alguém bonito, charmoso e talvez um bruxo?

—É pena ainda não ter conhecido ninguém assim...— Dei um sorriso sarcástico e quando levantei a cabeça os nossos olhos voltaram a cruzar-se e eu voltei a perder-me naqueles lindos e brilhosos olhos cor de mel...

Qual é o meu problema? Por favor preciso de saber!


Qual é o meu problema? Por favor preciso de saber!

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Não esqueçam da 🌟 isso ajuda imenso.

Espero que gostem ❤️ beijinhos

Uma Vida Magicamente OrdináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora