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🌻 Capítulo um:

Sabe aquele estado que nos encontramos quando estamos quase caindo de sono e ao mesmo tempo acordados o suficiente para escutarmos tudo o que está acontecendo ao nosso redor mesmo que de uma forma bem distante? Bom, eu me encontrava nesse "limbo" enquanto mesmo que estivesse quase babando de sono — ou realmente estivesse — ainda sentia o intenso calor que estava fazendo no dia por causa de minhas axilas suadas e o barulho do antigo ventilador de teto que estava produzindo um rangido chato e repetitivo.

Agora vamos lá, eu deveria estar desse jeito em pleno horário de trabalho? Não. Mas estava mesmo assim? Com certeza. Não era um exemplo a ser seguido por ninguém mesmo.

Trabalho na lojinha de floricultura que minha mãe abriu poucos mese depois que nos mudamos para Tropicália, nomezinho esquisito, né? É, eu sei. Pelo jeito fora inspirado quase cem por cento na música de Caetano Veloso.

Essa pequena cidade costeira que possuí menos de dez mil habitantes é onde eu moro com a minha família, que consiste em minha mãe e meu irmão mais novo que também equivale por um cachorro de porte médio.

Por aqui todo mundo se conhece e se não se conhece, provavelmente já viu a cara de todos no mínimo duzentas vezes durante a vida. É uma loucura morar nesse lugar, principalmente para uma garota como eu, já que a grande massa residente daqui é ligada a igreja, coisa que eu não sou por opção própria, mas isso é história para uma outra hora.

Ao sair do meu estado de torpor, levanto a cabeça do balcão onde estava deitada e limpo a baba que estava escorrida por ali juntamente com a do canto da minha boca. Credo, eu sou nojenta, mas a culpa disso não é minha e sim do meu nariz que entope quando eu deito.

Além de mim, o único outro ser vivo trabalhando na loja é Bruno Velasquez mais conhecido pelas redondezas como Ferrolho, que é um cara de vinte e três anos sem nenhum rumo na vida, apreciador da maior diversidade possível de plantas alucinógenas e considerado, assim como eu, uma das ovelhas negras dessa cidadezinha. E é justamente por isso que eu gosto dele, bom, talvez, tirando a parte das drogas, mas não o julgo.

Eu até hoje não entendo exatamente o motivo pelo qual mamãe o contratou, talvez porque ela seja uma pessoa muito boazinha e a mão de obra dele seja mais barata, não faço ideia, Ferrolho é um doido e tem justamente esse apelido porque uma barra de ferro que apareceu do nada caiu em sua cabeça quando ainda era criança, no meio de uma construção, que nem ele sabia o motivo de estar por perto.

Talvez seja por isso que quase sempre ele fala parecendo uma preguiça, igual a daquele filme da Disney, Zootopia. Ou, novamente, pode ser por causa das drogas.

Como já disse, poucas pessoas habitam a cidade, então o movimento da loja não é lá aquelas coisas, se eu fosse fazer uma estimativa da média, coisa que não é confiável vindo de mim porque sou péssima em exatas, eu diria que um total de oito clientes entravam na loja por dia enquanto eu estava atendendo, levando em conta que trabalho aqui de meio período ou quando mamãe precisa ir até outra cidade para renovar o estoque de plantas e flores, o que é quase lucro nenhum se você for pensar bem, mas somos a única floricultura por aqui, e tudo que não recebemos na loja, recebemos nos desfiles de primavera que ocorrem no começo da estação, ou em alguma arrecadação de fundos, em encomendas para casamentos, ou em maridos que se consideravam louváveis levando um agrado para as esposas cornas, enfim, o que eu quero dizer com tudo isso é que o movimento aqui é igual ao de um filme antigo de faroeste americano, se não fosse por mim e Ferrolho, uma bola de feno poderia passar voando por aqui facilmente. Contudo, ainda existe uma pessoa que é o nosso cliente mais assíduo por aqui.

Eu olho para o Casio prateado bem falsificado que está no meu pulso esquerdo, com muito esforço já que o bichinho com menos de dois meses de uso já está com a bateria morrendo, faltam três minutos para as quatro e meia da tarde, então já me coloco de prontidão, sentada decentemente no banquinho desnecessariamente alto, atrás da caixa registradora.

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