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🍩 Capítulo seis:

Conhecem o famoso píer de Santa Mônica, na Califórnia? Bom, digamos que aqui em Tropicália temos uma versão "baixa renda" do local. É bem bonito, talvez tão bonito quanto, mas a roda gigante que funciona apenas em datas comemorativas ou festas de arrecadação de fundos não chega nem aos pés daquela, mas também não é tão ruim assim.

Tropicália tinha sua beleza, o que estragava o lugar eram seus habitantes.

— Aqui, toma — Antônio apareceu minutos após ter saído para comprar raspadinhas para nós, me entregando um copo de plástico com um líquido azulado e voltou para o lugar onde estava antes, ao meu lado.

Nós tínhamos tentado surfar por no máximo uma hora, porque a paciência do garoto com certeza se esgotou completamente quando percebeu que eu não conseguia nem ficar sentada em cima de uma prancha de surfe sem tomar um caixote. Então após sua tentativa frustrada, desistimos e ficamos por um tempo conversando com Mae, que ainda estava por lá, sentada na areia. Na verdade os dois ficaram conversando e eu fiquei quietinha na minha, mesmo me sentindo feliz e em paz, não conseguia tirar a situação com Lucca da cabeça.

Maethe foi embora pouco depois e nós dois resolvemos dar uma volta no píer, já que não tinha muito o que fazer. O lugar estava praticamente vazio, assim como a praia. Então éramos só nós dois.

Eu não sabia como me sentir perto de Antônio, no começo, era fácil apenas implicar com ele e o ignorar, agora, eu poderia dizer que estamos até nos tornando amigos ou algo do tipo. Mas eu continuava sendo insegura demais comigo mesma para afirmar qualquer coisa sobre a relação entre nós dois.

— Você ainda não me contou o motivo de estar aqui. — Encostei minha cabeça no banquinho branco ao meu lado e o olhei.

Sei que já disse milhões de vezes o quanto Antônio é bonito, mas é quase impossível não reparar, ele estava de olhos fechados, apoiado em seus próprios braços que estavam para trás de seu corpo, cabeça erguida, recebendo a luz do sol em sua pele morena, que praticamente reluzia.

Não sei exatamente por quanto tempo eu poderia ficar o observando assim, desse jeito, mas chutaria que por muito.

Quando ele abriu os olhos de repente e me flagrou o secando, minhas bochechas devem ter ficado ainda mais vermelhas do que estavam por conta do sol quente, o homem riu e tomou um pouco de sua raspadinha de abacaxi.

— Você é muito curiosa — Disse e eu dei de ombros, ainda meio sem graça por causa de segundos atrás. — Quando eu terminei o ensino médio ainda não tinha certeza do que queria fazer da vida, sabe? Faculdade e tals, então fiz um tipo de acordo com o meu pai — ele fez uma pausa e ergueu as sobrancelhas. — Antes de continuar, preciso te situar que o meu pai é tipo um ricaço dono de várias empresas, você ficaria surpresa se o conhecesse, o cara é igual a um robô, não sei como foi criado pelos meus avós — bufou e a forma como ele falava de seu pai com amargura me fez pensar que eles não se davam nem um pouco bem. — O acordo era tipo, ele me deu cinco anos para que eu fizesse tudo que eu quisesse, viajar, me dedicar ao surfe, morar fora... E foi tudo que eu fiz...

— Ué, mas... Se ele te deu cinco anos, a conta não bate com a sua idade, não é?

— Calma apressada — Ele jogou uma pedrinha que estava por ali em mim e eu mostrei minha língua para ele em resposta, como uma criança. — Já ouviu falar que quem dá língua pede beijo?

— Eu nunca beijaria você, Antônio Neto... — Afirmei. — Agora continua com isso logo! — Disse de forma autoritária querendo mudar logo de assunto antes que eu ficasse sem graça.

— Ok, ok pulga, eu vou lembrar disso que você disse, hein?! — Revirei os olhos, odiava quando as pessoas começavam a me contar algo e ficavam enrolando para terminar, eu ficava me coçando de curiosidade. — Eu e meus amigos estávamos voltando de uma festa em Venice quando resolvemos ficar lá por uns meses, tava bem tarde da madrugada e a gente tava super chapado, eu tava dirigindo e não sei até hoje o que rolou, mas perdi o controle do carro e batemos com tudo em um caminhão que vinha na direção oposta.

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