🍩 Capítulo dois:
seis meses depois
— Acorda, acorda, acorda! — Uma vozinha chata, insistente e entusiasmada gritava no fundo do meu sonho, onde eu estava prestes a lamber o tanquinho de Zayn Malik, mas antes que eu pudesse consumar o ato alguma coisa pulou em cima de mim com tanto ódio no coração, que eu dei um pulo da cama e caí no chão, com falta de ar.
— CARLINHOS! — Dei um berro caída no chão igual uma louca, de blusão e calcinha, com o cabelo todo na cara e as minhas cobertas emboladas pelas minhas pernas.
— PRIMEIRO DIA DE AULA, PRIMEIRO DIA DE AULA! — E o dito cujo que eu era obrigada a chamar de irmão caçula saiu correndo para fora do meu quarto, largando a porta aberta no processo.
Fiquei alguns minutinhos sentada no chão refletindo o porquê de eu ter um celular com despertador se eu já tinha um irmão hiperativo.
Depois de um tempo para deixar minha alma retornar ao meu corpo, suspirei. Último primeiro dia na escola da minha vida. Isso não era pouquinha coisa. Faltava menos de um ano para eu poder ir embora daqui. Finalmente.
Me levanto e pego tudo o que eu já havia separado no dia anterior e vou para o banheiro, tomando um banho morno rápido e me enfiando no uniforme da escola, que não era nada mais do que a minha calça preta preferida e uma blusa de mangas curtas também preta, com a logo da escola, que era a imagem de uma onça pintada... Como se houvessem onças pintadas no Rio de Janeiro... E meus velhos tênis brancos.
Passo no quarto novamente apenas para pegar minha mochila já organizada e vou até a cozinha, onde a peste do meu irmão está sentado na mesa devorando um misto quente maior que o meu punho fechado, às sete horas da manhã.
— Bom dia. — Resmungo, enquanto coloco leite gelado em uma caneca que ganhei de presente do vovô, para fazer um achocolatado.
— Bom dia minha filha. — Mamãe beija minha cabeça e volta a guardar algumas louças. — Quinze minutos e vocês ainda precisam escovar os dentes...
Bom, a cena que ocorre a seguir não tem muito sentido se você tiver a informação de que eu tenho dezoito anos de idade e meu irmão caçula apenas dez, mas mesmo que não faça sentido e que eu devia ser mais madura para a minha idade, viro a caneca tomando o achocolatado que tinha feito na velocidade da luz, ao mesmo tempo que Mini Carlos enfia quase metade de seu pão dentro da boca e se levanta, correndo junto comigo. Tropeçamos um no outro pelos corredores estreitos de nossa casa e esbarramos nas paredes, nos empurrando como se a nossa vida dependesse disso. Consigo chegar no banheiro primeiro e meu irmão quase rosna para mim por isso, por ter perdido a corrida, levanto o dedo do meio para a criança e sou repreendida por mamãe que passa por ali, mas eu não me importo.
Ganhei a corrida até o banheiro de hoje, então isso quer dizer que o dia que me espera iria ser magnífico, ou eu pelo menos esperava que sim.
*Só há uma escola nessa cidade minúscula e eu vou dizer pra vocês, isso aqui é um inferno repleto de adolescentes fofoqueiros e venenosos. Digo isso, porque quando mamãe deixa eu, meu irmão e minha melhor amiga que pegou uma carona conosco, na frente do portão, todos os olhares se dirigem a nós.
Não a nós três especificamente, e sim a Maethe, que ostenta uma barriga nada discreta de quase cinco meses de gestação.
Carlinhos é extremamente disperso e assim que vê seu grupinho de amigos viciados em videogame, saí correndo até eles, nos deixando sozinhas. Não que uma criança de dez anos pudesse nos defender de alguma coisa realmente, mas quanto mais gente melhor, né?
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Entre Flores & Donuts
Teen FictionUma história sobre encontrar coragem dentro de si, sobre amizades reais, sobre se abrir para o verdadeiro e saudável amor mesmo que isso confunda sua cabeça e sobre o doloroso processo de amadurecimento pelo qual todos passamos em nossas vidas. Cori...