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🍩 Capítulo oito:

O mês de abril chegou trazendo o início do campeonato de natação, e com isso uma das coisas mais legais que acontecia por aqui pela cidade, a arrecadação de fundos para ajudar os meninos da equipe irem para outra cidade para competir. Barraquinhas eram dispostas por todo o píer e durante três dias os brinquedos do parque ficavam disponíveis para uso.

Mamãe ficava a flor da pele quando essa época chegava, porque ela como única florista da cidade ficava responsável por grande parte da decoração e também de uma barraquinha que abríamos todos os anos para os apaixonados jogarem um joguinho tosco de derrubar latinhas e ganharem um buquê para suas amadas.

Tão romântico que chega me dava enjoo.

Era uma quinta-feira e estávamos todos na loja contando o estoque, organizando o orçamento e anotando tudo o que seria usado. Estávamos até bem organizados, mas não era por menos, amanhã já era o primeiro dia do festival de arrecadação.

Enquanto Ferrolho carregava a maioria das flores que já haviam sido separadas para o caminhão de um morador que estava nos ajudando com o transporte, eu estava sentada no chão, com um caderno em mãos e fazendo continhas nos dedos, anotando tudo que estava saindo.

— O dia por aqui está agitado — Como a porta estava aberta por causa do carregamento, não percebi a chegada de vovô Antônio.

Levantei-me e o abracei, beijando sua bochecha.

— Agitado? Tá um caos, tenho certeza que se o senhor for lá atrás no estoque, mamãe vai estar arrancando os próprios cabelos. — Rimos. — Eu já deixei o seu buquê separado por aqui... Aqui, achei — Peguei o típico buquê de girassóis que o vô sempre levava para enfeitar o túmulo de Cora e o entreguei. — Não precisa pagar hoje, o orçamento já tá fechado e a loja nem era pra tá funcionando.

Peguei o caderno que tinha deixado aberto pelo chão e deixei em cima do balcão para que mamãe pudesse pegá-lo depois e conferir se estava tudo ok.

— Vocês vão precisar de ajuda amanhã? — O idoso perguntou, como quem não queria nada.

— Ajuda nunca é demais, seu Antônio — Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, mamãe saiu do cômodo do estoque com uma caixa de orquídeas nos braços.

— Vou conversar com o Neto para que ele fique na barraquinha com vocês.

— Não! — Minha voz saiu tão alta que além de o assustar, eu mesma me assustei.

Desde o dia da crise de pânico o clima entre Antônio e eu ficou estranho, pela situação, pelo quase beijo, pelo meu pedido desesperado de acalento, por tantas pequenas coisas daquele maldito dia estávamos afastados, mal nos falávamos nas sextas-feiras de pizza, não saímos mais juntos e a única coisa que ele fazia era me mandar uma mensagem de vez em quando perguntando se estava tudo bem, eu sempre respondia que estava levando e a conversa parava por aí. Por esse motivo, eu preferia evitar contato, já que parecia que ele estava fazendo o mesmo.

— Desculpa — Passei a mão em seu ombro. — Não precisa, vô, sério, a gente dá conta. — Ergui os polegares e abri um grande sorriso que eu esperava se convincente.

— Ele vai estar no píer com vocês amanhã a noite. Até amanhã, Cora.

E então o idoso saiu da loja apressado, me deixando com uma cara de tacho e sem tempo para retrucar.

*

— Quer?

Olhei para o lado e uma maçã de amor quase devorada por completo estava estendida em minha direção, neguei com a cabeça e Maethe deu de ombros, como quem dizia "oba, sobra mais para mim".

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