🍩 Capítulo onze:
O resto dos dias da arrecadação de fundos passou tão rápido quanto chegou, deixando-me em uma noite cheia de coisas para se pensar desde uma semana atrás.
No começo, Lucca era pra ser só alguém com quem eu me distrairia e de quebra magoaria Melissa se por ventura ela descobrisse nosso envolvimento, mas de uns tempos para cá tenho andado confusa em relação aos meus sentimentos por ele, talvez eu esteja apenas trocando os pés pelas mãos porque quem sempre havia possuído sentimentos era ele então por eu estar me sentindo perdida, magoada e machucada por tudo que aconteceu durante esses anos, eu esteja internamente projetando minhas necessidades amorosas para a única pessoa com quem eu me envolvia. Algo dentro de mim sabia que eu não gostava dele de verdade, agora só precisava que eu entendesse isso completamente.
Agora uma coisa totalmente fora dos meus planos e que estava me deixando fora de órbita era Antônio. Ee era uma das pessoas mais bonitas que eu já tinha visto na minha vida e também uma das pessoas mais alternativas, com suas tatuagens, seu piercing de argola na orelha, os cachos enormes e todas as histórias de suas viagens, tão bonito por fora quanto eu estava conhecendo que era por dentro... Não entendia porque alguém com tanta bagagem se interessaria por uma caipira como eu, talvez ele estivesse só procurando um passatempo para que esse ano em que estava de "castigo" passasse o mais rápido possível e ele conseguisse dar um jeito de burlar o acordo com o pai. Todos os dias eu recebia mensagens dele, as vezes era só algo engraçado como um meme, outras vezes virávamos a madrugada falando sobre jogos, livros, filmes, música e suas viagens, ele me mandava suas músicas preferidas e eu o fazia experimentar outras. Por que ele estava gastando tanto tempo da sua vida comigo? E não dava pra dizer que só envolvia amizade porque quase nos beijamos duas vezes.
Isso era loucura! O garoto da cidade grande, bem vivido, querendo ter algo com uma caipira sem rumo?
Completamente fora de cogitação.
Era quarta-feira, por volta das duas da manhã. Eu estava deitada de pijamas na sala, assistindo pela milionésima vez "10 Coisas Que Eu Odeio em Você", devorando uma travessa de brigadeiro sozinha e bem enrolada na minha cobertinha felpuda junto com meu Donut, não estava conseguindo dormir de jeito nenhum, eram coisas demais na minha cabeça...
A luz da sala foi acesa do nada e eu virei rapidamente minha cabeça na direção do interruptor achando que um espírito zombeteiro havia finalmente vindo me buscar, mas era apenas mamãe com uma cara de sono amassada, vestida em seu robe cor de pêssego.
- O que você tá fazendo acordada a essa hora, minha filha?
Dou de ombros e desvio o olhar dela.
Eu já dei muito trabalho para mamãe, muito prejuízo e dor de cabeça. De todas as pessoas dessa cidade que falavam coisas horríveis pra mim e deixavam bem claro o que pensavam sobre a minha pessoa, a única que eu não sabia como se sentia com toda essa situação era a minha mãe, que eu sabia que era também uma mulher com os próprios demônios para enfrentar. Tentava ao máximo guardar os meus problemas dentro de mim, para não acabar a sobrecarregando, já que ela trabalhava demais para sustentar meu irmão e a mim.
Ela se aproximou devagarinho e se sentou ao meu lado no sofá, mamãe olhava para a televisão assim como eu, parecíamos tentar evitar uma conversa que não tinha mais como ser deixada para lá.
Olho para mamãe e penso no quão doentio devia ser ficar presa a um homem como aquele, ela fazia terapia até hoje aos sábados e ainda precisava tomar remédios para dormir e só depois de alguns anos sua aparência havia voltado a ser como era nas fotos que eu via de sua adolescência, os cabelos escuros bem maiores que os meus batiam em seu peito e estavam bem cuidados e tratados, suas olheiras eram menores e seus olhos muito mais azuis do que os meus, pareciam bem mais vívidos, mamãe era uma mulher linda, com um corpo de modelo ao qual não puxei nem um pouco, apenas na altura. O que mais me doía era saber que Carmen não podia arranjar outro companheiro porque ninguém se submeteria a ser o padastro da garotinha corrompida. Essa era a verdade, mamãe nunca arranjaria alguém para amá-la e a tratar como merece por minha causa. Esse era mais um dos motivos pelo qual eu queria ir embora.
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Entre Flores & Donuts
Novela JuvenilUma história sobre encontrar coragem dentro de si, sobre amizades reais, sobre se abrir para o verdadeiro e saudável amor mesmo que isso confunda sua cabeça e sobre o doloroso processo de amadurecimento pelo qual todos passamos em nossas vidas. Cori...