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🌻 Capítulo dez:

— Você sumiu. — Foi a única coisa que eu disse a Antônio depois de alguns segundos encarando o apertão em meu pulso que deixaria hematomas futuros.

— Você tá brincando comigo, Corine? — Sua voz se elevou, ele parecia irritado e frustrado.

Meu Deus, o que tá acontecendo hoje para que os homens simplesmente surtem comigo?

— Não, eu... — Falei baixinho, não queria que ele não gostasse de mim também. — Me perdoa...

Aconteceu tão rápido que eu não tive como reagir ao meu corpo sendo puxado de encontro com o do garoto a minha frente, ele me envolveu apertado em seus braços musculosos e descansou a cabeça em cima da minha. Me aconcheguei em seu peito quente que tinha o cheiro do perfume masculino delicioso dele e deixei com que as lágrimas continuassem a cair.

— Você me assustou, por isso eu sumi — Começou a falar, ainda me apertando contra si mesmo. — Você teve uma crise de pânico e mal reagiu, deixou aquela garota falar coisas horríveis de você e nem tentou se defender como sempre faz comigo quando eu te perturbo, nem se mexeu enquanto aquele garoto parecia prestes a te bater...

— Eu não sinto mais nada — Respondi, as lágrimas descendo pelo meu rosto igual uma avalanche. — Eu me odeio! Odeio esse lugar, odeio essas pessoas... E eu não sei mais o que fazer...

— Ei, ei... — Antônio tocou os dois lados do meu rosto, que deveria estar inchado e vermelho de uma forma monstruosa, e me virou para ele fazendo um leve carinho com o dedão em minhas bochechas. — Não consigo imaginar a bagunça que está ai dentro, mas quero que você saiba que estou aqui, disposto a ajudar você e...

— Você me abandonou na primeira oportunidade que teve.

— Prometo nunca mais fazer nada do tipo.

Ele então me soltou e meu peito se apertou quando perdemos o contato físico, seu dedinho mindinho foi erguido em um gesto infantil e no meio das lágrimas salgadas que escorriam para dentro da minha boca, eu precisei rir, logo levantando meu dedinho também e enroscando no dele.

Agora estávamos ligados por essa promessa que fora selada.

*

— Antônioooo, para com essa merda, vai logo!

Pouco tempo depois da nossa promessa de dedinho, eu tinha me acalmado, lavado o rosto no banheiro do píer e saído de lá como se nada tivesse acontecido. Então Antônio e eu decidimos que era nosso direito curtir o parque um pouco, então aqui estamos nós agora, perto da roda gigante onde Antônio havia empacado igual uma mula e não saía do lugar de jeito algum.

Para quem via de fora a situação deveria estar ridícula, uma pessoa de um metro e meio tentando empurrar outra quase quarenta centímetros mais alta pelas costas, eu estava fazendo todo o esforço possível, mas ele nem se mexia.

— Você surfa ondas gigantescas, qual o problema com uma roda gigante? — Encostei minha cabeça em suas costas musculosas e revirei os olhos, percebendo que empurrá-lo seria em vão.

— É bem diferente.

— Não é não, qual é?! Vamos! Faz um esforçinho por mim... — Pulei em sua frente e fiz a cara mais fofinha que eu conseguia para ele, com beicinho e tudo.

Antônio revirou os olhos, mas tinha um sorrisinho bobo pelos lábios.

— O que você não me pede rindo que eu não faço chorando...

— Você tá passando muito tempo com o vô, tá falando essas coisas de velho que nem ele já. — Ri.

— Deixa só ele ver você o chamando de velho...

— Minha palavra contra a sua!

Antônio me deu língua e por fim fomos para a fila da roda gigante que brilhava repleta de luzes coloridas, estávamos atrás de pouquíssimas pessoas então logo chegaria a nossa vez. Olhei de rabo de olho para o garoto ao meu lado, ele estava coçando a nuca, gesto que fazia quando estava tenso.

Como quem não quer nada peguei em seu braço escorrendo minha mão até a sua até estarmos com elas dadas. Ele olhou para o meu gesto e depois para mim, com as sobrancelhas arqueadas.

— Isso é só pra você não ficar com tanto medo, ok?

Antônio ficou quieto. Logo chegou a nossa vez, passamos pelo homem controlando o brinquedo e sentamos em um dos bancos ainda de mãos dadas.

Quando a coisa começou a subir, ele apertou com força a minha mão, o que eu achei um pouco engraçado porque estava acreditando que toda aquela coisa de medo de altura era um exagero, mas pelo visto era sério.

— Dá pra ver sua casa daqui — Ele apontou para um pequeno pontinho azul bem distante quando chegamos no topo e o brinquedo parou.

— Dá pra ver a cidade toda daqui — Respondi com um tom meio amargo. — É tudo tão pequeno...

— Tão diferente da cidade grande... Você precisaria de umas cinquenta dessa daqui pra conseguir enxergar o limite de cada lugar.

— É por isso que eu quero tanto ir embora... — Comentei baixinho.

— Só por isso?

— Como se você já não soubesse a minha história... E o que falam de mim por aqui...

— Vovô só comentou por cima e disse que inventaram mentiras sobre você. — Estávamos nos encarando, o olhar de Antônio estava tão intenso que fazia meu coração palpitar de um jeito esquisito.

— Essa que é a verdade, são mentiras — Dei de ombros ainda o olhando.

Então ele abaixou a cabeça aproximando-se cada vez mais de mim ao passo que eu fazia o mesmo, como se estivesse sendo atraída por um ímã, encarando sua boca vermelhinha e molhada pensando se nosso beijo teria gosto de chiclete de canela, já que ele sempre vivia mascando algum. Quando os nossos narizes já estavam se roçando e eu não sabia mais distinguir qual respiração era a de quem, a roda gigante começou a rodar novamente, fazendo com que Antônio deve um leve sobressalto e se afastasse. Meu coração errou algumas batidas e eu voltei a encostar as costas no brinquedo.

Quando a roda gigante parou, nós saímos, mas agora sem estar com as mãos dadas. O clima estava estranho e andávamos um pouco distantes um do outro.

— Quer um algodão doce? Eu pago. - Antônio quebrou o silêncio, abri o maior sorriso do mundo e ele me seguiu. — Vou interpretar isso como um sim.

Sua mão roçava na minha enquanto caminhávamos até o carrinho de algodão doce, para confundir mais ainda a minha cabeça, ele as entrelaçou novamente fazendo parecer que éramos apenas mais um casal passeando por ali.

Depois do algodão doce, fomos até o carrinho bate-bate e jogamos alguns jogos bobos, Antônio ganhou um gatinho de pelúcia idêntico a Donut e me deu, então nosso tempo acabou e eu precisei voltar para o último turno na barraquinha, ele, que quando chegou disse que queria ir embora logo continuou trabalhando comigo até as festividades terminarem e encerrarmos o funcionamento da barraquinha.

E a noite terminou assim, o único beijo que ganhei foi um na testa, quando Antônio me deixou na porta de casa com o coração batendo a mil.

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Entre Flores & DonutsOnde histórias criam vida. Descubra agora