Prólogo.

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Um dia antes das semi-finais.

As ventanias do outono chegaram mais cedo em Bellsville, as folhas alaranjadas das árvores caíam em abundância naquele fim de tarde.
Os portões enferrujados do cemitério da cidade rangiam como nunca, enquanto as correntes pesadas selavam a entrada e a saída daquele lugar.

Um senhor de idade caminhava entre as covas e as criptas, "Jeffrey" era o nome escrito em seu uniforme, um dos únicos coveiros restantes; trabalhando naquele cargo há mais de trinta anos.
Checou o relógio em seu pulso, e se assustou com o horário, já havia passado da hora dele fechar toda aquela área e ir para casa.
Por algum motivo em especial, Jeffrey nunca ficava em seu local de trabalho até tarde, sua família tomava conta do cemitério há gerações, e aquela pequena superstição esteve presente em cada uma delas.

Se apresou, pegando os cadeados nos bolsos de seu macacão, caminhando até o enorme portão de entrada dali, e puxando as correntes de uma vez só. Com dificuldade, abriu uma brecha entre os gradeados de ferro, passou, e empurrou com uma dosagem maior de força, arrastando os portões até eles se juntarem novamente.
Envolveu as correntes entre as grades, e finalizou, pondo um dos cadeados ali. Jeffrey estava com medo, e por isso, nem se atreveu a arrodear o terreno e fechar os portões dos fundos.

Caminhou até o seu veículo, uma caminhonete de coloração marrom. Puxou as chaves do bolso, e em poucos segundos adentrou no automóvel, dando partida e saindo dali.

Alguns minutos depois, o sol sumiu no horizonte, e o céu se escureceu. Já era noite, e as ventanias continuavam intensas.
Uma leve neblina pairava sobre os túmulos, e a má iluminação do lugar só o tornava ainda mais fantasmagórico, enquanto o silêncio prevalecia.
De repente, um ruído quebrou a quietude do ambiente, parecia ser um pequeno som de arranhões que foi se tornando cada vez mais barulhento. Em uma fração de segundos, o ruído se tornou incrivelmente alto, e cessou logo em seguida.

Os grãos de areia tremiam sob a terra, era quase como se houvesse um pequeno terremoto causando aquilo.
Então, surpreendentemente, uma mão saiu de dentro de uma passagem de terra no chão, se erguendo de maneira poderosa.
Uma mão com dedos longos e podres, que se remexeu até formar uma passagem de terra ainda maior. Em alguns minutos, o ser que procurava sair da cova já se encontrava quase inteiramente liberto, dependendo apenas de sua perna esquerda para sair daquele buraco.

Possuía uma altura mediana e se assemelhava a um humano, não tinha tantos músculos, tendo uma estrutura quase esquelética. Seu tom de pele era esverdeado, mas ainda sim, cinzento. Não tinha cabelo, apenas resquícios de um; com fios arrepiados preenchendo metade de sua cabeça. A outra metade estava em aberto, deixando sua cinzenta massa cerebral a mostra. Sua arca dentária era precária, com dentes amarelados expostos por conta de sua mandíbula decomposta. Enquanto a pele de um dos lados de seu rosto estava podre, a outra, se encontrava em melhor estado.

Aquele ser amedrontador repuxou desengonçadamente sua perna dali, a puxando com tanta força que largou seu pé esquerdo, trazendo consigo apenas seu membro, e deixando seu pé ali, preso no buraco. Apesar de ter perdido uma de suas partes corporais, ele sequer pareceu sentir dor ou remorso.
Encarou a lápide de seu próprio túmulo por alguns minutos; "Raul Caulson", era o que estava escrito.
Gemeu baixo, se movendo para frente, caminhando mesmo sem um dos pés. Além de seu corpo em estado de decomposição, ele também possuia uma outra característica anormal, a coloração de seus olhos, uma espécie de vermelho escarlate.

Parou e olhou para cima, observando a lua cheia, e rugindo alto como um animal. Se assemelhando a um lobo uivando e contemplando a lua, antes de começar sua caçada noturna.

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