CAPÍTULO 0

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POR HECTOR ..

A noite parece caótica na babilônia, com minha visão periférica, percebo as  pessoas ao redor como borrões ou uma imagem levemente desfocada, dançarem esfregando seus corpos  suados deliberadamente uns nos outros enquanto que uma música  eletrônica qualquer fazia nossas mentes embriagadas e entorpecidas, viajarem com batidas rítmicas e fortes.


Eu me encontrava em um estado de êxtase, tomado por uma sensação de formigamento que surgia desde a ponta dos dedos dos pés até a parte superior do meu corpo, que inclusive parecia vibrar a cada segundo que se passava e a cada batida descompensada do meu coração que é incapaz de bombear sangue o suficiente ao meu cérebro para impedir os efeitos do comprimido colorido que ingeri a algumas horas atrás,  o efeito alucinógeno me faz enxergar tudo mais lentamente, sentir tudo mais detalhamento, a sensação de uma felicidade sem sentido, euforia e uma ansiedade pelo desconhecido, um copo de plástico com um líquido que eu não sabia identificar repousava em minhas mãos porém eu ainda sentia uma necessidade de afastar aquela sensação de boca seca, pisco algumas vezes e respiro tão profundamente que quase escuto o ar entrando fazendo meu peito chiar, minha mente se encontrava nublada, levando meu corpo a acreditar na mentira de que eu estava sobre nuvens de chuva,  energizadas e carregadas prestes a se desfazer em uma grande tempestade porém era só as luzes e os efeitos pirotécnicos da boate  confundindo minha cabeça e fazendo meu corpo quase entrar em colapso.

Eu não fazia ideia de quantas horas  eu estava dançando junto do aglomerado de pessoas como  também não fazia ideia de que horas que eu havia chego junto dos meus amigos depois de um dia longo de trabalho, essa era minha rotina todos os fins de semana desde que eu peguei meu ex namorado, o homem que pensei ser o amor da minha vida,  me traindo com uma puta que também era minha amiga.  Diga-se de passagem, no mínimo seria trágico se não fosse cômico, mas como um sinal, toda essa situação me serviu como um empurrão, algo que me fez acordar de um pesadelo, eu não me sentia mal pela traição e nem pelo término apesar de nunca mais querer ver nenhum dos dois pelo restante da minha vida.

Na verdade eu só não conseguia sentir nada pois eu tinha noção que o que tinhamos não era mais amor,  era somente carência e resquícios de um relacionamento que um dia já existiu entre nós dois porém éramos muito orgulhosos e apegados de mais  um ao outro, reconheço que fui  fraco, éramos fracos  de mais para admitir que não dávamos mais certo juntos.

Naquele momento que eu me permitia  caminhar entre as pessoas no salão daquela boate, eu só pensava no meu objetivo que era chegar até o bar e tomar mais uma dose do líquido bordo que me fazia tremer por dentro e esquecer as histórias trágicas que compunham minha vida e até talvez, se eu me esforçasse um pouco e deixasse a embriaguez menos evidente,  conseguiria ganhar um meio sorriso do carinha sexy com gravata borboleta que servia drinks.

No balcão, enxergo de forma meio turva o copo transparente com gelo e cheio de álcool em minhas mãos, eu me sentia pronto para mais uma onda colossal dos  prazeres alucinógenos que aquela bebida amarga e o comprimido colorido causariam ao meu cérebro, em minha mente, o mundo ao meu redor estava mais brilhante, colorido e alegre diferente do meu cotidiano sem graça e chato.  Acabo meio que rindo sozinho com meus pensamentos.

Antes de mandar mais uma dose do líquido bordo goela a baixo, olho de relance para um homem em específico sentado perto de um grupo de pessoas bem na ponta onde o balcão de madeira do bar se juntava ao alicerce da parede pintada de um vermelho rubro, apesar da  distância entre nós e da minha clara embriaguez, noto que o homem se encontrava muito bem vestido e girava sensualmente um cigarro acesso em seus dedos longos e tatuados  repletos de anéis enquanto que em  sua outra mão livre descansava um copo de whisky pela metade.

Fico surpreso ao levantar meus olhos preguiçosamente até seu rosto e reparar que eu era seu alvo, ele me olhava diretamente nos olhos, penso está alucinando, ele obviamente estava flertando com alguém atrás de mim e eu claramente estava em seu caminho, mas algo me estiga, me  força a manter nosso contato visual que parece durar longos segundos ou minutos até alguém me tirar daquele transe estranho que eu acabei entrando ao se apoiar em mim sobre o balcão já completamente encharcado de bebida falando algo que me é incompreensível  para  o barman que concorda, engulo com dificuldade a saliva espessa  em minha  boca e com as costas das mãos limpo meus olhos doloridos afastando a ligeira impressão de que ele parecia sujo de sangue, nada fazia muito sentido naquele momento.

O relógio preso em meu  pulso anunciava que iria dar cinco e trinta e cinco da manhã, horário que meu corpo parece dar seus primeiros sinais de exaustão, então só sigo o eco do meu subconsciente que me obrigava a tirar uma nota amassada de cinquenta dólares do bolso e entregar junto da minha comanda ao barman que sorri em minha direção quando nos encaramosvpor brevês segundos quase me desmotivando a ir em direção a plaquinha vermelha e brilhante escrito EXIT acima das portas duplas a alguns metros de distância de nós.

Saio daquele ambiente abafado que cheirava a sexo e cigarro,  subo algumas escadas dando de cara com uma Los Angeles prestes a amanhecer, os primeiros raios de sol se empremiam procurando lugar e afastando a escuridão através dos altos prédios e grandes edifícios comerciais do centro.

Entre o fluxo intenso de veículos, faço sinal para o primeiro taxi que vejo, entrando no veículo  me ajeitando de qualquer jeito no banco de trás passando rapidamente o destino adormecendo no  caminho até em casa.




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