Felicidade

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Marinette olhava para as amigas, certificando-se de que todas estavam dormindo. Sem sono, a azulada caminhou lentamente e em silêncio até a varanda, tomando cuidado para não acordar as meninas, que dormiam nos diversos colchões espalhados pelo chão, assim como ela.
Ao chegar na varanda, lembrou das conversas que tivera com as amigas sobre a época que fingia namorar Chat Noir. Nem parecia que aquilo acontecera há um mês. Tanta coisa tinha acontecido depois... Começou a se aproximar de Adrien como amiga, mas não demorou para que os dois percebecem que queriam mais, porém, imaginando que ele estava com Kagami, a azulada precisava se contentar com a amizade. E, ao mesmo tempo, recebia as visitas de Chat Noir em sua varanda. Ela lembrava de suas conversas, dos filmes que assistiram juntos, das risadas e da vez que quase se beijaram.
Lembrou, sorrindo, do dia em que ela e Adrien também quase se beijaram no carro dele e que, alguns dias depois, o loiro ousou lhe perguntar se ela queria que o beijo não tivesse sido só pela metade. Naquele mesmo dia, quando já tinha anoitecido, Adrien foi à sua casa e a chamou para ir ao cinema. Era incrível lembrar cada detalhe daquela noite. O perfume que ele usava, seu cabelo levemente bagunçado por causa do vento forte que surgiu no caminho entre a casa dela e o cinema. O misto de nervosismo e felicidade que ela sentiu quando ele lhe contou que era só amigo de Kagami. Seus lábios macios chocando-se contra os dela quando ela disse que não queria que aquele beijo tivesse sido só pela metade...
E então, as identidades foram reveladas e ela descobriu que os dois garotos que tinham roubado seu coração eram a mesma pessoa.
Marinette sorria com a lembrança, mas seu sorriso se desfez ao recordar a distância que os afetava no momento atual e ao sentir que boa parte da culpa por aquilo ter acontecido era dela.
Precisava seguir os conselhos de suas amigas e sua própria intuição e falar com ele. Não apenas conversar sobre outras coisas e fingir que estava tudo bem, como sempre fazia. Mas entender o que os afastou tanto e a razão de ainda sentir um aperto no peito ao pensar que Adrien quase tinha sido akumatizado. Precisava superar de vez aquele medo que a atormentava desde o dia em que Chat Blanc voltou à sua mente.
Decidida a parar de deixar tudo para depois, ela se transformou e, sentindo a brisa gélida da madrugada tocar sua face, saltou sobre os telhados até chegar à mansão Agreste. Encontrou o namorado observando a noite nublada de Paris através da grande janela de seu quarto, parecendo tão pensativo quanto ela estava naquele momento.
Porém, ele sorriu ao vê-la se aproximar. Pediu que ela esperasse e se certificou de que Nathalie não a veria — embora ela provavelmente já estivesse dormindo — fechando a porta do quarto em silêncio.
— Oi. — Ele sussurrou ao abrir a janela e Marinette desfez a transformação. Tikki se afastou e, repousando sobre uma almofada ao lado de Plagg, adormeceu rapidamente.
— Espero que ela me desculpe por ter interrompido o sono dela... — Marinette falou, rindo sem humor. Talvez pelo olhar que Adrien a lançou, a azulada percebeu que ele devia estar estranhando aquela visita repentina, principalmente de madrugada.
Ele sentou no sofá e ela fez o mesmo, ambos perguntando-se como começariam a falar.
— Eu preciso conversar com você.
— Eu preciso conversar com você. — Disseram juntos e riram levemente.
— Pode começar. — A azulada falou, dando espaço para que o loiro finalmente libertasse os diversos sentimentos guardados em relação a vários assuntos.
Falou sobre a solidão que sentia naquela casa, apesar das tentativas de conversa de Nathalie.
— Ontem ela tentou falar comigo depois do jantar, perguntou como estava na escola e se eu estava bem, mas eu não consegui falar a verdade. Fiquei tanto tempo esperando que o silêncio dessa casa sumisse de vez e, quando tenho a oportunidade, não consigo.
Explicou sobre dificuldade que estava tendo para expressar o que sentia nos últimos dias e Marinette o compreendeu, pois também estava se sentindo daquela forma.
Adrien passava o olhar de seus próprios pés para os olhos azuis de sua amada, sentindo um certo alívio por finalmente libertar o que sentia.
Quando começou a falar sobre o pai, a azulada sentiu um aperto no peito ao ver que ele segurava as lágrimas.
— Então eu percebi que o problema é que eu tenho evitado esse assunto até de mim mesmo. Sempre que o meu pai aparece em meus pensamentos, eu começo a pensar em outra coisa. Eu achava que fazia a coisa certa, que estava evitando sentimentos negativos, mas toda vez que alguém perguntava sobre ele, eu sentia que devia contar, parar de guardar tudo para mim, sabe? Mas não dava. Acho que justamente por não pensar nele, eu não conseguia sequer falar sobre isso com alguém... — Ele fez uma pausa para recuperar o ar. — Eu ainda não entendo por que estou assim. Caramba, faz mais de um mês que descobrimos que ele era o Hawk Moth! Mais de um mês daquela batalha ridícula que ele mandou a Nathalie akumatizada para nos distrair enquanto ele fugia de nós, fugia de pagar pelos seus erros, fugia de ao menos tentar explicar para mim por que fazia aquilo. Ele disse naquele bilhete idiota que fez o que fez para trazer nossa felicidade de volta... Como? Abandonando a todos e fugindo para sei lá onde? — Adrien suspirou — E eu fico aqui... com raiva por estar me preocupando com ele, me perguntando se ele vai voltar ou se já voltou e eu não sei, me perguntando o que vai acontecer se ele resolver aparecer aqui, se vou conseguir sequer lutar com ele por causa de duas jóias mágicas que eu nem sei por que razão ele quer tanto. — O loiro colocou as mãos sobre o rosto e Marinette o abraçou, deixando que ele libertasse as lágrimas que tanto insistiam em cair.
— Desculpa, eu devia ter estado ao seu lado, eu sabia que era um momento complicado e... — Ela falou, o abraçando. Iria continuar, mas foi interrompida.
— Tudo bem, você também estava lutando contra os seus problemas... — Disse o loiro, desfazendo o abraço e a encarando como se dissesse "sua vez".
— Nem sei como começar... — Adrien tocou sua mão e ela puxou o ar antes de lhe contar sobre seus receios que tanto os afastou. — Eu... nem sei se posso te contar isso... Lembra da Bunnix do futuro? Que nos ajudou com o Tagueador do Tempo? — Ele assentiu — Um dia ela apareceu, dizendo que voltava ao passado para impedir que algo terrível acontecesse no futuro. Então, ela me levou lá e encontrei você akumatizado. Era horrível, Adrien... Eu não sei ao certo o que aconteceu antes daquilo, só sei que sabíamos nossas identidades secretas e acho que foi isso que desencadeou aquele futuro. E... depois disso eu meio que tentei esquecer o que eu tinha visto, até porque naquele dia eu voltei ao presente corrigi o erro que quase revelou nossas identidades, então achei que não tinha a menor chance de tudo acontecer. Mas então nós descobrimos nossas identidades da mesma forma e eu voltei a pensar naquele futuro terrível de novo...
— Então foi por isso que você ficou tão abalada naquele dia que quase fui akumatizado... — Ela assentiu e se abraçaram novamente.
— Mas isso não justifica, Adrien. Eu me afastei no momento que você mais precisava e eu sinto que foi isso que quase te akumatizou, que quase garantiu o futuro que eu tanto temia. Eu... cheguei a achar que seria melhor que nos afastássemos, para evitar aquele pesadelo, mas eu fui egoísta, pensei só nos meus problemas, esquecendo que... — Ele colocou o indicador sobre os lábios dela, sorrindo levemente. Ficaram abraçados por um bom tempo, libertando as lágrimas e as palavras que tanto tinham guardado naqueles últimos dias.

Um Plano Irrecusável (Parte II)Onde histórias criam vida. Descubra agora