Spawn

26

— Então, para onde estamos indo? — Jaemin pergunta enquanto se inclina para Jeno para se certificar de que o ouve no meio do zumbido dos outros passageiros de ônibus.

— Ainda não tenho certeza — admite Jeno, enquanto mantém os olhos fixos em algo na direção da frente do ônibus do outro lado do corredor.

— O que você está olhando? — ele pergunta enquanto tenta seguir seus olhos, pousando na parte de trás da cabeça de um homem. Ele está de boné cinza escuro e mantém a cabeça baixa.

— Algo... — Jeno murmura em resposta.

Assim que Jaemin abre a boca para falar, o ônibus sai da estrada e para.

— Vamos lá — afirma Jeno enquanto segura a mão de Jaemin e a atira do assento. Apesar de sua crescente irritabilidade, Jaemin obedece e segue o garoto enquanto eles se arrastam para o corredor. Eles fazem grandes progressos até chegarem à frente do ônibus. 

Jaemin observa o constrangimento do fato de apenas eles e um outro homem estarem saindo nessa parada.  Concedido, ele viu uma mulher se dar bem, mas considerando que apenas os três estavam saindo, Jaemin não pôde deixar de sentir uma leve sensação de desconforto.

Eles rapidamente descem os degraus e entram na calçada. O aperto de Jeno na mão de Jaemin aumenta, e ele praticamente os arrasta.

— Onde você está-

A pergunta de Jaemin é abruptamente interrompida quando Jeno o puxa para uma pequena livraria. Ele o puxa para um corredor no final da sala e desliza um livro aleatório enquanto passa por ele. Ele então para e abre o livro.

— O que diabos está acontecendo? — Jaemin pergunta em um sussurro alto.

— Shh! — Jeno diz: — Pegue um livro e finja estar tentando dar uma olhada.

— O quê? Por que? — ele pergunta.

— Ele não pode saber que sabemos que ele está nos seguindo — murmura Jeno.

— Quem está nos seguindo? Do que você está falando? Você parece um lunático paranóico — Jaemin resmunga.

— Não acreditas em mim? Dê uma olhada por si mesmo. Ele acabou de entrar — o garoto de preto desafiou.

Jaemin caminha lentamente até o final do corredor e espia a cabeça ao virar da esquina. Ele observa como um homem com um boné de beisebol cinza escuro e óculos de sol vira a cabeça lentamente para examinar a área. Ele parecia familiar, mas Jaemin não conseguia identificar de onde. Ele volta ao corredor e sobe até Jeno.

— Quem é ele? — Jaemin pergunta.

— Sehun — responde Jeno. 

— Quem?

— O cara do fliperama.

Jaemin pensa naquele dia e lembra vagamente de uma pessoa na estande de prêmios, mas ele não podia realmente colocar um rosto em um nome.

Como Jeno se lembrava disso?

— Como você-

— Eu tenho uma memória muito boa — ele responde. 

Jaemin abre a boca para falar, mas antes que ele possa, Jeno olha para cima e sua expressão fica fria.  Ele larga o livro e agarra a mão de Jaemin.

— Ele nos encontrou — anuncia Jeno antes de puxar Jaemin e os dois começam a correr. Jaemin ouve passos batendo contra as tábuas do assoalho de madeira um pouco atrás deles. Ele olha por cima do ombro e encontra o homem que está correndo atrás deles. Jeno vira à esquerda no corredor de livros e segue em direção à porta.

De repente, uma mão envolve o pescoço de Jaemin por trás e o puxa de volta. Sua mão desliza da de Jeno, apesar do aperto firme, e ele é jogado para trás, para longe dele. Jaemin voa pelo ar como uma boneca de pano, as costas colidindo com uma caixa de livros nos fundos da loja. As prateleiras quebram com o impacto e os livros caem no chão junto com Jaemin. 

— Deixe-o em paz! — Jeno grita, sua voz emitindo um grunhido estranho e profundo que soa quase artificial. 

Em vez de uma resposta, Sehun se ajoelha na frente de Jaemin com um sorriso perverso no rosto. Ele tira os óculos escuros para mostrar que está com os olhos fechados. Ele os abre e revela que sua íris não é marrom, nem cinza, nem azul, nem verde; é uma sombra profunda de castanho. Jaemin sente seu coração parar com o olhar de seus olhos. Eles eram assustadoramente realistas de uma maneira que fazia a pele de Jaemin se arrepiar.

Quanto mais ele olha nos olhos de Sehun, mais ele percebe que está começando a sentir sua respiração sufocar. Ele tenta ofegar por ar, mas parece que o líquido está enchendo seus pulmões, subindo pela traquéia e bloqueando as vias aéreas. Jaemin tenta desviar o olhar, mas ele não pode. Ele simplesmente arranha a garganta e reza para não estar morrendo. 

Mas ele está. E ele sabe disso.

— Eu disse para deixá-lo em paz! — Jeno ruge. 

Jaemin fica parado e observa enquanto Sehun é puxado para longe dele. Ele ouve um barulho acontecendo, mas sua incapacidade de respirar o alcançava. Sua visão começa a ficar embaçada e sem foco, enquanto sua cabeça começa a sentir uma pressão intensa, como se seu cérebro estivesse prestes a explodir. 

Jaemin fecha os olhos, rendendo-se ao destino que certamente estava condenado a enfrentar. Quando ele começa a desmaiar, ele jura que ouve a voz de Jeno implorando que ele acorde. Ele parece perturbado, sua voz tremendo. Ele quer confortar Jeno, mas se sente fraco demais para lutar.

Então, em vez disso, ele afunda na escuridão, deixando que ela o consuma completamente.