Capitão Irresistível - Os D'evill 03

Capítulo 7

ELIZABETH D'EVILL

Eu amo minha família. Por certo nunca duvidei dos meus sentimentos um único dia de minha vida, mas agora questiono-me sobre toda a loucura que estou criando. Mulheres não fazem propostas de casamento, não invadem casas de homens solteiros em plena madrugada e usam suas irmãs mais novas como cúmplice. É escandaloso. Eu estaria mentindo se disse que estou arrependida. Bem, não estou.

Fui obrigada a me recorrer mais cedo de nosso momento familiar após o jantar, disse que me sentia indisposta e com dor de cabeça, assim como Charlie me disse para fazer. Pedi que não fosse incomodada e tratei de trancar minha porta por dentro antes de seguir o restante das instruções e esperar até todos se recolherem para sair pela varanda de meu quarto.

Pergunto-me o que Charlotte faz da vida para conhecer tantas técnicas de fuga? Ela tem apenas treze anos!

Me impressiona que Daniel não esteja casado há muitos anos. Como eu disse à ele, o homem é realmente bonito, é um conde agora e serviu ao Exército Real como capitão. Pode ter muitas dívidas, mas o capital familiar é notável e suas terras produzem muito bem.

Não sei ao certo a origem de suas dívidas, mas sei que se algum credor comprovar dívidas em grandes somas de dinheiro à Coroa, Daniel perderá suas terras e os arrendatários serão jogados a própria sorte. Ele pode não estar procurando por uma esposa ou desejar dar continuidade ao título, mas importa-se demais com as famílias que dependem dele.

É por isso que aceitou minha proposta indecente.

Não nego que parte do meu orgulho está ferido, mesmo que não haja razão para tal. Afinal, eu o procurei e me ofereci em troca de dinheiro. Eu quero mais autonomia sobre minhas escolhas e Daniel precisa de dinheiro. Alcançaremos nossos próprios objetivos e aos olhos da sociedade seria perfeito, um conde com uma jovem esposa, a filha de um marquês com um bom casamento. Todos saímos felizes, certo?

Então por que estou inquieta? Como se algo estivesse faltando no plano?

Eu o desejo, isso está claro para mim. Me deitar com ele está longe de ser um esforço. Daniel Crane despertou minha atenção desde o primeiro instante que o vi e agora encontra-se em seu melhor estado físico aos meus olhos! Aquelas cicatrizes atraem ainda mais minha atenção, quero tocá-las e beijá-las, são como um toque especial em todo o seu charme, um acréscimo!

-Olá. - Cumprimento ao chegar no pronto marcado e encontrá-lo ali, esperando. Tudo que consegui trazer comigo foi uma vela solitária para iluminar o caminho durante meu trajeto pelo extenso jardim.

-Olá. - Ele parece tão bonito sentado de maneira casual em uma rocha, uma lamparina repousa ao seu lado, uma iluminação muito melhor que minha vela - Como foi o encontro familiar?

-Oh! Foi ótimo, meu irmão e sua esposa vieram também. Imaginei que não viriam por conta de sua filha, ainda é um bebê tão novinho. Meus pais passam bem, mamãe está louca com a gravidez avançada de Victoria e papai como sempre parece calmo e relaxado como se nada no mundo o preocupasse.

Eu provavelmente estava tagarelando, infelizmente isso acontece muito quando fico nervosa e Daniel me deixa exatamente nesse estado.

-Fico feliz por eles.

-Por que desejaste me ver esta noite?

-Ainda estás certa de sua proposta.

-Com toda a certeza.

Mentira! Estou morrendo de medo, não tenho a menor ideia do que estou realmente fazendo ou como conduzir tudo isso. Nunca fiz algo tão insano em toda a  minha vida, sempre respeitei as regras, nunca fiz nada contra o decoro e nos últimos dois dias estou fazendo tudo de escandaloso que não fiz nos meus dezenove anos de vida.

Quando a temporada social em Elbenia acabou este ano, me vi sem pretendentes que realmente despertassem o interesse e beirei ao colapso. Victoria fora a estrela em todas as três temporadas que participara, ao contrário de mim. Fui uma boa novidade na primeira, a segunda filha do marquês de Brightdown que ostenta um dote obsceno. Na segunda já não era a mesma coisa, a filha e uma sobrinha de um visconde tornaram-se as jóias da temporada.

Mamãe ficou enraivecida e mais decidida do que nunca a encontrar-me um bom casamento. Ela deseja ver todos os filhos felizes, casados e felizes. Dois dos cinco já foram, agora suas energias estão voltadas para Harry e eu. Charlie escapa por ser muito nova... Ainda.

Certamente mamãe será minha maior apoiadora ante toda essa empreitada. Isaac e Victoria podem interceder ao meu favor, Daniel é primo de Isaac a final de contas.

-Gostaria de falar com seu pai o mais rápido possível. Pedir sua mão.

-O que? - Essa conversa aconteceria em um algum momento, é óbvio, só não esperava que fosse tão depressa. Sentindo o nervosismo cresce exponencialmente começo a agarrar o tecido de minha saia, não é bom abrir minha boca agora, as palavras podem sair antes que eu perceba.

-Como a senhorita já explicitou antes, estou precisando do dinheiro o mais rápido possível e não posso adiar mais.

-Quando pretende falar com meu pai?

-Hoje mesmo, durante o dia.

-Mas o senhor... Eu... Nós ainda... - Pelo amor de Deus, Elizabeth, apenas diga - Eu ainda não fui comprometida, lorde Lawfort.

-Deseja mesmo que isso ocorra antes do casamento?

-Por que não? Para conseguirmos nos casar o mais rápido possível preciso ser comprometida. É a única forma.

-Ou apenas dizemos ao seu pai que você foi comprometida.

-Prefere mentir para o meu pai a se deitar comigo?

-Você prefere se deitar comigo a mentir para o seu pai? Antes do casamento?

-Céus, o que estive pensando? É óbvio que o senhor não se deitaria comigo, sou apenas uma saída para conseguir dinheiro fácil. Você não me acha atraente. Eu não deveria estar magoada, a proposta partiu de mim, mas meu ego está ferido. Serei sua esposa de fachada, não pretende se deitar comigo e consumar o casamento, não é? Oh, céus. E pensar que considero suas cicatrizes tão atraentes mesmo que o senhor não as valorize como deveria. Eu deveria ter pensado em um plano melhor, uma execução diferente. Não é porque sou encantada pelo senhor desde que o conheço que eu deveria ter permitido os sentimentos falarem mais alto. Eu...

-Você acha minhas cicatrizes atraentes?

-Eu disse isso? - Espalmo minha mão na testa, se eu pudesse certamente me chutaria agora mesmo - Desculpe, eu realmente falo demais ás vezes. É por isso não consegui nenhum marido nos dois anos de temporadas socais que participei. A segunda terminou há pouco mais de um mês. Me perdoe.

-Você é encantada por mim?

-Eu realmente disse tanta coisa?

-Disse.

A vergonha me atingiu como uma onda marítima. Senti meus ombros encolherem e instintivamente dei um passo para trás, como se tentasse me camuflar na escuridão da noite. É por isso que não estou sempre presente nos grupos e quando estou eu não falo. Todas as vezes que abro minha boca sempre digo o que não deveria.

-Eu, eu realmente sinto. Eu não... Eu não deveria.

-Acalme-se, está tudo bem. - Deu um passo em minha direção, as mãos levantadas e o olhar cauteloso. Como se eu fosse um animal assustado e certamente me sinto um.