Capítulo 31

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DANIEL CRANE

-O dinheiro já está na sua conta. - O marquês bebe seu conhaque - Ouvi dizer que aumentaram a quantidade de criados.

-Sim, senhor. Elizabeth precisava de uma casa habitável.

-Por isso estão fazendo reformas?

-Sim, senhor. A casa fio muito negligenciada durante o meu tempo fora e quando retornei não tive tempo para me preocupar com isso.

-Entendo e como minha filha está?

-Eu diria que muito feliz, apesar das circunstâncias.

-Contou para ela que estava falido?

-Se eu não contasse, ela chegaria a essa conclusão em pouco tempo. De qualquer forma, não me pereceu uma boa ideia começar nosso casamento omitindo as coisas dela.

-Minha esposa disse que vocês estavam felizes.

-Sua filha é muito especial, não há como negar. Ela assumiu o controle da casa e está cuidado de tudo com maestria, mesmo que prefira passar seu tempo na biblioteca.

-Eu não esperava nada diferente de Elizabeth. - Sorri satisfeito com a filha, mesmo que ela não esteja aqui para testemunhar - Imagino que tenha estranhado certos comportamentos dela, não? Meus filhos não podem ser chamados de tradicionais.

-Não se pode mudar a criação de uma pessoa, sei disso melhor que qualquer um.

-Em dois dias partiremos para Brightdown, Harry retornará para Wendwood e Anthony seguirá com sua esposa e sua filha para Elibenia. Haverá um jantar amanhã à noite, em Brand Hall. Sei que Isaac já lhe informou ou o informará formalmente, mas eu gostaria que vocês estivessem lá.

-Eu jamais privaria Elizabeth de se despedir de sua família, milorde. Sinto-me agradecido pelo convite, certamente estaremos lá.

-Não estou sugerindo que privaria minha filha, Lawfort. Se houvesse a mínima possibilidade de Elizabeth ser infeliz vocês não estariam casados.

-Eu aprecio sua confiança.

-Estou certo que sim. - Põe-se de pé, arrumando a gravata - Já lhe foi dito antes, mas é sempre bom repetir. Você é um de nós agora, filho.

Fico de pé também e observo sua mão estirada para mim, excitando um único segundo antes de lhe segurá-la e balançá-la. O marquês saiu do escritório, dizendo que buscaria por sua filha para conversarem um instante antes que ele  retornasse para Brand Hall.

Não tenho ideia de quanto tempo se passou enquanto eu permanecia ali, sentado na cadeira olhando para o nada. É tudo muito novo. Não sei como me portar com uma família. Por Deus, da última vez que estive no mesmo ambiente que eles eu ansiava para sair dali.

Os últimos dias foram completamente atípicos. Nunca imaginei que isso aconteceria comigo. O que diabos eu fiz para merecer uma esposa como a minha? Isaac disse que todos os D'Evill são um presente de casamento e confesso que não estou realmente empolgado com essa parte, mas a minha esposa? Céus, ela é perfeita demais para estar aqui, socada nesse fim de mundo, com um marido recluso que detesta salões de baile.

Antigamente os apreciava, era uma boa oportunidade de conversar com as pessoas e me divertir um pouco. Então fui para o exército e tudo mudo. Voltei marcado, na alma e no corpo, não me senti mais o mesmo, ainda não me sinto. É provável que nunca volte a agir como o velho Daniel.

Não que o eu fosse um homem feliz, eu era conformado. Agora há uma pessoa em minha vida e preciso fazer isso funcionar. Elizabeth realmente não dormiu durante toda a noite, fazendo-me companhia, conversamos sobre tudo e nada e para mim foi fascinante. Não ficamos nada mais - salvo alguns beijos trocados no sofá - apenas ficamos ali, aproveitando a presença um do outro.

Um grito ecoou pela casa e em um instante eu estava de pé, saindo pela porta do escritório e correndo para o hall de entrada. Elizabeth e Cérbero estavam emaranhados no chão, o cachorro estava por cima, lambendo seu rosto enquanto ela gargalha alto.

Era algo sem importância, todavia aos meus olhos era uma visão maravilhosa. Elizabeth está com calças outra vez - os criados ainda não se acostumaram com seu guarda-roupa excêntrico. Diabos, eu mesmo não estou acostumado - os cabelos soltos e espalhados pelo chão, o sorriso enorme e suas gargalhadas preenchendo todo o ambiente.

Passos se apressaram atrás de mim e Eymer apareceu, acompanhado pela cozinheira-chefe e mais duas criadas, ambos ofegantes pela corrida.

-Passou algo, milorde? - Ele pergunta, tentando recuperar o fôlego.

-Imagino que não.

Elizabeth parece finalmente notar nossa presença, lutando - inutilmente - para empurrar Cérbero longe e lhe dar algum espaço. O cachorro continuou a lambê-la e abocanhar seus braços, como se a convidasse para continuar a brincadeira e nos ignorar.

-Oh, Cérbero. Deixe-me ir! - Soltando uma última risada quando ele se afastou, Elizabeth se sentou no chão e tomou algum fôlego antes de dirigir a palavra a nós - Perdoem-me, não quis lhes atrapalhar. Cérbero derrubou-me no chão em meio a nossa brincadeira.

-Milady se machucou? - A cozinheira pergunta preocupada.

-Não, não. Estou perfeitamente bem. - Responde ofegante e risonha - Desculpe atrapalhar-lhes.

Todos fizeram mesura e murmuraram um pedido de licença antes de retornarem para suas atividades. Continuei ali, observando os dois. Cérbero empurrando o focinho do rosto de Elizabeth, fazendo-a soltar uma risadinha antes de lhe agarrar os pelos e fazer carinho atrás de suas orelhas. Esse cachorro foi feroz um dia, agora Elizabeth o tem por mascote.

-Estás certa que não houve qualquer machucado?

-Sim, capitão. - Seu tom de voz abaixou, como se pretendesse confiar-me um segredo, os olhos brilhando de diversão - A única parte do meu corpo levemente dolorida foi estapeada recentemente.

-Eu realmente sinto por isso. - Estendo as mãos, tomando as suas e ajudando-a a levantar.

-Não sinta, eu realmente gostei disso. - Deu-me um sorriso grande, sem a mínima vergonha ao assumir o que queria - Se meu querido capitão estiver disposto a tentar novamente, eu seria feliz por partilhar o momento com meu marido.

-Seu desejo é uma ordem, minha senhora esposa.

-Não sabes como fico feliz em ouvir isso, meu senhor esposo. - Dou-me um beijo casto - Cérbero e eu sairemos para brincar um pouco mais, gostaria de se juntar a nós?

-Eu não... brinco. De qualquer forma preciso terminar a papelada no escritório.

-Tudo bem. Nos vemos na biblioteca mais tarde? Temos uma leitura a fazer.

-Sim, senhora.

-Ótimo! - Sorri abertamente e dá um tapinha em sua coxa antes de girar os calcanhares e sair para fora - Vamos, Cérbero!

Não preciso dizer que o cachorro a seguiu, de muito bom grado.

Capitão Irresistível - Os D'evill 03Onde histórias criam vida. Descubra agora