Capítulo 25

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ELIZABETH CRANE

-Daniel, o que aconteceu?

-Nada.

Finco meus pés no chão, negando-me a continuar a caminhada. Cérbero também para e olha para mim inexpressivo. Escuto um suspiro cansado de Daniel, virando-se com uma expressão cansada.

-Você está estranho desde que saímos da casa dos Bronks.

-Tenho problemas a tratar, Elizabeth. Não é nada que precise se preocupar. - Volta a andar, puxando as rédeas do cavalo atrás de si. Cérbero olha para mim e para ele, como se tentando decidir a quem seguir.

-Se algo está afetando você então me afeta também.

-Elizabeth...

-Considere como um dos meus desejos. Nosso combinado é que você não pode negá-los.

-Vai mesmo desperdiçar o desejo número dois?

-Não se preocupe, tenho três sobrando.

Daniel passa uma mão pelos cabelos, frustrado comigo, com a situação ou com ambos. Eu não ligo, preciso que esse homem comece a compartilhar seus tormentos comigo. Passei as últimas quatro horas ajudando a senhora Bronks e suas duas filhas com costuras, foi divertido e conversamos bastante, mas Daniel está calado e sério desde o momento à mesa.

Seus olhos castanhos observam a área ao nosso redor, como se estivesse se certificando que não há ninguém por perto para escutar. Se precisamos de tanta privacidade assim então o assunto é sério. Sou sua esposa, a condessa. Quero que ele aprenda a dividir seus fardos comigo.

-Um dos credores está interessado em minhas terras. Nem tudo o que possuo é ligado ao título. Estamos em uma parte de minhas terras compradas pelo meu pai, ou seja, são independentes da Coroa.

-E como isso o está afligindo? - Me aproximo, torcendo para que não seja rechaçada.

-Rodwell vem oferecendo dinheiro para as famílias que habitam nessas terras, tentando comprá-los para trabalhar para ele. Por não serem atreladas ao título se encaixam na Lei do Abandono.

-Lei do Abandono?

-Se Rodwell apresentar provas suficientes para comprovar que minhas terras estão abandonadas há cinco anos, ele pode reivindicá-las e não posso deixar isso acontecer. Ele quer que os arrendatários aceitem seu dinheiro e sirvam como falsas testemunhas para ele e o miserável está oferecendo cada vez mais dinheiro. Essas terras são usadas para agricultura e pecuária, abastecem muitas famílias.

-Como podemos pará-lo?

-Impedindo que os arrendatários aceitem o dinheiro. Todos têm se mantido fortes e negados suas ofertas, mas não tive capital para investir por aqui. As dívidas são grandes demais, ao menos até você aparecer. Seu dote é a minha salvação, Elizabeth.

-Meu pai deve lhe pagar até o fim da semana. Podemos pagar suas dívidas e apressar os investimentos nas terras.

-Isaac está me ajudando com essa parte. Meu irmão foi ensinado a cuidar do título, mas era um péssimo administrador.

-O que podemos fazer?

-Nada, além de esperar e torcer para que todos continuem negando.

-Por que esse homem, Rodwell, tem tanto interesse em suas terras?

-Não tenho ideia. - Voltamos a caminhar - Isaac e eu estamos tentando descobrir, mas nada parece fazer sentido.

-Minérios?

-Não, o máximo que este solo possui são bons nutrientes para o plantio.

-Posição estratégica?

-Para que? Não há nada realmente útil por perto.

Continuamos a caminhar completamente calados. Daniel tem todo seu corpo tenso, irritado com tudo o que está acontecendo. Sei que o pressionei demais, não tenho certeza se era a hora, mas não imaginava que sua situação era tão ruim.

O que fazer para ajudar? Não posso pressionar meu pai pelo dote, seria imprudente e levantaria suspeitas. Posso conversar com meus irmãos e tentar descobrir o máximo possível sobre este homem, Rodwell.

Latidos raivosos de Cérbero me trazem de volta para a realidade. Ao longe na estrada há um cavaleiro se aproximando de nós. Como se possível Daniel fica ainda mais rígido, um olhar raivoso, parecendo uma fera selvagem pronta para atacar.

Observo a figura se aproximar em sua montaria. Roupas de linho fino, expressão superior, anéis de ouro nos dedos magros. Não há dúvida que ele possui muito dinheiro. Todavia, a julgar pelo modo que deixou meu marido e meu cachorro não estou muito feliz.

-Lawfort. - Para diante de nós, abrindo um sorriso excessivamente branco. Cérbero anda a nossa frente como um animal enjaulado, encarando o homem e rosnando baixo. Nossa convivência fez-me esquecer o porquê de haver chamado ele de monstro. Ele é um cachorro muito grande mesmo. Me admira que o homem não tenha corrido para o lado oposto.

-Saia de minhas terras, Rodwell.

-Suas por pouco tempo. - Seu sorriso aumenta e sinto vontade de lançar uma pedra em sua cabeça - Você me deve.

-Eu não lhe devo nada, meu irmão devia. De qualquer forma seu dinheiro será devolvido até a próxima semana. - Daniel se coloca diante de mim, cobrindo-me da visão do homem.

-Você está falido. - Faz uma cara de nojo para o meu marido. Ninguém faz cara de nojo para o meu marido. Como eu gostaria que meus irmãos estivessem aqui agora, já os teria colocado para espancá-lo.

-Não mais.

-Casou-se com alguma herdeira para solucionar seus problemas, Lawfort? Me diga, por quanto tempo acha que conseguirá manter seu título? Precisará de uma fortuna considerável para sanar tudo o que deve.

-Idiota. - Murmuro.

-Você terá seu dinheiro, Rodwell. Agora saia de minhas terras e não volte aqui, você está invadindo a minha propriedade.

-Que bela criatura você esconde aí, Lawfort. Ela é a felizarda vítima de seu golpe.

-Não seja ridículo.

Saio do esconderijo proporcionado por Daniel e Cérbero se aproxima, rosnando ainda mais para Rodwell. Meu marido e meu cachorro estão em meus lados, prontos para me proteger deste grande rico idiota montado em seu cavalo.

-Lady Lawfort, é um prazer conhecê-la. - Seus olhos flexionam em minha direção - A senhora parece-me estranhamente familiar.

-Sou Elizabeth Crane, filha do marquês de Brightdown.

-Oh! - Joga a cabeça para trás, soltando uma gargalhada forçada. Agora sou eu quem sente nojo, nojo dele - Seu pai permitiu que se casasse com esse homem?

-Sugiro que dobre a língua ao falar do meu esposo.

-Não sabia que Lawfort era fraco ao ponto de precisar que sua esposa o defenda.

-Eu não preciso de nada. Já mandei que saia de minhas terras e você continua aqui, fazendo-me perder tempo. Preciso chamar o magistrado para que o arrastem daqui?

-Não me importa. - Enruga o nariz, em claro desprezo - Estarei esperando meu dinheiro.

Sem mais nada a dizer, moveu as rédeas do cavalo e foi para longe de nós. Daniel não disse nada, eu também não. Voltamos para casa e ele me deixou lá antes de desaparecer pelo resto do dia. Não retornou para me ajudar na biblioteca ou lermos o diário de sua mãe. Também não apareceu para o jantar e o pior, não encontrou-me no quarto. Já passava da uma da madrugada e sem sinal de meu marido.

Em algum momento meu corpo cedeu ao cansaço, o sono me levando antes de ver Daniel retornar.

Capitão Irresistível - Os D'evill 03Onde histórias criam vida. Descubra agora