Capitão Irresistível - Os D'evill 03

Capítulo 39

Nunca me considerei uma pessoa de sentidos ou intuições, confesso que fui bastante cética sobre tais coisas, mas há algo me incomodando, um sentimento no peito de que algo ruim está por vir. Não tenho dormido muito nas últimas noites e meu querido conde acaba por encontrar-me perambulando pela casa.

Tive  sonhos estranhos também, são pesadelos, em realidade. Não tenho ideia de como sei, talvez seja este sentimento ruim no meu peito, talvez seja outra causa, todavia eu sei que não passarei no nascimento do meu bebê.

Meu querido conde e eu estivemos discutindo possibilidades de nomes, ele está crente que será uma menina e eu sei - porque também sonhei - que será um menininho. Nesse caso o chamaremos de Daniel. Meu marido luta para que o primeiro nome seja Joseph e confesso que não me agrada tanto, Daniel me parece um nome encantador.

Não compartilhei meus sentimentos ruins com meu marido, temo por sua reação e sua rejeição. O desejo de outro filho partiu de mim, afinal e espero que quando eu me vá, meu pequeno Daniel seja amado e querido. Sei que será um menino de ouro, especial e um tanto agitado, ele não para de chutar em eu ventre e por mais que alguns de seus golpes seja doloroso, não trocaria essa sensação por nada no mundo.

Timothy parece fisicamente comigo e em suas atitudes é assustadoramente igual ao seu pai quem sabe Daniel não venha o oposto? Eu adoraria contemplar seus olhos escuros, acariciar seus cabelos e lhe contar histórias para dormir, vê-lo crescer e assumir as feições de um homem formado, vê-lo em suas aventuras com os amigos, viajando e conhecendo o mundo, indo a bailes e conhecendo uma dama por quem se apaixone.

Claro, todo este sentimento pode ser insegurança acumulada em minha cabeça, medo por um parto tantos anos depois e se este for o caso, se eu estiver errada, farei questão de arrancar essa página e jogá-la no fogo. Contudo, se meus temores mostrarem-se corretos e eu tenha partido, deixo registrado aqui o meu pedido.

Venho fazendo muitas preces desde que os pesadelos começaram, sempre pedindo a Deus que se for de Sua vontade me leve, mas poupe a vida do meu bebê. Quero acompanhar seus passos e zelar por ele, mesmo que seja das estrelas. Ser mãe é um sentimento engraçado, um amor como nunca senti antes, uma enorme devoção, a ciência de que faria qualquer coisa por um filho, mesmo que seja sua própria vida.

Estou em um território dominado por homens, escutando meu marido e meu filho brincando no jardim neste exato momento, o som de suas gargalhadas invadindo janelas a dentro. Espero que se adaptem bem as mudanças e por ventura, se alguém encontrar estes escrito e o ler, primeiramente o repreendo por invadir minha privacidade desta forma! Em segundo lugar deixo aqui registrada minha declaração.

Eu amo os meus homens. Meu marido e meu filho tornaram minha vida muito boa enquanto pôde ser vivida e eu aproveitei cada segundo. Quem sabe meu querido conde não encontre o amor e se case novamente no futuro? Timothy e Daniel devem encontrar seus amores também, creio fielmente que todos nós temos nosso amor perdido, nossa metade e um dia ela chega até nós. Fui agraciada de encontrar a minha e tive um filho forte e saudável, agora temos outro a caminho e nada poderia estar melhor.

Não era meu desejo que este escrito assumisse tom de despedida, gostaria que fosse mais reflexivo que um mero "adeus". Por ventura venham a lê-lo, peço que entreguem-no aos meus filhos, posso não dizer em voz alta, mas deixo aqui as palavras escritas. Eu os amo, meus amores, os amo incondicionalmente e não faria nada diferente. Meu novo bebê, o que está em meu ventre enquanto escrevo isso, viva sua vida da melhor forma, meu amor, seja feliz.

Por vezes somos colocados em situações difíceis, parecem impossíveis de conseguir, mas na realidade estamos sendo preparados para um futuro brilhante. Eu sei de seu potencial, sei que consegue fazer qualquer coisa, porque és incrível e somos agraciados de tê-lo, nem todos podem reconhecer isto. Não dê ouvidos as más palavras, elas são fruto de cobiça e inveja por suas conquistas, faz parte do caminho para o sucesso.

Não sou perfeita, não coloquem-me sobre um pedestal. Cometo erros como qualquer outro, sou humana. A vida não é sempre felicidade, todos passamos por problemas, todos temos crises de identidade, crises familiares e crises matrimoniais, cabe a nós buscar a melhor maneira para que tudo se resolva.

Imagino que agora sim este escrito tenha o tom de reflexão. Bem, esta sou eu, não há como mudar. Meu raciocínio tende a guinar nas mais diversas direções, uma pessoa excêntrica, não? Pobres aqueles que convivem comigo, obrigados a interagir com minha dúvidas e reflexões. Especialmente, pobre senhor Eymer, cansei de atormentá-lo com meus pensamentos estranhos enquanto meu marido estava trancado no escritório trabalhando.

Não se trata de deixar sua marca ou fazer a diferença no mundo, trata-se de quantas pessoas você pôde levar alegria naquela manhã de mais um dia de vida. Quando abrir os olhos amanhã, lembre-se da bênção que é poder viver mais um dia e estar com as pessoas que você ama.

Com muito carinho, Condessa de Lawfort.