Capítulo 27

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DANIEL CRANE

As batidas na porta voltam e me afundo na poltrona do lado oposto do quarto. Não tenho ideia do que fazer, estou completamente perdido. Sinto que preciso ficar sozinho por um tempo, colocar os pensamentos em ordem. Antes tudo era mais fácil, eu tinha esses surtos e os poucos empregados fingiam que nada havia acontecido quando amanhecia. Agora a casa está cheia de criados e uma esposa que precisa presenciar esse tipo de coisa. É uma vergonha.

As batidas retornam um pouco mais fortes, por que as pessoas simplesmente não o deixam? Ninguém gosta de ter outra pessoa remoendo suas feridas. Deixem-me na solidão até que eu me sinta quase humano novamente.

-Daniel? Eu preciso derrubar essa maldita porta? - A voz de Isaac ecoa irritadiça dentro do quarto.

-O que está fazendo aqui?

-Deixe-me entrar os derrubo essa maldita madeira!

Ando até a porta e destranco antes de retornar para a poltrona. Escuto Isaac entrar e fechar a porta trás de si, trancando-a novamente. Não há maneira de fugir dele, se o homem estiver irritado mesmo nada o impediria.

-Aconteceu outra vez.

-Eu sei. - Se senta na ponta da cama, cotovelos nos joelhos e olhos fixos em mim - Sua esposa enviou-me uma mensagem desesperada com medo de você se ferir. Está trancado nesse quarto de hóspedes a mais de vinte e quatro horas.

-Eu poderia ter machucado ela, Isaac.

-Sim, você poderia, mas não machucou.

-Ela não está segura comigo.

-Ela não pode ir para outro lugar, Daniel. Estou certo que Elizabeth se negaria a deixar o marido. A mulher é assustadoramente compreensiva e em vez de surtar por você estar evitando contato ela está assustada por ti. Com medo que faça mal a si mesmo.

-Eu não sou um bom marido para ela. Inferno, você devia ter me avisado que eu não merecia aquela mulher.

-Quem lhe garante que não merece? Elizabeth me contou que acordou assustada com o som de coisas quebrando, correu para o seu quarto e o encontrou no meio de um ataque, quebrando o quarto inteiro.

-Ela assistiu?

-Sim.

-Eu poderia tê-la machucado, Isaac.

-Elizabeth está perfeitamente bem.

-Agora. Eu não tenho controle sobre isso, eu não sei quando vai acontecer ou em que intensidade. Eu não sei se vou dormir e acordar suado no meio da madrugada ou acordar no meio do completo caos. Eu não sei o que fazer comigo mesmo.

-Eu sei que está assustado, mas podemos resolver isso juntos. Sempre resolvemos e agora não será diferente. Sobre o que sonhou dessa vez?

-A morte do Jones.

-O rosto desfigurado?

-Sim.

-Você correu antes de dormir?

-Corri.

-As corridas não são mais o suficiente? Me pareceram uma boa tática.

-Eu não sei. Estive sob controle nos últimos dias.

-Houve alguma coisa que o estressou muito ultimamente?

-Elizabeth está arrumando a biblioteca e fui ajudá-la, encontramos um caderno pequeno, estranho. - Engulo em seco - É um diário, da minha mãe.

-Sua mãe tinha um diário?

-Ao que parece sim.

-Céus. - Passa as mãos pelos cabelos, agitado - O que há nele? Algo o incomodou?

-Estamos lendo uma página por dia, ao menos estávamos. O que temos até agora é o relato de como seus pais se casaram e uma notícia ou outra sobre sua mãe.

-Elas eram irmãs. Uma citar a outra em um diário é perfeitamente normal.

-Você precisa ler esse diário quando acabarmos.

-Estamos lendo? Acabarmos?

-Elizabeth está lendo comigo.

-Interessante. Nunca imaginei que você compartilharia sua história com alguém. O quanto ela sabe?

-Não muito, mas sei que tem muitas perguntas.

-E ela não as faz?

-Não, a mulher é um anjo caído. Nunca conheci uma pessoa dotada de tanto paciência.

-E você ainda acha que não a merece. - Bufa e endireita - Ela é a mulher perfeita para você. Talvez esteja na hora de contar para ela, Dani.

-Não posso colocá-la nessa bagunça.

-Você já a colocou no instante em que deu a ela seu nome. Agora é direito da sua esposa saber o que está acontecendo com você.

-E se eu estragar tudo?

-Não vai. Vou lhe dizer uma coisa, Dani. Sua esposa está apaixonada por você. Nunca vi alguém tão desesperado e preocupado por outra pessoa na minha vida. Elizabeth D'Evill é sua nova chance, um recomeço depois de tudo.

-Rodwell a encontrou hoje.

-O que?

-Elizabeth queria conhecer os arrendatários comigo hoje, então a levei.

-Não estou impressionado. Victoria fez a mesma coisa.

-Trabalhamos por alguns instantes na primeira casa e quando estávamos a caminho da próxima Rodwell apareceu. Ele a viu, falou com ela.

-Rodwell voltou a oferecer dinheiro aos arrendatários?

-Sim.

-Resolveremos isso, é o que faremos. - Suspira e se levanta - Agora você precisa se recompor e procurar sua esposa. Não ouse perder aquela mulher da sua vida ou não o protegerei dos D'Evill. Se os irmãos dela o atacarem outra vez assistirei e não moverei um único músculo para lhe ajudar.

-Me sinto motivado.

-Essa era a intenção, agora mova-se. Não, melhor ainda, tome seu tempo, só não tarde em buscar a sua mulher. Ela está preocupada com você. - Destranca a porta - Agora preciso acalmá-la e retornar para a minha casa. Minha mulher e meus filhos estão me esperando.

Nos despedimos e voltei a cair na poltrona. Como contar à Elizabeth tudo o que aconteceu? Não quero que ela me veja como um animal ferido que precisa de extra proteção, mas também não posso mantê-la em casa sem saber o motivo desses ataques.

Ainda preciso saber como protegê-la de mim, se Elizabeth tivesse machucada, se eu a tivesse machucado... Porra, não tenho ideia do que fazer. Não posso afastá-la e não posso tê-la por perto. Eu sinto que preciso estar com ela, mas tenho medo de machucá-la.

Se eu fosse outro homem, um homem diferente e melhor, poderia provar ser bom o bastante para Elizabeth.  Inferno, eu sou um caso perdido.

Levanto-me da poltrona e saio do quarto, não tenho ideia de quanto tempo se passou desde que Isaac saiu, mas segui na direção dos aposentos de minha esposa. Com um suspiro cansado  bato à sua porta e escuto seu comando para entrar.

-Daniel! - Em questão de segundos ela atravessa o quarto correndo e se joga em seus braços. Seu perfume me envolve como um vício e não percebi o quanto senti falta até agora.

-Você pode me acompanhar?

-Aonde vamos?

-Ala infantil.

Capitão Irresistível - Os D'evill 03Onde histórias criam vida. Descubra agora