Capítulo 12

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DANIEL CRANE

Chá e conhaque foram servidos. Senti-me completamente perdido por um instante, Isaac sempre foi um irmão mais velho para mim e ser chamado para estar aqui durante o parto foi uma surpresa. Após toda a comoção ninguém parecia ter sono, nos reunimos na sala de visitas e esperamos que tudo se acalmasse.

Victoria esta dormindo, os bebês também. Charlotte dormiu nos braços do pai e ele a levou para a cama. A esposa e a filha de Anthony não foram vistas ainda.

-Você está de camisola. - Anthony flexiona os olhos na direção da irmã e Elizabeth revira os olhos.

-Mamãe também está de camisola.

-Mas a mamãe é casada. - Harry responde.

A cena é cômica. Os três irmãos estão sentados no mesmo sofá, Elizabeth está no meio dos dois e seus cães de guarda estão de braços cruzados e me lançando olhares feios. Seria uma mentira negar que realmente a olhei. Não é minha culpa, a mulher é linda. Os cabelos presos em uma trança espessa e me pego pensando em como seriam seus cabelos soltos.

-Mas Daniel é meu noivo.

-Não, não é. - Por um segundo jurei que Elizabeth golpearia o irmão.

-Mãe?

-Anthony, não perturbe sua irmã. - A marquesa interrompe. Ela está de braços dados com o marido em outro sofá, com os olhos fechados e a cabeça encostada em seu ombros. O ambiente todo é tão íntimo que me causa desconforto.

-Daniel será da família. - Elizabeth volta a argumentar e meu desconforto cresce. Eu deveria ir embora, não sei o que ainda faço aqui.

-Não queremos Daniel na família.

-Harry! - A mãe o repreende e o mesmo se cala. Eu realmente preciso ir embora daqui - O senhor Crane fará parte da família e nós o receberemos muitíssimo bem.

Preciso sair daqui agora mesmo.

-Graças aos céus você ainda está aqui. - Isaac entra na sala - Estava torcendo para que não tivesse ido embora. O que diabos houve com o seu rosto?

Oh! Sim, os hematomas que ostento em meu rosto agora. Um belíssimo corte roxo no lábio superior e um olho bem avermelhado.

-Seus cunhados me fizeram uma visita hoje.

-Vocês o agrediram? - Elizabeth olha para os irmãos como se estivesse a ponto de destroçá-los.

-Por que deveríamos aceitá-lo? - Anthony argumenta - Ainda estou pensando se Isaac é da família.

-Vocês não podem agredir a todos os homens que se aproximarem das suas irmãs. - A marquesa resmunga - O que farão quando for a vez de Charlie? Usarão armas de fogo e agirão como selvagens?

-Charlie é completamente capaz de espantar qualquer pretendente sozinha. Por Deus, é de Charlotte que estamos falando.

-É melhor eu ir embora. - Viro-me para meu primo - Tenho trabalho a fazer logo cedo pela manhã.

-Obrigado por estar aqui hoje. - Apoia a mão em meu ombro e sorri.

-Foi bom estar aqui. - Sorrio de volta.

-Daniel, estarei lhe esperando no decorrer da semana para terminarmos nossos acordos. - Diz o marquês.

-Sim, senhor.  - Lanço um último olhar na direção de Elizabeth antes de sair dali.

A quem estou querendo enganar? Ela nunca terá um lar assim casada comigo. Em minha casa poucos cômodos são realmente habitáveis. Aqui ela tem sua família, a presença de seus pais e de seus irmãos.

Não estava preparado para ver o poderoso marquês de Brightdown andando de um lado para o outro preocupado com o bem estar de sua filha. Quero dizer, ele estava de fato preocupado. Todos os irmãos estavam e isso me golpeou de uma maneira que não era esperada.

Ver como eles têm o privilégio de hábitos tão simples como se reunir em uma sala após a chegada de novos integrantes à família. A marquesa repreendendo os filhos, o carinho que recebe de seu marido. Estou fervendo de inveja, esta é a realidade.

Por que algumas famílias têm tanto e outras são escassas? Mulheres como Victoria conseguem trazer ao mundo dois filhos de uma vez enquanto outras... Outras não sobrevivem. Inferno! Eu queria ter ido com ela. Tudo seria melhor. O que me torna tão importante a ponto da minha vida valer mais a da minha mãe?

Ela era feliz, já tinha um herdeiro e o conde a amava. Por que gerar outra criança? Inferno, por que?

Ao entrar em casa, meu olhar caiu sob o quadro de minha mãe, pendurado com louvor na sala  desde que me lembro. Doces olhos azuis e cabelos cor de mel, há um brilho divertido em seu olhar, os lábios finos em um sorriso discreto e mal contido. Ela era uma pessoa alegre e muito risonha, ao menos é o que todos me contaram. Costumava correr descalça pelos corredores da casa brincando com Timothy.

E pensar que tudo o que sei sobre ela me foi contado pelos empregados, os poucos que me ajudaram na infância. Eu costumava sonhar que era comigo que ela corria e brincava pelos corredores. Corredores esses que eu mal visitava, pois fui condicionado a viver isolado na área infantil da casa e minha saída era estritamente proibida, inclusive para os jardins. Quanto menos o conde lembrasse de minha existência melhor.

Não seja tolo, Daniel. Nada disso é sobre você, pense nos arrendatários, as famílias não podem ser expulsas por culpa de sua criação tenebrosa. Não há como mudar o passado, há? Então aprendemos com ele e seguimos em frente.

Capitão Irresistível - Os D'evill 03Onde histórias criam vida. Descubra agora