voz de anjo ༻

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Aquela primeira aula demorou um pouco para passar e eu estava ficando com fome. Não havia tomado café da manhã com medo de me atrasar, mas eu tinha certeza que Jimmy traria alguma coisa pra mim porque ele sempre sabia o dia que deveria trazer.

Deu nosso horário de pausa entre as aulas e não saímos da sala porque parecia ventar e Jimmy era a pessoa mais chata em questão a bagunçar os cabelos, mas eu também não podia pegar friagem.

Um dia perdeu uma vaga de estágio porque precisava cortar o cabelo... Ele não quis.
Mas Park Jimin não precisava de dinheiro, a família era bem de vida então o estágio seria por hobbie para o mesmo.

Já eu adoraria um estágio porque passaria horas de manhã falando sobre fotografia e o resto da tarde tirando fotografias. Era minha vocação eu tinha certeza

Jimin tirou uma barra de proteína de sua mochila, estendeu e me deu.

– Como sabe que eu não trouxe nada, Hyung? – eu sabia a resposta que ele daria.

– Sou seu hyung, sei de tudo sobre você – disse com convicção.

E era verdade, ele sabia de mim mais do que eu mesmo e às vezes e isso me assustava. Será que eu era tão previsível ou ele realmente me conhecia?

Aliás, nos conhecemos por volta dos 15 anos. Namorei com sua irmã gêmea que me deu um fora depois que conheceu um cara mais velho que a gente. Na época Jimmy me ajudou a superar e hoje em dia damos risada disso tudo e o garoto realmente era muito mais bonito do que eu.

Fui abrir minha barra com os dedos gelados então demorou um pouco porque eu tinha um problema no coração que acabava não bombeando meu sangue direito então em dias de frio minha circulação ficava uma negação, mas depois de um pouco de esforço sem sucesso fui interrompido.

– Quer ajuda com isso? – um garoto com um
sorriso em formato de coração e parecia ser simpático.

– Oi... Er... Aqui. Consegui – dei uma risada meio constrangedora porque pra alguém querer me ajudar a abrir uma barrinha era porque realmente estava complicada a situação.

– Prazer, sou Hobi – ainda com o sorriso grande – Vocês vieram da outra faculdade, né?

– Oi sim – Jimmy atravessou minha fala estendendo a mão – Sou Jimin e preciso ir ali fora fazer uma ligação – falou levantando rápido e mexendo nos meus cabelos.

– Oi, sou Tae... – fui interrompido.

– Taehyung. Kim... Certo? – Ele me conhecia

Fiquei uns segundos encarando porque eu jamais tinha sido reconhecido por alguém na minha vida toda.

– Isso. Kim Taehyung. Prazer – estendi meus dedos gélidos em sua direção afim de cumprimentá-lo.

O garoto olhou minha mão com os dedos parcialmente roxos e fechou o sorriso como quem se preocupacva. Rápido trouxe as mãos de volta e olhei para o chão afim de procurar algum assunto, odiava que faziam perguntas sobre mim ou sobre o que eu tinha.

– Quase me esqueci – colocando sua mão direita no bolso do casaco laranja procurando algo, retirou um papel e me estendeu - Eu sei que parece muito infantil, mas fui ameaçado a te trazer esse bilhete. Então como zelo minha vida e sou um anjo para as pessoas... aqui estou. Espere não abra, deixe eu ir embora. Prometi que não ficaria para ver sua reação.

O garoto saiu saltitando da sala e eu sem entender nada.  Um bilhete para mim? Quem havia mandado? Será que não era uma pegadinha para novos alunos? Queria esperar Jimmy chegar, mas a ligação demorou horrores.

Meus dedos continuavam na mesma. Dei uma mordida no meu lanche ganho por Jimin e abri o bilhete que estava dobrado em 4. Uma ponta estava rasgada não formando um quadrado perfeito, mas dentro estava escrito com uma tipografia linda, diferente da minha que era sempre correndo e às vezes ilegível.

Como aprendeste a tão ser fofo assim?

Somente isso naquele papel sobrando muita coisa em branco. Na hora nem terminei de comer minha barrinha. Só consegui guardar o bilhete no bolso de trás direito da minha calça e consegui achar um ponto fixo na parede e praticamente não me mexi mais.

A última vez que recebi um bilhete de alguém foi no ensino médio, da garota que me chutou. Isso ainda deve ser uma piada sem graça. Não vou nem ligar. Aquele garoto tem uma cara de debochado aliás

Eu estava lidando muito bem com meus pensamentos até que Jimmy chegou do meu lado falante

– Preciso te contar – com uma cara de entusiasmo – Pera. O que você tem? – notou meu olhar perdido.

– Nada, eu só estava pensando. Pode contar – falei confiante.

– Lembra daquele cara que eu tava saindo? – perguntou.

– Namjoom? – era só desse rapaz que Jimin falava há semanas.

– Sim. Ele quer que eu vá dormir na casa dele esse final de semana – disse animado.

– Vocês não tinham parado de sair? Porque sei lá, ele parou de te responder do nada? – lembrei como meu melhor amigo tinha ficado mal com essa ausência do mesmo.

– Sim, vamos resolver isso esse sábado, mas ele parece realmente me querer lá – sorriu fechando os olhinhos, Jimin era fofo.

– Entendi sua cara de bobo a manhã inteira pra esse celular – agora fazia todo sentido.

– Talvez sim – confessou – Você precisa parar com essa cara quando eu falo dele – se referiu ao meu virar de olhos.

– É que só eu sei o quanto que ouvi você choramingar porque esse garoto não te dava bola – sorri irônico.

Fomos interrompidos pelo professor que chegou novamente na sala.
Pediu para quem tinha câmera se posicionar de um lado da sala e quem não tinha do outro

Claramente a turma de fotografia encostados na parede da janela e a de cinema na parede da porta.

– Formem duplas com a turma da frente – disse o senhor limpando seu óculos.

Na hora vi Hobi vindo nossa direção e eu queria me esconder porque eu tinha certeza que perguntaria sobre o bilhete que deixou comigo porque ele tinha uma cara de quem
não deixaria passar, mas falando em passar... passou por mim e pediu para ser dupla de Jimmy, menos mal.

Eu fiquei parado esperando alguém vir até mim. Tinham pessoas ainda no outro lado da sala, mas eu queria me certificar de que alguém viesse porque eu era tímido de mais para escolher alguém

– Faz com esse garoto aqui – o professor então apontou para mim e eu senti frio na barriga.

O rapaz atrasado chegou em mim rapidamente com um sorriso no rosto e olhos redondos.

– Oi. Jeon, mas pode me chamar de Jungkook – disse doce.

– Kim Taehyung – sorri sem mostrar os dentes e esperei pelo professor iniciar a explicação.

O professor explicou o que faríamos. Basicamente os alunos de cinema interpretariam algo e nós os fotografaríamos. Poderíamos escolher qualquer lugar do campus para ficarmos confortáveis.

Jimmy sumiu com Hobi antes que eu pudesse vê-los sair, eu queria poder ficar perto deles para não me sentir tão deslocado.

– Sei um lugar que eu adoraria ser fotografado , Kim – O garoto puxou meu pulso com firmeza, mas sem apertar. Os dedos deles estavam bem quentes, mas se bem que eu sempre estava gelado.

Chegamos na parte de trás do campus onde havia um palco. Ele subiu e começou a cantar e a dançar. Sem um pingo de vergonha. Tirando de mim alguns sorrisos meio sem graça porque o garoto era realmente talentoso.

Não podia deixar também de admirar sua beleza. Ele era muito bonito e tinha uma voz de anjo, se posso assim dizer. Era diferente do que eu estava acostumado a ouvir cantar. Que se limitava a minha voz rouca e a voz aguda do Jimmy que costumávamos a cantar no karaokê do aparelho da casa dele. Mas a voz daquele garoto era são bonita que se eu pudesse comparar com algo seria Voz de anjo.

kept in memory ༻ | KTH + JJK|  Onde histórias criam vida. Descubra agora