Eu acordei atrasado para variar. Era difícil um dia que eu não perdia a hora, mas eu sentia vontade de mudar, mas a insônia prejudicava muito. Na noite passada passei horas olhando para o teto me imaginando como seria voar. Voar pela janela e simplesmente não voltar.
Esses pensamentos eram frequentes e por mais que atrapalhassem minha concentração, nem remédios estavam ajudando então eu tentava aprender a lidar com isso.
Levantei da cama assustado com minha mãe avisando que o café estava esfriando.
Aish... eu odiava café frio então era uma maneira muito boa de me acelerar.
Por sorte nas horas de insônia eu havia separado roupa para o primeiro dia. Não que eu use muitas roupas diferentes nem que eu tenha, mas eu queria me distrair para a madrugada passar mais rápido.
Também não estava muito animado para o primeiro dia do semestre, seria igual como todos os outros apenas, só que com algumas pessoas mais perdidas do que o normal.
Vesti meu jeans rasgado no joelho que com a pressa meu pé enroscou abrindo mais o furo. Coloquei minha camiseta azul marinho, meu tênis preto e peguei a primeira blusa que achei jogava na cadeira da escrivaninha. Não havia visto
– Bom dia, bom dia, bom dia – falei para meu pai, mãe e irmã que estavam na mesa parecia fazer tempo de acordo com o prato quase vazio e as canecas com pouca bebida
– Atrasado de novo? – meu pai sem tirar os olhos do jornal, ele era o que mais implicava com meus horários.
– Não dormi essa noite – expliquei em poucas palavras.
– A doutora Ivy disse que você não foi na consulta que marquei semana passada – minha mãe segurou minha mão e fez uma cara de preocupada porque achava que tudo o que a psiquiatra falava era lei.
– Mãe, não quero precisar mais de remédios para dormir. Isso é viciante. Não quero depender de drogas – eu sempre falei isso desde o primeiro comprimido que me foi receitado, mesmo ninguém me ouvindo.
– Não é droga se te ajuda em algo – meu pai finalmente abaixando o jornal disse numa voz um tanto quanto grossa fazendo minha irmã arregalar os olhinhosz
Não me dei ao luxo de responder porque para meu pai tudo que não fosse de acordo com o que ele falava, fingia não escutar, então não havia porque questionar, aliás estava atrasado e se paciência.
Dei um beijo na cabeça da minha mãe, passei aos mãos na cabeça de minha irmã bagunçando seus cabelos pretos e caídos na testa formando uma franja e apertei o ombro esquerdo do meu pai antes de atravessar a porta da cozinha.
Liguei o carro e sai nas pressas e confesso que quase bati olhando umas folhas montadas no chão que fazia um bolo como se desse pra entrar dentro. Foi perigoso, deveriam ter gente para limpar e evitar um possível acidente.
Dirigia triste porque odiava aquele clima frio e sem graça. Nenhuma flor nas árvores, mal haviam árvores, só galhos secos.
Cadê o sol? Mal entrou o outono e o clima já estava do jeito que eu mais detestava. Molhado e gelado.
No caminho lembrei que hoje teria aula com a turma de fotografia. Uma faculdade da cidade havia sido vendida para a que estudava então haveria novos alunos e justo hoje as aulas de cinema seria com o professor de fotografia.
Eu estava no início do segundo ano de cinema, mas eu não sabia mais se eu queria mesmo seguir aquela profissão. Eu queria ser cantor. Cantar em shows, dançar. Mas eu não detestava meu curso, eu amava na verdade.
Minha família me apoiou quando eu entrei na área cinematográfica, mas meus pais duvidaram da minha capacidade quando eu falei de música, disseram que eu era tímido e que deveria continuar fazendo aquilo que eu era bom.
Pelo visto ser bom pra eles e me esconder, mas faz muito tempo que as opiniões deles afetem de certa forma minha saúde mental então isso era uma rotina que se tornava comum.
Prometi ao professor que iria levar seu tripé hoje para ele mostrar como se usava. O tripé era dele, mas como ele gostava muito de mim por algum motivo desconhecido, deixou comigo para eu gravar uma performance que queria mandar para um site que estavam recrutando "novos talentos" e ficou mais do que deveria em casa porque eu não consegui entender como posicionava minha câmera.
Uma música agitada começou a tocar no meu celular em cima do banco do passageiro. Coloquei no viva voz porque mais um quase acidente não poderia me acontecer
– Oi Kookie, posso guardar lugar pra você? Os portões estão pra fechar logo - disse Demy, a aluna americana que estudava comigo desde o ensino médio, vulgo namorada do meu melhor amigo, minha melhor amiga também.
– Por favor, eu já estou estacionando – Desliguei
Estacionei um pouco torto, escorreguei numas folhas assim que pisei na calçada para abrir a porta do passageiro para pegar minha mochila, tripé e celular lembrando como odiava aquele clima frio e molhado
Realmente como Demy disse. Os portões iam fechar. Corri para dentro do campus. Pátios e corredores vazios. Corri para chegar na minha sala, quando cheguei perto o professor ameaçou fechar a porta. Consegui interromper.
Dei um sorriso onde qual meus olhos mal abriam, pedi desculpa, entreguei o tripé é sentei no lugar que Demy havia guardado.
O professor Han era o meu preferido. Ele tinha um dizer paterno. Palavras de pai. Ele era um pouco careta, não tinha estilo e aparentava mais velho do que era, mas era um cara do bem, fora que ele dava aula como nenhum outro.
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kept in memory ༻ | KTH + JJK|
Fanfiction"... e quando minha visão queria escurecer te fotografei. fotografei com os olhos e te guardei na memória... para sempre..."