Anne With An E - Sec XXI (Concluída)

Cinquenta e um

Minha Anne com E

Você não conhece a dor do outro, nem o que está disposto a fazer até que faça. Encarei a tela do celular, com a informação do Instagram anônimo e senti meu coração se despedaçar, fofocas Springdale College, não era o responsável por aquilo, não sozinho. A responsabilidade estava em cima de cada comentário maldoso, sem compreensão.

Lembro-me perfeitamente antes de ser exposto aquilo que ele sentia. Os comentários eram:

Você é um desgraçado.

Você é um filho da ...

Poderia morrer e fazer esse favor para a humanidade.

Logo em seguida, ele apagou todas as fotos do Instagram e sumiu. Com isso, Fofocas Springdale College, que de um jeito ou de outro sabia de tudo, postou:

Possível depressão de Benjamin: tadinho, já podemos parar de zoar ele? Não.

Depois disso eu fui na casa dele, e fiz ele me prometer porque aprendi que promessas são para ser cumpridas. Mas então, de uma forma ou outra, eu acabei não me atentando que aquela promessa não era real. Eu queria que fosse apenas um sonho, imaginar que uma hora a pessoa está lá e a outra já não está mais, dói.

O velório seria no campo do colégio, o campo o qual Benjamin costumava frequentar, e a pessoa escolhida para falar em memória dele, fui eu. Eu não estava preparada para dizer adeus. Na verdade, ninguém está preparado para dizer adeus.

Estava com uma das letras das músicas que Ben havia escrito para mim.

Você me faz voar.
Você me faz ser a melhor versão de mim mesmo.
Você, com todo esse jeito cheio de personalidade.
Queria poder olhar para o mundo como você vê.
A dor que interfere a visão de um mundo melhor, só é curada quando estou com você.
Anne, minha Anne com E.

— Ahhhhh — grito enquanto por um impulso jogo um copo de vidro no espelho.

Eu não ligo para o estrondo, não ligo para os cacos no chão. Eu só queria poder dizer a ele, o quanto ele era importante para mim.

— Que raiva de você Benjamin! — digo agora em meio às lágrimas. — você poderia ter me procurado.

Ajoelho no chão. Você não reconhece a dor do outro, e ninguém conseguia compreender minha dor.

Sou contida pelos braços fortes de Gilbert, que me tira do chão e Marilla que com uma vassoura começa a tirar os estilhaços.

— Eu não acredito que ele — sou interrompida pelos soluços que saem instantemente — eu estou me sentindo horrível.

— Sinto tanto por isso Anne — ele fala doce em meu ouvido — não sei a dor que você sente mas eu estou aqui para você.

— Eu pensei que você me odiaria ao saber que eu não estou aguentando esse peso, Gilbert — o encaro e ele seca minhas lágrimas, gentilmente.

— Não posso odiá-la por sentir, Anne. Eu não sei o que ele representou em sua vida, e nem o que você representou na vida dele. Mas você não é a culpada por isso.

Eu não sou a culpada por isso.

— Eu sabia que ele estava enfrentando um momento delicado.

— E ligou para ele todos os dias — ele me lembra — talvez ele já estava dizendo adeus, e nós não podemos nos culpar por isso.

— Comentários maldosos, pessoas desejando a morte dele Gilbert.