Quatorze

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Lembranças podem variar tanto quanto o humor.

(Esse capítulo é narrado por Gilbert e sua viagem e seus novos amigos)

Talvez por um instante você se questione sobre sua verdadeira existência, ou, ao menos procure dentro de si um motivo específico para ter sido criado no meio de sete bilhões de pessoas, e ter se apaixonado justo por uma garota a qual jamais se permitiria sentir o mesmo que você.

O mar ora calmo, ora agitado, lembrava-me exatamente da jovem ruiva e cheia de personalidade deixada em Springdale, era impossível olhar para a mudança de estado do mar e não se lembrar de sua mudança de humor repentina.

Ora está me beijando.
Ora está me chutando.

O amor deveria ser proibido para algumas pessoas. Inclusive para ela.

Puxo meu celular do bolso e o sinal do wi-fi está fraco. Mesmo assim não me impede de receber a notificação de solicitação para seguir-me no Instagram.

Anne.Shirley-Cuthbert pediu para te seguir.

Bloqueio o celular e o coloco no bolso. Qual seria sua atitude agora, dizer que eu fui invasivo e a deixei completamente exposta aos comentários ridículos das pessoas do colégio? Eu não suportava tamanha imaturidade, por mais que talvez eu entendesse que ela era uma garota com um passado sombrio e cheio de dor. Mas, nem sequer parar para pensar no tamanho da minha dor ao dizer que deixaria aquela vida para trás? Eu ainda não conseguia decifrar a mente enigmática de Anne Shirley, e sem dúvidas ela certamente não entendia a minha.

Optei por esquecê-la ao menos durante essa viagem, eu sabia que em breve voltaria para Springdale, mas talvez isso devesse ser segredo, ninguém precisava saber quando eu voltaria, talvez nem eu saiba quando isso irá acontecer, contudo, certamente será sem aviso prévio.

Poucos sabiam onde eu estava, a única pessoa que sabia e tinha meu contado era Mary, minha governanta, que a pouco havia perdido o filho único para o mundo do crime e dedicou fielmente seu cuidado e carinho materno a mim, apesar de ter aproximadamente seus trinta e cinco anos. Meu pai a adorava, e confiava fielmente em seu cuidado comigo.

Desvencilho da borda do navio, e caminho rumo ao meu quarto, já era quatro da madrugada e eu mal conseguia pensar. Desde que vi a solitação de Anne, sinto-me tentado a aceitar e perguntar a ela como estava, mas eu não podia. Seria simplesmente constrangedor demais além de ser chutado e ofendido pessoalmente, ser ofendido virtualmente, por algo que eu sei que ela também queria, tanto quanto eu.

O navio balança conforme as ondas o levam, e eu adorava a sensação de liberdade e ao mesmo tempo adrenalina por estar em alto mar. Caminho olhando para o chão quando repentinamente, sinto alguém esbarrar em mim sem nenhuma cautela.

Ajeito a postura e encaro a jovem loira de olhos azuis olhando-me com vergonha, suas bochechas estão avermelhadas e seu sorriso um tanto sem jeito.

— Me perdoe — ela diz — eu não o vi.

— Eu também não a vi — ajudo-a a se recompor. — Me chamo Gilbert — falo de imediato.

— Meu nome é Winifred — ela diz ajeitando os cachos que balançavam conforme ela se arruma.

Estendo a mão e ela a ignora dando um beijo em minha bochecha.

Anne With An E - Sec XXI (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora