O BEIJO DA MORTE

29 5 0
                                    

CAPITULO QUINZE
O BEIJO DA MORTE

Quando acordou, Patriano percebeu que Troio não estava no quarto. Na última noite, o Castelo de Sombras havia mudado pelo menos quatro vezes de localização. As coisas começavam a cooperar com o garoto.
Sayo, gradualmente, era reconhecido como o poderoso Rosa-Vermelha da profecia. A consciência de Nasca despertava para ele.

O rapaz estava no seu quarto, no Castelo de Sombras, e andava de um lado para o outro, mirando o espelho, que há algum tempo havia mostrado a figura de Troio. O espelho o incomodava a tal ponto, que ele pegou um lençol e o cobriu.

Não queria mais olhar para aquele Sayo perdido, triste, que não reconhecia como sendo ele próprio, um garoto feliz e sem preocupações. O pior de tudo era saber que o causador de toda aquela desgraça havia sido ele próprio. Por conta da profecia, os Rosas-Vermelhas haviam morrido e agora seu próprio irmão tentava matá-lo.

– Sayo, meu filho, partiremos esta noite – falou Patriano do outro lado da porta. Ele imprimiu à voz um tom protetor.

– Para aonde iremos? – perguntou Sayo interessado.

– Troio sugeriu a aldeia Fortificada, mas a morada dos gatos não é segura para você, a maioria deles é aliada de Gaio. Vamos para a floresta, lá iremos treina-lo.

– Está certo.

O garoto nem se deu ao trabalho de abrir a porta e falar cara a cara com Patriano. Procurava evitá-lo ao máximo, não se sentia mais à vontade com o próprio “pai”. Preferindo a companhia e o afeto de Sofonias, com quem se sentia totalmente à vontade.

Patriano saiu da frente do quarto de Sayo, nitidamente irritado com o garoto, por não ter aberto a porta. Ele foi ao encontro de Sofonias na sala instrumental.

– Onde fica a sala instrumental na imensidão deste castelo? – Patriano imaginou que o Castelo pudesse responder, mas nada aconteceu. Deduzira mal.

Tão logo ele formulou este pensamento, pequenos passos se formaram no piso do castelo, como se fossem pés afastando a névoa para o lado. Ele seguiu as pegadas que desapareceram na frente de uma entrada sem porta.

– Sofonias você está aí? – Patriano ficou impressionado com a bela música que vinha de dentro da sala instrumental.

– Sim, Patriano. 

Sofonias saiu de trás de um piano.

– O que gostaria de falar comigo? – Patriano tirou do bolso uma grande barata cascuda se contorcendo, que era a holofor que Sofonias havia enviado.

– Não vai fulminar este inseto asqueroso? – perguntou Sofonias.

– Dou-lhe a honra – respondeu Patriano.

Sofonias, com certa repulsa, lançou a descarga elétrica, que explodiu a barata ainda na mão de Patriano.

– Como você foi capaz de matar o meu povo? – falou Sofonias desolado.

– Já falamos sobre isso. Agar assustou todos nós, quando revelou que quem iria destruir Nasca, seria um Rosa-Vermelha. Tente entender, todos estávamos com medo do que a profecia falava. Me arrependo muito de ter acreditado em Agar e provocado tantas mortes – respondeu Patriano, enquanto limpava a gosma marrom da barata em sua roupa.

– Não consigo entender. Porque tanta crueldade da sacerdotisa. Apesar de poderoso, Sayo nunca faria mal...

– O plano já está muito bem detalhado. Sayo vencerá Gaio em um duelo e, finalmente,  viveremos em paz – falou Patriano, muito seguro.

– Sinceramente, acho que você e Troio, estão propondo uma missão suicida para o garoto – concluiu Sofonias.

– Não se preocupe, ele é capaz. Sayo deve se apossar do reino e restabelecer o equilíbrio. Vamos treiná-lo, para que ele desenvolva todo seu potencial.

– E se Gaio o encontrar antes?

– Eu e Troio...

Antes que pudesse completar a frase, o Castelo de Sombras estremeceu. Sofonias e Patriano se seguraram nos instrumentos musicais. Perto do violino, um cristal brilhou. Patriano atraiu a holofor com o poder da eletricidade e a ativou. Projetou-se a imagem dos anciões, no observatório do Castelo, em uma calorosa discussão.

– Vamos para o observatório – falou Patriano.

Por um instante, o castelo parou de tremer. Eles andaram apressadamente e deixaram a organificação da holofor para trás. Foram pelo corredor e subiram a escadaria que dava no observatório.

– Onde? Onde? – gritou Norto nervoso.

– Ali, duas mensageiras da morte.

– Duas o quê? Como isso é possível? Mensageiras? – Patriano atravessou rapidamente o observatório e encostou seu olho direito no telescópio, visualizando as mulheres sem vida, que ardiam em fogo, como duas bolas incandescentes – Temos que tirar Sayo do castelo, agora mesmo.

– Mas, como? Mensageiras da morte. Elas obedecem apenas às ordens de Gaio. Por acaso o soberano já sabe a localização do garoto? – perguntou Miriá intrigada.

– Provavelmente. De qualquer forma, agora não é hora de questionamentos. Temos que tirar Sayo daqui com segurança, antes que o exército dos territórios invada o castelo e nos matem a todos – falou Patriano.

O último soberano legitimo foi em direção ao quarto de Sayo. Como a porta ainda estava trancada, ele lançou uma corrente elétrica na maçaneta e a arrombou. A cena que presenciou foi terrível.

Uma das mensageiras da morte estava muito próxima da janela do quarto. Com chamas vivas ao redor do corpo ela derretia as paredes semissólidas do Castelo, à medida em que se aproximava, ferozmente.

Sayo conjurou um escudo elétrico rudimentar. Seus poderes não estavam totalmente desenvolvidos e oscilavam de potência.

– Sayo! – Patriano se atirou em cima do garoto, tentando protegê-lo do cometa de fogo que vinha com toda velocidade.

Os anciões estavam nos calcanhares de Patriano, e correram mais rápido, quando escutaram os gritos.

– Ajudem-nos. Meu filho é nossa única esperança. Ele não pode sucumbir à morte.

O quarto estava em chamas. Miriá tirou do bolso um saquinho surrado, contendo alguma coisa, que parecia tentar escapar. Ela jogou sementes saltitantes, que logo foram devoradas pelo piso do Castelo, e soprou um pouco de pólen mágico, que também estava no bolso. Rapidamente, um paredão de plantas se formou e a abertura por onde a mensageira da morte se aproximava ficou vedada pela espessa vegetação.

**************************************

se estiver gostando da historia não esquece de votar e deixar seu comentário. Obrigado : )

**************************************

A HISTÓRIA DAS ROSAS- A ascensão de Sayo {LIVRO COMPLETO}Onde histórias criam vida. Descubra agora