24. fúria

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Mia Berner


Mia finalmente deu a última volta na trança atrás de seu cabelo, o prendendo em um perfeito coque seguido por duas tranças que terminavam em sua franja. Tudo perfeitamente milimetrado, assim como ela gostava. Olhou para cama pelo espelho à sua frente. Vazia. 

Acordou com o cantarolar único dos pássaros e o sol iluminando sua face. Sorriu em resposta ao despertador natural. Sentia seu corpo bem mais forte e leve, o que uma noite bem dormida não faz, certo? Assim que estendeu o braço para abraçar o homem que supostamente deveria estar ao seu lado, sentiu apenas o impacto do braço no colchão. Nada que ela não devesse esperar... certo?

A janela aberta denunciava o modo sorrateiro em que ele havia saído de seu quarto, e aparentemente tinha levado algo com ele. O casaco militar parecia não estar em canto algum, não importava o quanto a loira procurasse, nem o soldado e muito menos sua roupa estava mais lá.

Ajustando o último botão de seu vestido, pensou em qual significado tudo isso tinha. Ele fugiu novamente e isso era mais que óbvio. Ele queria que ela se afastasse mais do que qualquer coisa, e tudo que ela tinha feito até o momento era desobedecê-lo. Perguntou a si mesma se merecia toda essa rejeição. Levi tinha medo de muitas coisas, apesar de não demonstrar. Será que um desses medos era de se apaixonar por ela?

Não queria relembrar as últimas palavras que ouviu de Levi antes de adormecer, mas elas não conseguiam parar de atormentar sua mente. Se sentou em sua cama e inclinou-se em cima do travesseiro que o homem havia repousado. Aquele cheiro de gengibre continuava ali, e só podia ser algum tipo de tortura determinada à uma mulher impura como ela.


- Ele vai morrer, Mia. - sussurrou para si mesma. - Você não merece essa dor novamente Mia. 


Apertou os lábios um no outro, tentando prender um soluço que teimava em querer sair. As lágrimas já saíam lentamente de seus olhos. Teria que aceitar, tinha que se conformar. 


Ele não era homem para ela.


Levantou-se em um pulo quando ouviu a porta bater suavemente. Sua casa estava mais movimentada do que o esperado nos últimos dias, pensou. Sempre que ouvia a maldita porta bater sentia uma ponta de esperança no coração, juntamente com um grande calor que se seguia. Mas sabia que dessa vez não seria ele, na verdade tinha uma ótima ideia de quem estava atrás da porta.

Limpou as lágrimas de seu rosto e correu em direção à pequena sala, parando em frente a porta. Sentia que devia ter ensaiado um discurso para esse momento, mas nada do que tinha acontecido nos últimos dias parecia ter sido ensaiado. Esse momento não devia ser diferente, certo?

Pôs a mão na maçaneta e em um suspiro de coragem, prendeu a respiração, finalmente abrindo a porta. 


- Oi, Halpert.


- Oi, Mia.



A sua frente estava um homem cabisbaixo, com pequenas bolsas embaixo de seus olhos, não havia dormido obviamente. Os cabelos geralmente arrumados estavam em um grande emaranhado vermelho, enquanto canto de sua boca estava com um roxo perceptível, tentou não sentir pena, afinal essas foram as consequências de seus atos. 

Se encararam por alguns momentos, Mia esperava que o homem começasse com algo, mas a única coisa que ele parecia conseguir fazer naquele momento era olhar para baixo e brincar com os próprios dedos. Parecia uma criança que recebeu um sermão. Sorriu com o pensamento e finalmente tomou coragem para lhe dirigir a palavra.

Comeback | levi ackermanOnde histórias criam vida. Descubra agora