32. "Eu vou na frente"

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Levi Ackerman


Sua mão vasculhava pela madeira seca, em busca do macio pálido da pele da garota ao seu lado, mas nada sentiu, apenas a plataforma irregular. 

Abriu o olho lentamente, piscando várias vezes para se adaptar à claridade do sol. O campo verde se seguia pela floresta, e ela não estava ao seu lado. Sentindo dores no rosto e câimbras por todo o corpo, se levantou com certa dificuldade. 

Quando a visão deixou seu embaraço, viu que todos estavam acordados se preparando para partir. Estava agora, dentro de uma das carroças que levavam os suprimentos, sentado em cima do cobertor. 


- Estou tão inútil que não percebi que me carregaram? - pensou Levi. Olhou para os lados e a encontrou.


Ela conversava com Jean, tinha uma das mãos dele entre as suas. O olhar do garoto era triste e culpado, mas suas bochechas estavam vermelhas. Mia não podia o ver, pois estava de costas para a carroça. 

Os cabelos cor de ouro flutuavam junto com o vento, e Levi a olhou de cima a baixo. Usava um uniforme da polícia militar e percebeu que nunca tinha visto ela usando calças, se tivesse visto antes com certeza seria algo preocupante.

A roupa ficava minimamente apertada na garota, fazendo o soldado respirar fundo. Seus cabelos estavam mais curtos, havia percebido na primeira vez que a viu, mas a situação não o permitiu que mencionasse isso.

O pouco cabelo mostrava melhor seu rosto delicado e lhe caía bem nos ombros. Mesmo no fim do mundo, ela estava linda como sempre.

Olhou para Jean novamente, o rosto do garoto já tinha barba, coisa que Levi nunca possuiu. Ele era mais alto que Mia, fazendo a garota levantar a cabeça para olhá-lo. Ainda não havia esquecido o que ele fez ontem com ela, podia ver a dor a cada movimento que ela fazia, estava tão furioso quanto na noite passada, mas algo transpassava esse sentimento obscuro.

Era ciúmes e... Inveja. Os traços de Jean estavam todos ali, a carne do rosto dele estava ali. Os dois olhos castanhos, a boca continuava completa. Viu os dedos da loira tocarem os dele e sua barriga se retorceu. 

Agora ele era apenas um pobre homem desfigurado. Não podia olhar para ela com os dois olhos. Ela nunca ia sentir a boca de Levi macia contra a sua, não com uma cicatriz bem no meio dos lábios. 


Se perguntou se ela sentiria nojo quando apenas três dedos tocassem em seu corpo.


Mesmo ficando pouco tempo levantado, Levi já sentia seu corpo cansado. Deitou-se novamente na madeira mal cortada e observou o céu azul, assim como os olhos dela.

Suspirou pesadamente e mesmo sem perceber, adormeceu.




Mia Berner


Eram duas carroças, uma atrás e outra guiava o caminho. Mia pôde sentir que havia uma segregação, em veículo dos adultos para o dos adolescentes, e ela havia ficado no dos adolescentes. 

Para todos os efeitos, ambas as carroças possuíam um silêncio pesado, principalmente a que estavam. A tensão entre Reiner e Jean pendia no ar como uma nuvem escura, todos sentiam mas ninguém ousava tocar no assunto.

Mais cedo, quando todos estavam desfazendo o "acampamento" e carregando as carroças, Jean veio de encontro à loira, com um penoso pedido de desculpas. A enfermeira sentia que o garoto havia escolhido aquele momento, pois a todo tempo ela havia ficado do lado de Levi, mesmo que ele estivesse adormecido. 

Comeback | levi ackermanOnde histórias criam vida. Descubra agora