Não solte minha mão, por favor

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O jantar havia sido tranquilo aos olhos de Jason e Gustavo que conversavam como se fossem amigos de longa data. Mas aos olhos das amantes havia sido horrível. O clima entre elas estava tenso, pois Ana desviava o olhar toda vez que Paola olhava para ela. Não se sentia bem em olhar para Paola, seu coração estava confuso e dolorido, não aguentava ver os olhos de Paola sem brilho e se sentir culpada por tê-lo tirado. Fingia prestar atenção na conversa, mas era impossível, seu coração lhe avisa que tudo isso estava perto de acabar. Sentiu a mão de Gustavo apertar a sua e lhe sorrir. Ela e o marido haviam se entendido após a mesma negar a traição, mesmo sua mentia gritando a verdade. Gustavo desviou o olhar e Ana olhou para Paola que estava de cabeça baixa e brincando com suas mãos. Sabia que ela estava nervosa ou incomodada com algo. Olhou com raiva para Jason, mas logo forçou um sorriso quando o mesmo olhou para ela. Ela queria mais que o irlandês sumisse do mundo para sempre.

Paola olhou para as mãos de Ana e Gustavo juntas, sentiu seus olhos arderem, seu coração chorou por dentro, tentado aliviar a dor que se instalava alí. A sua realidade não era mais a que ela queria. Há anos queria outra realidade que não tivesse Jason, mas ela mesmo o trouxe para sua vida assim que correu atrás dele, achando estar apaixonada. Não aguentava mais guardar do mundo o verdadeiro amor que a fazia suspirar. Se sentia sufocada com tanta mentiras e segredos, seu coração pedia uma trégua dessa confusão que havia se tornado. Mas várias perguntas sem respostas rodeavam sua mente, a deixando mais angustiada que já estava. Ana Paula largaria tudo por ela? Não daria bola para os comentários maldosos e preconceituosos sobre elas? O amanhã terá a resposta para todas essas dúvidas? Paola ouvia a voz em sua mente gritar vários nãos. Já seu coração implorava que a dor sumisse e o deixasse bater sem culpa.

- Com licença, preciso ir ao banheiro. - Paola se levantou e subiu as escadas, havia sido uma mentira para poder chorar sozinha.

Paola sabia que nada voltaria como era antes, sempre terá algo para atrapalhar e que assim que viu Gustavo em sua casa, o mundo que havia criado com Ana se desfez em segundos. Se apoiou na bancada da pia assim que entrou no banheiro. Já estava tudo planejado em sua mente, pediria o divórcio, Ana também e assim que tudo fosse resolvido, falaria ao mundo que se amam. Mas tudo se desmoronou, deixando seu coração agoniado e ferido. Deixou as lágrimas escorrer por seu rosto, sentido o ar faltar e a garganta se fechar.

- Pao, está tudo bem?

Carosella ergueu sua cabeça e olhou para Ana que se desesperou ao vê-la chorando. Limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto da cozinheira, mas era impossível controlar. Viu dor nos olhos da mais alta.

- Eu não aguento mais essa dor. Duele tanto mi corazón.

- Não posso prometer que irá parar.

- Até quando Ana? Até quando isso tudo vai durar?

- Eu não sei, meu bem.

Acariciou o rosto molhado e olhou no fundo dos olhos de Paola, tentava se mostrar forte, mas estava a ponto de desmoronar novamente. Se aproximou e beijou os lábios dela com carinho, torcendo que isso acalmasse os dois corações. O beijou ficou mais profundo, Ana empurrou Paola contra a parede e abraçou seu pescoço, sentido a cozinheira abraçar sua cintura. Paola sentia que o coração de Ana estava longe do seu, a magia estava diferente, o beijo não tinha mais o mesmo gosto. Porque tudo estava desmoronando?

- Eu tenho que ir. - Ana comentou assim que desfez o beijo.

- Amanhã vou levar a Fran no parque, quer ir com a gente?

- Não perderia por nada. - sorriu com sinceridade. - Encontro vocês lá. Fique bem, meu amor.

Ana saiu do banheiro após dar uma última olhada em Paola. Aproveitaria todo o tempo do mundo que tiver com ela. Pois o amanhã pode não ser prometido.

...............

O sábado estava ensolarado, iluminando todo o parque. Crianças corriam atrás de bola, outras brincavam de pular corda e outras preferiam ficar mexendo no celular. Paola olhava Fran correndo atrás de outras crianças enquanto gargalhava alto. A loirinha era tudo que a chef tinha, ela era o principal motivo de viver e amar a vida. Não imaginava viver sem sua filha, era ela que tirava toda a dor do seu coração, que a fazia sorrir e agradecer a Deus por tê-la. Sentiu alguém sentar ao seu lado, olhou para o lado e viu os olhos escuros que tanto amava. Seu sorriso se abriu mais ainda e seu coração se acelerou.

- Achei que não viria.

- Eu prometi, não podia deixar a minha loirinha na mão.

- Ela ficará feliz em te ver.... Ainda mais que usted trouxe o Mané. - acariciou os pelos do cachorro que latiu em resposta. Ana sorriu para Paola, seu coração havia ficado um pouco em paz assim que chegou e a viu sentada no gramado verde.

Viram Fran correr em direção a elas. Ana se levantou de braços abertos para receber a pequena. Abraçou com força a menina que também retribuiu o abraço.

- Você veio, tia Ana! E trouxe o Mané! - desfez o abraço e chamou o cachorro para brincar.

Ana voltou a sentar ao lado de Paola, mas olhou para frente, o clima havia ficado tenso derrepente, como se fossem duas estranhas.

- Está tudo bem entre a gente? Você ficou estranha comigo.

- Eu não sei, Paola. Tudo parece tão duro de aceitar. A realidade está me cobrando algo que deixei de cumprir.

- O que deixou de cumprir?

- O meu papel de esposa, de dar atenção para o marido... Mas sinceramente eu não consigo mais fingir que tudo está normal, que nada mudou em minha vida. A culpa me tira o sono. Quando vi Gustavo em sua casa conversando com Jason, senti que nosso mundo feliz desmoronou e a realidade atingiu em cheio. E se Jason está colocando ideias na cabeça de Gustavo?

Paola sentia agonia na voz de Ana. E ela não estava diferente. Puxou Ana seus braços, a jornalista encostou sua cabeça no ombro da mais alta, aproveitando o abraço. Rezava pra que toda essa dor acabasse e assim poderem viver em paz.

- Não vou dizer que não está porque sei que ele desconfia de nós. Essa não é a mais a realidade que quero. Nosso mundo pode ser mais feliz, basta a gente pedir divórcio e assim que a poeira baixar, falaremos que estamos juntas. Só basta querer, Ana. Você sabe que largo tudo por você.

- Não é assim que as coisas se resolvem, Paola. Somos duas pessoas públicas e ainda por cima mulheres, não será um mar de rosas nossas vidas. O preconceito será grande, irão inventar inúmeras manchetes sobre nós.

- Pelo amor de Deus, Ana! Não pense negativo. Eu não vou deixar que nada aconteça com você. Eu te amo e nunca machucarei o seu coração.

Ana não sabia mais no que pensar. Sentia vontade de beijar Paola alí mesmo, sem se importa com as pessoas em volta, mas a sua realidade a impedia de fazer tal ato. O problema não era Paola e sim consigo mesmo. Ela queria poder amar Paola sem medo, sem culpa, apenas ser livre do certo que a sociedade impôs. Já Paola se sentia dividida entre seguir ao lado de quem não ama para manter as aparências ou largar tudo e viver esse intenso amor com Ana.

- Não solte minha mão, Ana, por favor. - suplicou com a voz embargada enquanto olhava para o céu.

- Eu não posso lhe prometer algo que talvez eu não vá cumprir. Nesse momento e na situação que nos encontramos, não podemos fazer promessas. Infelizmente sempre há uma consequência.

- A consequência fere o meu coração.

Nada estava como antes, a magia havia enfraquecido, o coração se encontrava em uma encruzilhada de dúvidas e sofrimento. E não se sabia quando todo sofrimento acabará. Talvez algum coração sairá machucado.



Num piscar de olhos, assim como fumaça
Você pode perder tudo, a verdade é que nunca se sabe
Então vou te beijar por mais tempo, amor, qualquer chance que tiver
Eu vou aproveitar ao máximo os minutos e amar sem arrependimentos

Então vamos usar nosso tempo para dizer o que quisermos
Usar o que nós temos, antes que tudo se vá
Não, o amanhã não nos é prometido


She (✔️)Onde histórias criam vida. Descubra agora