Devaneios

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Paola POV

Pela milésima vez no dia eu suspirei. Larguei a faca que estava em minhas mãos e encostei meu quadril na bancada. Estava na cozinha do Arturito, que estava muito cheio por sinal. Passei as costas da minha mão esquerda em minha testa. Minha vida estava uma bagunça! Meus pensamentos estavam à mil por horas, me deixando mais nervosa que já sou. Apoio minhas mãos na bancada e abaixo minha cabeça. Não estava fácil conviver diariamente com esses pensamentos confusos. Pensamentos esses que me deixam a duvidar do certo e do errado. Pensar que eu, uma mulher casada, ser apaixonada pela melhor amiga e colega de trabalho. Sim, vocês leram certo. Eu, Paola Carosella, sou perdidamente apaixonada por Ana Paula Padrão. Embora eu acha super errado idealizar uma vida que não seja com o meu marido. Porém, é difícil não pensar em Ana, em seus lindos olhos escuros, em seu sorriso contagiante, em seu corpo atraente, em seus traços angelical e em suas sábias palavras.

Voltei a cortar a carne que minutos atrás estava cortando. Suspirei mais uma vez. Suspirar estava fazendo parte do meu dia a dia. Suspirar por ela era algo comum desde que eu descobri minha paixão (amor) por Ana. Nunca em toda a minha vida, pensei que me apaixonaria por uma mulher. Como diz aquele velho ditado: Nunca diga dessa água não beberei. Por muitas vezes eu disse, até quebrar a cara e me apaixonar por Ana. Pensar nela assim no começo foi assustador, pois nunca pensei que a bissexualidade fosse para mim. Mas com o tempo fui entendendo que não podemos escolher por quem se apaixonar. Meu coração escolheu bater por ela, escolheu apenas bater por sua doce voz. Mas penso que nunca será recíproco. Ana é uma mulher casada também, vive feliz com o seu marido. Até um certo ponto, Jason me fez feliz. Mas agora eu não consigo mais ter tanto entusiasmo com o nosso casamento.  Não sei qual seria a reação do meu marido ao descobrir que sou apaixonada pela minha melhor amiga, essa que ele não faz muita questão de gostar.

- Carajo! - xinguei ao cortar o meu dedo.

Larguei a faca longe de mim e segurei o meu dedo no local machucado.

- Está tudo bem, chef?

Concordei rápidamente com a cabeça.

- , não foi nada. - garanti e fui até a pia em minha frente. Abri a torneira e coloquei meu dedo em baixo d'água. Não havia sido um corte profundo, mas precisaria de um curativo.

Rápidamente fechei a torneira. Peguei um pano de prato e coloquei no meu dedo cortado. Saí da cozinha e fui para o meu escritório. Quando se saía da cozinha, dava para ver o salão todo, pois a cozinha ficava na parte de cima do restaurante. Vi o quão cheio estava. Segui meus passos até meu escritório e entrei nele. Puxei o lenço vermelho de minha cabeça e fechei a porta. Bufei indo até a minha gaveta da minha mesa, abri em busca do kit de primeiros socorros. Ao encontrar, coloquei em cima da mesa e fechei a gaveta. Abri a pequena maleta e peguei o ensecial para fazer um curativo. Larguei o pano de prato na mesa e comecei a fazer o curativo. Cada movimento era um pensamento de como eu perdi as rédeas da minha vida. Mas sempre que penso em Ana, meu coração se aquece. Penso também em quanto a Fran é louca pela tia princesa. Elas são unha e carne, não se desgrudam nunca! E quando se desgrudam, é um drama só! Mas eu amo vê-las juntas. Termino de fazer meu curativo e guardo as coisas.

Caminho até a pequena estante que havia no escritório, procuro por meu querido vinho argentino Merlot. Ao encontrá-lo, pego ele e uma taça. Caminho até minha cadeira, deposito a garrafa e a taça na mesa e me sento. Sorrio ao abrir e sentir o seu doce aroma que me lembrava o de Ana. Me servi um pouco e tomei um gole generoso. Seu gosto era suave, mais frutal e deixava o um gosto aveludado na língua. Acho que esse deve ser o gosto dos lábios de Ana. Ou talvez melhor ainda. Terminei a primeira taça e logo fui para a segunda. Eu sei que é inapropriado beber em serviço, mesmo eu sendo a dona.
Eu já estava na quinta taça e acho melhor eu parar. Depositei a taça na mesa e fechei o vinho. Me levantei colocando o lenço de volta na minha cabeça. Eu precisava trabalhar sem deixar que os sentimentos atrapalhasse.

<•>

- MAMA!

Ouvi Fran gritar ao me ver passar pela porta de casa. Minha loirinha venho correndo em minha direção e chocou seu pequeno corpo contra mim. Peguei ela no colo e enchi seu rosto de beijos.

- Que saudade, meu amor! - falei olhando em seus lindos olhos azuis. Ela sorriu e deu um beijo em meu rosto.

Já era tarde. Eu saí do Arturito quando o último cliente foi embora. Olhei para Fran e fiz uma careta.

- ¿No deberías estar en tu cama?

Fran escondeu seu rosto em meu pescoço.

- Mas hoje é viernes, mama. Y yo quería te esperar. - disse enquanto brincava com o meu colar.

- Todo bien, mi amor.

Dei mais um beijo em seu rosto e a coloquei no chão. Caminhei até a cozinha e encontrei Jason sentado no banquinho da bancada.

- Oi, Paola. - se levantou e me deu um selinho. Apenas sorri sem mostrar os dentes.

Caminhei até a geladeira, precisava muito beber água.

- Porque a Fran no está en su cama?

Ele me olhou e deu de ombros.

- Ela queria te esperar.

Suspirei e tomei a água que eu havia pego na geladeira.

- Amanhã estou indo para Londres.
I will stay two weeks. - se levantou e me abraçou. Concordei sem falar nada.

- MAMA! - Fran entrou na cozinha correndo. - A tia Ana pode vir almoçar aqui amanhã?

Seus olhinhos transbordava de felicidade. Ao escutar o nome de Ana, Jason se afasta de mim bufando e foi até a geladeira.

- No sé, mi amor. Tem que ver se ela vai estar disponível.

- Então manda uma mensagem para ela!

Eu estava nervosa com a possibilidade de ver Ana amanhã, depois de uma semana sem vê-la. Sorri para Fran, seus olhos estavam iguais de cachorro que caiu da mudança. Não poderia negar isso para ela, mesmo que Jason não goste de Ana.

- Todo bien, girasol. Mañana mandaremos uma mensagem para ela. - garanti e vi seu lindo sorriso.

- Obrigada, mama! - me abraçou. - Mas não esqueça de pedir para ela trazer o Mané!

Deu um beijo de boa noite em mim e em Jason e saiu correndo da cozinha.

- I'm glad I'm leaving tomorrow. - Jason resmungou e saiu da cozinha.

Revirei meus olhos. Não sei porque ele não gosta da Ana, nunca me disse. Mas não quero pensar nisso agora, tenho que me preparar para amanhã. Amanhã irei ver a mulher que rouba meu sono e minha sanidade.

She (✔️)Onde histórias criam vida. Descubra agora