Capítulo Cinco.

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Tentação

  E, como planejei, arranquei de John suspiros e olhares profundos, repletos de malícia. Certo que ele era muito controlado, não se jogou encima de mim, não me jogou cantadas; era um puta 'cavalheiro', um irritante homem com autocontrole admirável. 

— É só um jantar, Rachel. — Falou John. 

— Eu sei, mas já que vou sair dessa casa, considere um evento histórico. 

— Evento histórico?

— E eu não posso ir ao um evento histórico de moletom e tênis, posso? 

— Definitivamente, não! — John sorriu. — Vamos? 

— Vamos! 

Levamos menos de vinte minutos para chegar ao restaurante escolhido. Não era nada muito sofisticado, mas o clima era bom, com iluminação de leve para média, cores amenas com bege e marrom, e poucas pessoas. 

  Pedimos as refeições, e agora, silêncio à mesa. John reparou nos olhares por mim fisgados, homens sem nem um pingo de vergonha, que me olharam como se a sua frente estivesse um pedaço de carne; um delicioso pedaço de carne. 

— Então... O que você costumava fazer no último lugar em que esteve, Rachel? 

— Bem... Eu ia à universidade em todos os dias da semana, e nos fins de semana, saia para me divertir. Era ótimo... 

— Você estudava magistratura, sim? 

— Aham... Mas isso é um sonho perdido, eu nunca vou conseguir terminar sequer o primeiro ano. Sempre mudando, sempre tendo que deixar tudo pra trás... É uma droga, John... 

— Imagino... — Ele pigarreou, e afrouxou a gravata azul. — E... Como costumava se divertir? 

— Isso tá mais parecendo uma entrevista, John — Sorri de lado, e lhe dei uma piscadela. — Mas... Eu saia pra dançar, a maioria das vezes sozinha, mas sempre encontrava alguém legal pelo caminho. Ah! E também costumava assistir a shows de rock, mas isso foi me incomodando... As bandas, na maioria das vezes, estavam incompletas! 

— Melhor assistir aos shows antigos, em casa... Não dá pra prever quando Axl Rose vai brigar com a banda de novo — John deu uma risadinha, e sorriu. 

— Ou quando Ozzy vai comer um morcego, ao vivo! 

— Meu deus! Ele fez isso mesmo... Eu custei a acreditar! 

— Eu queria ter visto... 

— Não, não... Deve ter sido um horror! 

— Acho que foi, e o ingresso nem teria valido a pena. — Dei de ombros, e John sorriu. 

— É... Você é jovem demais pra estar nessa, Rachel. 

— Nessa? — Estranhei. 

— Am... Você sabe... Nessa de ir e vir, ir e não ficar. 

— Ah! Então diga isso pra minha mãe. 

— Acho que mal arranja tempo para um namorado ou... 

John permaneceu sério enquanto meu sorriso largo e malicioso preencheu os lábios. 

— Não tenho muito tempo pra namorar, John. — Debrucei-me ligeiramente sobre a mesa, e sorri. — Mas fazer sexo com com um aleatório é completamente diferente de se prender a alguém. Pra isso, eu tenho todo o tempo do mundo. 

— Não devíamos estar falando disso... — Murmurou, visivelmente desconfortável. 

— Foi você quem perguntou, querido. — E me ajeitei na cadeira, mantendo minha posição reta como antes. 

— Rachel... — Agora, John foi quem se debruçou sobre a mesa.— Se você não fosse filha de quem é, não estaria brincando assim comigo. 

— Brincando? — Me fiz de boba, abalando o sorriso em meus lábios comprimidos. — Eu não sei do que está falando, John. 

— Não? 

— Não... Pode me explicar? — Sibilei. Me debrucei ficando face a face com John, contornei seus lábios perfeitos com a ponta do meu indicador, e ele não se moveu; estava tão curioso quanto eu. — Você é tão sexy quanto dramático. 

— Seus pedidos. — O garçom anunciou sua chegada. John e eu nos afastamos no exato segundo. 

— Obrigada! — Sorri satisfeita, como se nada daquilo tivesse realmente acontecido. 

E John, por outro lado, não me tirou seus olhos curiosos. 

E assim seguiu durante todo o jantar, que pareceu interminável. 

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 Voltamos para casa, não havia muito mais o que fazer depois do jantar estranho barra agradável - Ao menos para mim foi.. muito agradável! -. 

John me ignorou da saída à chegada. Chegamos a sala, ele tirou seu terno e o deixou sobre um dos sofás, rumou até a estante de bebidas e se serviu de conhaque. Tudo isso enquanto eu o assistia em pleno silêncio. 

— Ah... Eu também quero... — Aproximei-me, pegando John de surpresa e com cara de paisagem. Peguei o copo da sua mão e Beberiquei, olhando-o sem piscar. — Hum... Que delícia, John. 

— Rachel... — Ele suspirou. — Melhor ir dormir, tá bem? 

— Ou... A gente pode sentar e conversar. — O guiei até o sofá maior, o fiz sentar-se e me sentei ao seu lado, logo lhe devolvendo o copo. — Me diga, John... 

— Hum? — Ele jogou a cabeça para trás, olhando para o teto, enquanto respirava fundo. 

— Por que você se faz de cego? 

— Eu? — Ele voltou a me olha, e virou seu corpo para mim. — Rachel, isso é loucura... 

— Mas nem fizemos nada. — Dei de ombros, olhando-o inocentemente. 

— Mas você quer que façamos. Eu não imaginei que seria tão difícil tê-la aqui. 

— É difícil porque você se segura, e eu admiro sua força de vontade, mas... Isso me faz querer mais, e vai chegar uma hora em que... Ah! Você também vai querer. 

— Você fala como se me conhecesse. — John sorriu com desdém. — Mas não me conhece, Rachel... E se me conhecesse de verdade, o espaço entre nós neste sofá seria o maior possível. 

Talvez ele tivesse conseguido desmontar metade dos meus pensamentos atrevidos. 

— Quando vim morar com você eu pensei que fosse um velho chato, assim como todos os amigos do papai... Digo, os que consegui conhecer! Mas você dificultou as coisas John. — Sorri fraco. — Você... Tem algo que me atrai... Mas acho que de você eu não conseguirei nada, não com a mesma facilidade com a qual sempre consegui os homens.

— Então... Acabamos por aqui e tentamos ter um relacionamento amigável? 

Levantei-me e me coloquei diante de John. 

— Sinto muito... Mas eu quero o que quero.

— E o que você quer?

— Não se faça de bobo! 

— Você é muito atrevida! 

— Como se você não gostasse... 

— Eu gosto até demais; e você sabe que isso não deveria acontecer! — Ele bruscamente levantou, o rosto agora á centímetros do meu e a respiração levemente alterada. 

— Você já me esgotou por hoje... — Beijei o cantinho da sua boca. — Boa noite, John. 

Continua...

ATRAÇÃO PERIGOSA | Keanu ReevesOnde histórias criam vida. Descubra agora