Capítulo Um

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Desagradável Prazer

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1 mês depois...

O aeroporto estava muito movimentado, como de costume. Pessoas de um lado para o outro, a maioria perdida sem saber dos seus portões de embarque. Cheiro de café de cápsula, crianças agasalhadas vidradas em seus aparelhos eletrônicos, amantes se despedindo... E eu. Rachel Germanotta. 

Tudo bem, aeroportos são legais quando você os visita em datas felizes para se livrar da mesmice. Quando se tem aquela viagem tão aguardada, quando você sabe que do outro lado existem alguém ou algo bom a te esperar. Mas eu não, eu novamente me via de olhos vendados naquele aeroporto. Meu destino era Nova York, eu já havia passado por lá quando tinha meus quinze anos de idade, e passei um total de duas semanas tendo que mudar de colégio. A minha vida toda foi assim, recheada de mudanças, solidão, vazio. Não que viajar muito fosse tão ruim, mas se eu tivesse uma escolha, não escolheria a minha vida. 

A dura e séria Sra. Rose Germanotta estava ao meu lado. Nariz empinado, óculos escuros que preenchiam boa parte do seu rosto branco, casaco felpudo preto, e seu irritante silêncio. Minha mãe, aquela que eu só podia ver em natais e poucos aniversários. Entenda, ela não era a pior mãe do mundo, mas estava longe de ser uma boa, era mais uma cuidadora legal. 

A voz eletrônica soou anunciando que o meu vôo seria o próximo. Meu coração deu um pulo, a barriga começou a doer, e enfim minha mãe teve a coragem de me olhar. A ignorei completamente, me levantei e arrumei meu cabelo loiro para trás, ajustando minha bolsa no ombro. 

Ela também levantou, e tirou seus óculos, revelando a mim seus olhos azuis. 

— Espero que saiba que essa mudança é necessária. — Ela disse. 

— Bem, todas foram, não? — Indaguei sarcástica, e dei de ombros. 

— Não aja como uma criança mimada, Rachel! 

  Ela tinha aquele jeito chique, calmo e irritante de falar. Suas broncas se pareciam com conselhos, ou uma advertência pacífica. 

— Então não me trate como uma! — Retruquei ríspida

— Eu não irei ficar e pedir que me perdoe por tentar proteger você — Mamãe negou com a cabeça — Mas eu espero que saiba que, mesmo que não parece, eu amo você, Rachel. — Ela se esforçou muito para dizer isso, mas senti verdade. — Você é a minha única filha, e eu nem sei o que seria de mim se eu tivesse tido a sorte de ter uma filha, ter você. Então, quando estiver pensando em julgar minhas escolhas, pense em mim como a mãe que te ama. 

Pude ver uma lágrima seca cair dos seus olhos brilhantes, depois outra, e mais outra. Mamãe secou todas com aquela classe, passou apenas as pontas dos dedos por cada pontinho molhado e se recompôs rápido demais. Ela então tocou minha pele, acho que agora eu estava ali, de boca aberta, paralisada. Não tive reação, e então, ela me abraçou. Foi breve, e eu senti a dor de uma despedida, dor que pensei que me escaparia como das outras vezes. 

— Mãe... — Murmurei incrédula. 

— É hora de ir. — Ela vestiu seus óculos. — Faça uma boa viagem, peça para que John me ligue quando já estiver instalada. 

— Mãe! 

— Conversamos quando chegar a Nova York! 

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  Da França até Nova York gastamos mais de sete horas de viagem ao todo. Tudo cansativo, mas eu já estava acostumada. Passei por todo o processo de desembarque, aquele chato de esperar pelas malas na esteira, até o de sair do aeroporto e me ver perdida dentre tantas pessoas e correria.

E, em meio a tantos comuns, vi John. Ele me secou dos pés a cabeça, mas não tinha um jeito sujo e irritante; era doce, selvagem, misterioso... Sexy. Não, não era sexy por estar de terno, recostado em um carro de grande porte. Era sexy por simplesmente ser um homem notável mesmo que estivesse a cinco mil quilômetros; em outras palavras, aquele cara que você vê e pensa em como seria uma transa com ele. Como seria o beijo, o toque, as investidas... É raro, porque isso somente acontece poucas vezes. 

E corei quando lembrei que John mal sabia como era eu. Me aproximei, deixando-o desencorajado, desmontando a fantasia de homem misterioso que olha e desve.

— Você deve ser John — Disse eu — Sou Rachel — Sorri gentilmente.

— Ra... Rachel? — Ele engoliu em seco, e por um instante, se pôs a me olhar com curiosidade, em silêncio — Ah! — Sorriu ele — Claro, Rachel...

— Tá tudo bem? — Sorri cínica — Você de repente pareceu ter visto um fantasma, John. 

— Não, não... Está tudo bem. E o seu vôo? Como foi?

— Ótimo! Mas estou cansada. 

— Bem — Ele desencostou do carro — Vamos para casa — Abriu-me a porta traseira — Pode deixar a mala. 

Um outro homem chegou. Este meio careca, com cabelos escuros e metade deles grisalhos, sorriso simpático e terno alinhado.

— Pegue a mala, Ryder — Pediu John — Em seguida podemos ir direto para casa, sim? 

— Sim, senhor. 

O resto da viagem até a casa foi silenciosa, sem mais novidades.  Chegamos á casa lá pelas 16:00. A moradia era grande, tinha um jardim extenso e bem cuidado, dois andares, garagem na parte de trás, piscina, e se parecia com a casa de um solteiro rico. 

Fomos recebidos pela empregada, uma mulher de sorriso doce e cabelos lisos e grisalhos. 

— Por favor, Janice, leve a mala da senhorita Rachel para o quarto dela — Pediu John, tão educado quanto sério. Um verdadeiro chato. 

Paramos na ampla sala monocromática, com iluminação na medida certa e sofás de couro. A estante de bebida era enorme, encontrada ao lado do painel da TV. Tudo ali era exageradamente bonito e grande. 

— Vamos às regras! — Exclamou ele, fazendo meus lábios se reprimirem, relutando para não caçoar. 

— Regras? 

— Precisamos de regras para convivemos bem até que sua mãe volte. 

— Ah, claro... — Pigarreei — Então? 

— Eu tenho uma rotina extensa. Acordo cedo, vou para a empresa e volto pela noite. Às vezes pela madrugada, mas isso só acontece uma vez por semana. Aos sábados, preciso de silêncio para trabalhar em meu escritório, durante a semana, preciso de silêncio para dormir bem e acordar disposto no outro dia. Eu talvez, pouco provavelmente, precise viajar, então... Nada de festas durante a minha ausência, entendido?

— Anham... 

— Isso foi mais fácil do que pensei — sorriu ele — Ah! É muito importante: Não traga ninguém aqui sem a minha permissão. 

— E quem eu traria? Meu amigo planta? 

— Seu quem?! — John estranhou

— Esquece... — Abanei a mão, o repelindo — Se me der licença, eu preciso de um banho... 

— Claro!

— Acho que essa casa não tem como ficar pior — Murmurei, sorri falso e lhe virei as costas. 

 

ATRAÇÃO PERIGOSA | Keanu ReevesOnde histórias criam vida. Descubra agora