Capítulo Dezesseis.

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Tomei um táxi de volta para casa. Melhor dizendo, a casa de John.

Não o John que eu pensei que conhecia. Não. O John Wick, o assassino, o filho da puta mentiroso e assassino.

Este.

Eu não tinha dinheiro para pagar, claramente. A minha roupa ensanguentada passou despercebida pelo motorista, pois estava escuro. Entretanto, quando tive que ameaçá-lo com uma arma para que ele dirigisse até o endereço, ele me viu mais insana do que veria se tivesse percebido as manchas vermelhas.

Quando cheguei a casa de John, a porta estava aberta para a minha sorte. Eu entrei e me deparei com a sala escura; ascendi as luzes e me deparei com ele. Ele que corria, vinha em direção à porta. Não, não em minha direção, em direção à porta. Como se estivesse fugindo. Seus olhos percorreram todo o meu corpo, não com a malícia e a insanidade de antes; olhos visivelmente preocupados que procuravam algum ferimento ou hematoma. E ele encontrou, mas o assustou mais que a arma em minha mão.

Ele engoliu em seco e se aproximou, mas eu andei para trás. Eu não aguentaria outra luta, mas ainda tinha duas balas.

— Rachel — Ele sibilou calmamente. — O que foi que-...

— Você é um assassino. — Foi a primeira vez em que eu disse isso em voz alta. Soou estranho, eu senti vontade de morrer.

— Eu-...

— Você é um assassino! — Gritei entre-dentes. Me pareceu mais real que nunca quando finalmente gritei. Sim, ele era um assassino.

Ele sequer esboçou uma reação. Ele simplesmente permaneceu ali, parado, calmo e leve, porque eu definitivamente não era uma ameaça para ele, o John Wick.

— Eu sou. — John disse firmemente, como se estivesse afirmando e reafirmando.

Um peso fugiu do meu peito quando ele confirmou.

— E agora? Vo-você vai me matar? Você vai me matar?! — Vociferei.

— Não, Rachel. Você sabe que eu não quero, nem vou matar você.

— Eu sei?! — Eu ri incredulosamente. — Do que eu sei, John?! — E eu continuava a gritar. — Você é um assassino, não é isso que você faz? Você não mata pessoas?! Eu sabia que você é uma assassino?! Eu sabia que estavam tentando me matar?! Eu sabia? Hum? Eu não sei de absolutamente nada! Porra nenhuma! E você? Por que você não me contou?! Você esperava que-...

— Como você teria reagido se eu lhe contasse que sou um assassino? Se eu dissesse que agora mesmo há uma organização se preparando, fazendo de tudo para chegar até você para simplesmente enfiar a porra de uma bala na sua cabeça, como você reagiria?! — Ele gritou, explodiu. Isso me fez sentir mais raiva. — E se eu te dissesse que eles são inimigos declarados do seu pai, que também era um assassino? O que você teria feito, Rachel?!

Eu tentei ignorar a última informação. Eu não estava pronta para isso, eu nunca vou estar pronta para aceitar que ele, meu pai, o meu pai... Era um assassino. Ele fazia como aquele homem que eu matei? Ele procurava pessoas inocentes e simplesmente as matava por... Dinheiro? Por prazer? Poder?! Era isso o que ele fazia antes das visitas? Era com aquelas mãos sujas de sangue que ele me abraçava?

O tempo não passava, era como se eu estivesse paralisada por ele.

— Estou esperando. — John continuou.

— Eu com certeza não estaria com uma bala no meu braço. E eu sem dúvida alguma não estaria aqui, com o sangue de um homem que eu sequer conhecia, que foi morto por um outro que tentou matar! Eu sou um pedaço de papel amassado e jogado aqui, a minha mãe fugiu, você ficou e mentiu pra mim. E agora... — As lágrimas que seguirei durante todo o caminho, finalmente estavam se libertando. Elas ardiam. — Agora eu sou uma assassina, igual a você, igual a ele... Eu matei um homem... E eu... Fiquei lá, assistindo ele morrer, porque... E-eu tive medo de que ele voltasse, mas... Por outro lado, eu só... Queria que ele morresse de vez. Eu gostei de tê-lo matado, John. Porque ele... Tentou me matar primeiro. Ele disse que também participou da morte do meu pai. E eu o matei.

ATRAÇÃO PERIGOSA | Keanu ReevesOnde histórias criam vida. Descubra agora