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Eu jamais poderia imaginar isso, nem mesmo nos meus sonhos mais malucos, ter Claus Connelly na minha casa lavando a louça e dando risada das minhas piadas ruins era definitivamente estranho, mas lá estava ele, perfeitamente iluminado pelos feixes de luz que entravam pela janela da cozinha.

Eu permanecia no mesmo lugar, sentada comendo sua torta deliciosa, talvez fosse o terceiro pedaço, não sei ao certo, só estava muito bom e eu queria aproveitar ambos ao máximo, porque tudo parecia um delírio.

— Minha bunda está ardendo de tanto que você olha pra ela — ele diz sem virar para trás.

— Pare de ser convencido — reclamo com um pedaço de torta na boca. — Eu não estava olhando.

Ele nega com a cabeça enquanto enxágua o prato de porcelana.

— Estava sim, aprenda ao menos a mentir.

Uma risada escapa de mim quando me fazendo engasgar por estar de boca cheia, mas a verdade era que eu realmente estava admirando não só a bunda, mas o corpo inteiro daquele homem, sua generosidade e gentileza, Claus era uma caixinha de surpresas e eu já não me arrependia de ter dado uma chance de conhecê-lo.

— Sua avó vai ficar bem?

— Vai sim, ela sempre dorme um pouco depois de almoçar — explico levantando e levando o pires até a pia.

Fico ao lado de Claus com os cotovelos apoiados no balcão de mármore observando-o atentamente.

— Gostei muito dela Jude, muito mesmo. Há muito tempo eu não tinha um momento como esse.

— Mas e a sua família?

Notei que Claus ficou incomodado com minha pergunta, eu não sabia ao certo se podia perguntar já que ele nunca mencionava sobre seus familiares, então tomei a iniciativa para tentar matar minha curiosidade.

— Não somos unidos — foi tudo que ele disse.

— Você disse durante o almoço que tinha uma irmã, qual o nome dela?

Ele secou as mãos no guardanapo e respirou fundo antes de me encarar.

— O nome dela é Lindsay, tem dezessete anos.

— Ela não mora em Valley City?  — questiono.

— Não, estuda em um internato em Nova York, mas passa as férias de verão aqui, inclusive viemos juntos.

Dava para notar que Claus amava muito sua irmã, sua íris brilhava enquanto ele contava coisas sobre ela, sobre como eram próximos e confidentes.

Fiquei com certa inveja já que nunca tive um irmão, minha família sempre foi a vovó, mesmo recebendo muito amor de sua parte ainda sim eu sentia falta de ter outras pessoas em minha vida.

— Ela parece ser uma menina incrível — digo encostando meu ombro no dele.

— Sim, ela é — ele responde sorrindo.

Momentos como aquele com certeza me deixavam em paz, eu não estava mais nervosa, nem com medo ou desconfiança, Claus parecia fazer parte de tudo aquilo tanto quanto eu, como ele mesmo havia dito: parecia ser certo.

— Você estava certo — falo o observando atentamente.

Ele volta seu olhar para mim com uma enorme intensidade.

A intensidade de Claus Connelly.

— Sobre o quê?

Mordo o lábio inferior ponderando se seria certo confessar aquilo, então apenas falei:

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