vinte e quatro

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Nunca imaginei que poderia sentir tanta falta de alguém, mas lá estava eu, sentindo a ausência avassaladora de Claus Connelly.

Já fazia cinco dias que desde nossa discussão ou término havia acontecido, não sabia o que pensar ao certo já que ele não ligou ou mandou mensagem, e com certeza eu não seria a pessoa a fazer isso.

— Tem certeza que não vai ligar?

Nina pergunta enquanto tomamos um capuccino em uma cafeteria qualquer no centro da cidade.

—Tenho, não vou ligar para ele depois daquilo.

Eu estava sendo sincera comigo, nada adiantava rastejar para Claus enquanto ele fazia o mesmo movimento em direção a Kim.

— Então vocês terminaram?

Nós terminamos?

— Eu acho que sim.

— Então acho que você não deveria ficar em casa todas as noites ouvindo os álbuns do AirSuplly.

Eu não estava ouvindo músicas melosas, mas todas as noites antes de dormir meu último pensamento do dia ainda era o maldito Connelly.

— Eu não estou ouvindo essas músicas — tendo me defender. — Ao contrário disso, estou aqui com você tomando um capuccino.

Nina balança a cabeça de forma negativa me julgando com seu olhar.

— Conheço você muito bem, Jude Whide — ela toma um gole de sua bebida e então volta à atenção para mim. — Gostaria de me acompanhar em uma festa amanhã à noite?

Minha amiga sendo totalmente cordial era algo para se desconfiar, infelizmente de forma instantânea tive um pequeno devaneio, a última festa em que fui com Nina acabei encontrando Claus, nosso primeiro beijo havia sido lá e recordar isso doeu bastante.

— Não sei — respondo tomando um gole do capuccino. — Acho que prefiro ficar em casa descansando ou assistindo um filme.

— Caramba! — Nina estremece. — Você tem dezenove anos, deveria sair para curtir a vida, deixa para assistir esses filmes dramáticos quando tiver trinta.

Rolei os olhos, porque no fundo sabia que de uma forma bem torta ela poderia ter alguma razão, não sobre assistir aos filmes, mas eu poderia deixar essas coisas para amanhã e curtir um pouco o momento.

— Aonde vai ser a festa? — pergunto encarando-a.

— Na casa de um cara rico e idiota — ela parece refletir sobre os adjetivos. — É praticamente um pré-halloween, só que sem a parte das fantasias assustadoras.

Dei um longo suspiro que parecia mais de cansaço do que qualquer outra coisa.

— Roupas provocantes? — tento adivinhar.

Nina sorri pateticamente adorando os rumos que nossa conversa levava.

— Exatamente, mas posso deduzir que você não tenha uma roupa desse tipo, certo?

— E eu posso deduzir que você tenha certo?

Ela apenas assentiu a cabeça dando de ombros, eu não queria usar roupas provocantes ou ir a tal festa, só desejava ficar em casa, na tranquilidade de um lar, tomando chá ou lendo um bom livro.

Mas aparentemente minha vida não era a mesma há muito tempo, ou melhor, desde que Claus Connelly havia passado por ela.

— O que me diz? — Nina pergunta ansiosa.

— Vamos à festa então.

*****

Na manhã seguinte logo após meu expediente na C&C, Nina havia combinado de me esperar em sua casa para escolhermos ou montarmos uma fantasia para mim, como combinado com Molly, ela chegaria cedo para ficar com a vovó que deu muito apoio para minha aventura.

O quarto de Nina cheirava a detergente e perfume, acho que ele nunca esteve tão limpo como hoje, ou talvez eu apenas estivesse perdendo a evolução pessoal da minha melhor amiga por conta de um sofrimento desnecessário graças a Claus.

Várias fantasias foram apresentadas a mim, mas nenhuma realmente havia me cativado ou chamado atenção, policial ousada, mulher-gato, líder de torcida, Cleópatra e sereia foram as apresentadas, de fato nenhuma me vestia da forma que eu desejava.

Nina estava ficando sem opções e paciência, já estávamos nessa busca há duas horas e ainda sim falhávamos miseravelmente, ou talvez no fundo eu não quisesse ir a essa festa.

— Estou ficando sem opções — ela diz se debruçando cansada sobre a cama.

Eu ainda considerava uma das fantasias, mas não tinha certeza.

— Não me senti confortável com nenhuma dessas — digo sentando na beira da cama.

— É para ser sexy e ousado, não confortável!

— Não recebi o memorando sobre sexy e confortável.

Caímos em uma risada histérica que melhorou nosso humor, eu entendia a frustração de Nina, mas a verdade era que não havia empolgação em mim.

— Você não quer ir né? — Ela descansa a cabeça sobre a palma da mão.

— Só não sei se é uma boa ideia.

— Ou é porque não se sente pronta para seguir com sua vida sem o Claus?

Tentei disfarçar minha indignação me levantando e indo para frente do espelho, através do reflexo podia ver Nina atenta a mim aguardando uma resposta sincera.

Eu não sabia o que responder, afinal ela tinha completa razão, Claus Connelly estava vivo em meu coração e marcado em minha pele, era como um maldito vício que me consumia, tomava meus pensamentos diariamente, mesmo que eu fizesse um grande esforço para que tal coisa não acontecesse.

— Eu amo o Claus — digo cautelosamente. — Mas preciso ter algum tipo de amor por mim e tentar esquecê-lo.

Não sei se me convenci disso.

— Então vá a essa festa se divertir um pouco, talvez isso ajude de alguma forma, talvez seja o primeiro passo.

Nina estava coberta de razão, o primeiro passo era frequentar outros lugares, conhecer novas pessoas, abrir meu coração, dar um passo rumo ao desconhecido e talvez algum dia acordar percebendo que já esqueci Claus totalmente.

— Você tem toda razão — digo a Nina enquanto sinto algo novo crescendo dentro de mim, então viro bruscamente em sua direção com um sorriso no rosto. — Eu irei a essa festa, hoje minha vida vai tomar um novo rumo! E eu já sei qual será minha fantasia.

Ela parece totalmente satisfeita já que levanta da cama empolgada.

— E qual será?

— Algo que irá chocar até eu mesma.

Eu já sabia o que vestir, era tão inusitado que não estava acreditando em minhas idéias, eu sairia da zona de conforto, finalmente assumiria o papel de alguém que faria o possível para um grande e doloroso amor completamente.

Olhei o próprio reflexo uma última vez e prometi a Jude Whide que a mulher fraca e sentimental que um dia ele Claus conheceu renasceria, seria alguém diferente, alguém que até mesmo ele odiaria, prometi que haveria esperança para mim.

E eu estava decidida sobre isso.





 

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