dois

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Eu não entendia muito sobre leis ou delegacias, mas lembrava da velha frase “você tem direito a um telefonema”, no entanto ninguém ali olhava para mim ou qualquer um dos outros rapazes. Já estávamos a mais de meia hora na delegacia e o xerife sequer nos mandou entrar em sua sala.

Minha blusa estava manchada de sangue e meus pulsos permaneciam presos por aquela algema que insistia em apertar a cada vez que eu mexia as mãos, tentei manter a tranquilidade, mas era praticamente impossível.

Jamais estive nessa situação antes e isso me deixava angustiada.

— Vocês já podem entrar — uma policial anunciou com um tom de voz amigável.

Ao entrarmos na sala fomos rapidamente recebidos pelo olhar reprovador do xerife.

— Então vocês foram os jovens que estavam causando um reboliço em um bar no centro da cidade? — dizia enquanto analisava um papel que julguei ser algum tipo de relatório.

Ninguém disse absolutamente nada, permanecíamos em pé.

— Podem sentar — o xerife indicou a cadeira a sua frente para que eu sentasse. — De acordo com o policial Griffin, vocês se envolveram em uma briga — ele forçou o olhar para o papel em suas mãos. — E um rapaz foi parar no hospital.

— Exatamente xerife Coford — falou o policial em pé ao meu lado esquerdo. — A mocinha aqui agrediu um jovem com uma garrafada na cabeça.

— Não, não senhor. Não foi dessa forma — alternei o olhar entre o policial e o xerife.

Meu desespero era tão nítido quanto às paredes desbotadas daquela sala.

— A senhorita gostaria de se explicar? — o xerife pergunta olhando por cima dos óculos.

— Ela agrediu o nosso amigo! — o cretino chamado Sean se manifestou com um sorriso perverso nos lábios. — Não tem muito o que explicar.

Meu olhar cruzou seu caminho rapidamente, ele não parecia estar em um tipo de brincadeira cruel comigo. Ele estava disposto a me ferrar para livrar sua pele.

— Xerife — meus olhos imploravam sua misericórdia. — Eu trabalho a seis meses naquele bar, nunca me meti em confusões do tipo — mordi o lábio inferior quando novamente as algemas apertam meus pulsos. — O senhor precisa acreditar em mim! Eu não fiz isso de propósito.

— Estou esperando suas explicações — ele olhou para o papel novamente e então voltou seu olhar para mim. — Senhorita Whide.

— Eu estava cobrindo o turno da minha colega, já estávamos quase fechando e então esses rapazes chegaram, eu servi os drinks e depois voltei para o balcão — respiro fundo antes de prosseguir. — Então começou uma discussão entre este senhor — volto meu olhar para Sean e o mesmo rola os olhos de forma irônica. — E o outro rapaz, eles estavam brigando por conta de uma mulher. Parece que um ficou com a namorada do outro.

Foi então que uma risada escarnecedora preencheu meus ouvidos, virei o rosto para trás e percebi que não éramos os únicos ali.

Haviam dois caras sentados no canto da sala, um deles vestia uma camisa preta com o slogan de alguma banda, seu cabelo era escuro e encaracolado, ele prendia um sorriso entre os lábios quando olhamos em sua direção.

O outro homem estava sentado despojadamente na pequena cadeira de ferro, tinha a cabeça baixa, então não consegui enxergar seu rosto, no entanto a camisa branca social que ele usava não só denunciava sua classe social, mas também exibia seus músculos muito bem definidos.

— Não ligue para os senhores ali no canto, senhorita Whide — o xerife me tirou do transe em que estava e me virei bruscamente em sua direção. — Prossiga, por favor.

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