Tóxico

vinte e oito

Meu plano era entrar em casa sorrateiramente, sem os olhares de Molly ou de minha avó voltados para mim, mas foi exatamente o que aconteceu, as duas estavam paradas ao pé da escada me encarando totalmente curiosas.

— O que aconteceu, Jude? — vovó perguntou aparentemente cansada.

Eu me sentia mal, ela deveria ter passado a noite em claro e preocupada já que sua neta não tinha atitudes como esta.

— Eu sinto muito vovó, sei que deveria ter ligado — digo aparentemente envergonhada.

— Que roupas são essas? — Molly parecia incrédula.

— Minha fantasia para a festa de ontem — respondo sem rodeios.

Ambas estavam desconfiadas, eu não as culpo, não era bem minha cara usar algo desse tipo, ou chegar no dia seguinte de uma festa, nada ali coincidia com a pessoa que eu realmente era.

— Fiquei preocupada — vovó desabafa.

— Eu sinto muito mesmo vovó...

Sou interrompida por Claus que entra sorrateiramente e sem aviso prévio em minha casa, sem ao menos bater na porta, apenas se põe ao meu lado e encara todas nós.

— Me desculpe senhora Whide — ele estende a mão até minha avó e a cumprimenta. — A culpa é toda minha — diz me lançando um rápido olhar.

Molly nos fita já estrangulando uma risada deduzindo o que havia acontecido entre nós, já vovó apenas se derrete com o cavalheirismo de Claus Connelly, rolo os olhos com isso, o que ele tinha que fazia todas as mulheres agirem assim?

— Eu — vovó parecia um tanto surpresa. — Não sabia que Jude estava com você.

Ela parecia totalmente satisfeita em saber que passamos a noite juntos, nem mesmo tentava disfarçar.

— Eu acabei tendo um problema na festa e Claus achou melhor me fazer companhia.

Eu não estava mentindo, só omiti a parte em que dormimos juntos olhando para as estrelas. Talvez fosse apenas uma meia verdade.

— Só tentei proteger a sua neta, senhora Whide — Claus força um sorriso.

Chega a ser ridículo o modo como minha avó torna-se condescendente com Claus, mas eu estava cansada, talvez o suficiente para criar desculpas esfarrapadas, então aceitei silenciosamente o apoio do homem ao meu lado.

— Curti as olheiras falsas — Molly elogia Claus.

Ela sabia exatamente o que havia acontecido, por isso mesmo semicerra os olhos em nossa direção, mas por sorte não diz nada, nem mesmo quando a acompanho até a porta e lhe entrego seu pagamento.

Quando volto para perto das escadas percebo que Claus e minha avó não estão mais lá, pelo contrário, ambos estão sentados no sofá da sala conversando, não fazia nem mesmo cinco minutos que eu saí para pagar Molly e eles já haviam se entrosado novamente.

— Jude, você quer um café meu bem? — vovó pergunta já se levantando em direção a cozinha.

— Não vovó — recuso. — Eu estou bem, a senhora deve estar cansada por conta da minha irresponsabilidade, deveria dormir um pouco — aconselho me aproximando um pouco.

Claus está sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos, ele não parece disposto a ir embora tão cedo, então o melhor a fazer é colocar as cartas na mesa.

— Tudo bem querida — ela diz com uma voz sonolenta. — Caso queiram comer algo a mesa está posta.

— Muito obrigada vovó — digo me aproximando e depositando um beijo em sua testa.