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Quantos minutos levariam?

Eu me perguntava quantos minutos levariam para que aquele cara terminasse de afogar suas mágoas no uísque duplo. Ele era o último cliente da noite, o relógio marcava onze e trinta, já não aguentava mais o ouvir balbuciar sobre seu divórcio, pois esse é um dos maiores motivos pelo qual homens como aquele visitam com frequência o Fast Drink Bar.

Com a cabeça apoiada na mão esquerda e o corpo escorado do lado interior do balcão, eu rolava os olhos a cada discurso patético que ele fazia.

Afinal, por que ele traiu a esposa se não aguentava o divórcio? 

Eu rezava mentalmente para que aquele homem fosse embora, arrumasse um bom advogado e resolvesse sua vida conjugal.

— Mais alguma coisa senhor? — me vi obrigada a perguntar.

— Sim, traga minha mulher de volta — ele mal conseguia pronunciar as palavras por conta do álcool em seu subconsciente.

— Me refiro à bebida — mais uma vez volto a rolar os olhos.

A verdade era que eu não estava nenhum pouco interessada em atendê-lo.

— Está vendo? Nem mesmo você é capaz de trazê-la para mim, ninguém é — com muita dificuldade falou.

— Senhor, eu preciso fechar o bar — tentei explicar para aquele animal que exalava o cheiro de bebida cara.

— Cala a boca sua vagabunda! Todas as mulheres são vagabundas!

O infeliz além de me encher com sua história patética, ainda havia xingado a mim e a todas as outras mulheres.

Sei que fui muito bem recomendada por meu patrão, Sr. Cameron a relevar coisas do tipo, pois os clientes normalmente sempre estavam bêbados e nervosos.

O certo a se fazer seria respirar fundo e ser gentil, porque o que importava sempre era o dinheiro. Por isso sempre procurei ser paciente com pessoas daquele tipo, eu precisava do emprego, o salário era bom e meu patrão sempre foi compreensível, mas nunca toleraria ofensas como aquela, palavras que diminuíam a integridade das mulheres. Isso não! Não admitia de modo algum ser xingada no meu local de trabalho onde sempre procurei dar o melhor de mim.

Estava prestes a rebater sua ofensa com outra muito pior quando percebo que novos clientes adentram no bar, quatro homens no total, eram jovens, provavelmente de classe alta. Não era difícil notar isso, trabalhar neste local nos torna pós-graduados em classes sociais. E aqueles rapazes eram ricos!

Mais um problema estava por vir, ter que explicar aos jovens que o bar estava fechando seria como tentar arrancar um delicioso osso da boca de um cachorro feroz.

Eles queriam beber, conseguia ver em seus olhos, mas eles também estavam afim de encrenca.

Disso eu tinha certeza.

Quando finalmente tirei os olhos dos novos clientes notei que o bêbado sem noção havia ido embora deixando somente o dinheiro em cima do balcão.

— Cretino! Foi embora antes mesmo de levar uma boa resposta — sussurrei somente para mim.

— Garçonete? Vai nos servir ou não?

O rapaz loiro de camisa vermelha perguntou.

Suspirei alto, estava cansada e ainda iria resolver mais um problema, mas decidi atendê-los, seria mais dinheiro para o bar e com todo certeza o Sr. Cameron me recompensaria por isso.

Então caminho lentamente até a mesa onde se encontravam sentados despojadamente.

— O que os senhores vão querer? — pergunto forçando um sorriso amarelo, tentando esconder minha frustração de ter que atendê-los.

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