dezessete

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— Você o quê? — Nina praticamente grita.

Eu a repreendo com um olhar para que ela lembrasse que ainda estávamos no bar.

— Será que você pode falar mais baixo? Por favor.

— Está me dizendo que pediu demissão do seu emprego por conta do Claus?

A indignação era nítida em sua íris, ela provavelmente estava imaginando o quanto eu poderia ser idiota tomando aquela atitude.

— Sim, estou dizendo isso — respondo sem rodeios.

Ela não desvia o olhar de mim, nem mesmo quando serve um de nossos clientes com mais uma dose de gim puro.

— Por quê? Por que fez isso, Jude? Claus não merece suas lágrimas, nem mesmo uma atitude dessa vinda de você.

Eu teria um milhão de repostas para aquela pergunta, mas dei-lhe a mais sincera de todas:

— Porque eu o amo — minha boca estava seca. —Eu amo Claus Connelly e não iria aguentar vê-lo diariamente nesse bar, principalmente com seus amigos.

Dessa vez Nina voltou seu olhar para qualquer canto que não fosse os meus olhos, ela no fundo parecia compreender meus motivos.

— Só acho que você foi precipitada, ele não viria aqui todos os dias.

— Ele me garantiu que o faria e você sabe que Claus é capaz disso.

Observo enquanto Nina apoia os cotovelos no balcão e com a cabeça baixa inspira fundo.

Ela estava tão mal quando eu.

— Sinto que você está se afastando, exatamente como a Taylor fez.

Então entendi sua real preocupação: Nina temia que eu seguisse o mesmo caminho que Taylor Langford.

— Eu amo o Claus — falo afagando seu ombro. — Mas nunca tiraria minha vida por ele.

Meu estômago embrulhava ao lembrar o passado tenebroso de Claus e Taylor, definitivamente eu jamais cometeria o mesmo erro que ela.

Nina voltou seus grandes olhos para mim, eles estavam aflitos e preocupados, diferente de quando cheguei ao bar no meu primeiro dia quando ela estava sorridente e disposta a me ajudar. Nina era uma boa amiga.

— Quem vai me ajudar quando eu estiver na pior? — questiona dando um leve sorriso.

— Ah pelo amor de Deus! Eu só vou trocar de emprego, não de cidade.

Nina me lançou um olhar triste, mas compreensível também, o que me deixou calma.

— Onde é o novo emprego?

— O senhor Cameron disse que iria falar com o irmão, ele pode ter algo para mim.

Um dos clientes se aproxima e acaba cortando nossa conversa. Naquela noite um dos meus maiores medos era que Claus fosse ao bar, eu acreditava que já havíamos tido nossa despedida, mesmo que dolorosa, foi necessária.

— Tenho certeza que o irmão do senhor Cameron vai conseguir algo para você — Nina sussurra antes de servir o cliente.

*****

A noite de despedida do bar foi tranquila, principalmente pelo fato de Claus não ter aparecido para estragar tudo, já o drama em deixar Nina foi difícil de sustentar, ela ficou visivelmente abalada com minha partida.

Logo depois de fecharmos o bar o senhor Cameron junto aos outros funcionários do local fizeram uma espécie de festa de despedida para mim, foi uma das primeiras vezes que realmente me senti querida pelas pessoas.

*****

Eu estava definitivamente nervosa, minhas mãos suavam frio e um enorme desconforto em meu estômago me causava náuseas, enquanto caminhava até o escritório do irmão do senhor Cameron. O lugar era limpo, as paredes tinham um tom de creme e alguns quadros decorativos de países tropicais enfeitavam o ambiente, o cheiro de eucalipto demonstrava que o escritório era limpo com frequência.

Um homem alto e magro com olhos passivos estava sentado de forma despojada em sua cadeira, ele me observava de forma entediada, como se não quisesse estar ali naquele momento.

— Você deve ser Jude Whide, certo?
Pergunta apontando para que eu me sentasse.

— Sim, é um prazer conhecê-lo senhor Clifford — estendo minha mão para cumprimentá-lo.

Ele repete o gesto sem muito ânimo e então se ajeita novamente em sua cadeira.

— Cameron falou sobre você, que está precisando de um novo emprego.

— Sim, vou precisar sair do bar e gostaria muito de uma oportunidade em seu estabelecimento.

Acredito que ele conseguia ver a aflição em meus olhos.

— Tenho uma vaga na conveniência do posto de gasolina, você seria atendente e trabalharia meio expediente, também pago pelas horas extras.

Sua expressão era indecifrável, eu não tinha certeza se aquele homem de fato queria que eu trabalhasse em seu estabelecimento, mas definitivamente eu não podia recusar a oferta.

— Tudo bem, eu aceito.

— Não vou perguntar o motivo pelo qual você saiu do antigo emprego, Jude, mas espero que não haja problemas aqui.

Eu estava desesperada pelo emprego, dependia disso literalmente para minha sobrevivência, então não deixaria que nada atrapalhasse isso, nem mesmo meu amor por Claus Connelly.

— Não haverá, eu garanto.

Ele estende sua mão de forma cordial.

— Então seja bem-vinda a C&C.

No fundo eu imaginava uma conversa bem mais longa, daquelas que vemos em filmes onde há muita desconfiança e receio, mas o senhor Clifford havia sido rápido e preciso, não sei se no fundo ele realmente queria me contratar, mas assim o fez.

Agora eu era uma funcionária da empresa C&C, isso era uma nova oportunidade de recomeço para minha vida.

Mal podia esperar para contar tudo a vovó, ela estava tão empolgada quanto eu, principalmente pelo fato de podermos ficar juntas a noite, assistindo nossas novelas e programas favoritos e talvez, somente talvez, esquecer que um dia Claus esteve em nossas vidas.

Talvez tudo pudesse voltar ao normal em minha vida.

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