dezoito

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O primeiro dia na C&C foi mais tranquilo do que eu tinha em mente, mesmo com o grande fluxo de clientes que entravam na conveniência não deixava de ser um ambiente calmo e passivo, sem grandes complicações.

A única coisa que de certa forma me incomodava era o ridículo boné com o slogan do estabelecimento que não fazia uma boa combinação com a blusa branca de botões que aparentemente era minha farda.

Mesmo com todos os contras, os prós ainda me faziam gostar de trabalhar na C&C, o senhor Clifford havia adiantado meu pagamento, o que me ajudaria muito nesse novo recomeço, o melhor de tudo seria ficar em casa com a vovó todas as noites, agora os serviços de Molly seriam apenas durante o dia.

A vida parecia estar entrando nos eixos novamente.

— Meia dúzia dessas balas de menta, por favor.

Diz um garoto de aparentemente doze anos que usa uma blusa surrada do Kiss.

— São cinco dólares — digo entregando as balas a ele.

O menino faz uma cara feia, provavelmente não assiste os noticiários para saber que a alta inflação atingiu nosso país mais uma vez, elevando até mesmo os preços das guloseimas.

— Isso é um assalto — reclama entregando o dinheiro.

O descontentamento dele não chega perto de todas as barbaridades que já ouvi no bar, então apenas sorrio.

— Obrigada, volte sempre.

Ele apenas pega as balas e sai da conveniência.

O garoto deve ter saído no mesmo momento em que o outro cliente entrou na loja, já que o sino tocou apenas uma vez, nesse momento eu não olhava para a porta, estava conferindo o dinheiro no caixa, mas eu não precisava olhar para saber quem entrou, seu cheiro me atingiu violentamente, praticamente me sufocando, rapidamente um ambiente que parecia ser grande e espaçoso tornou-se claustrofóbico.

Hesitei por um instante, eu não queria levantar a cabeça e dar de cara com meu maior problema, não agora e muito menos ali, por isso permaneci com a cabeça baixa e os olhos fixos no caixa, porém, com as mãos totalmente trêmulas.

— Jude.

Se seu cheiro já havia causado todas aquelas sensações em mim, ouvi-lo pronunciar seu nome fez com que um maldito suspiro de frustração escapasse de mim.

— Olhe para mim, Jude.

Claus insistiu, eu neguei com cabeça forçando os olhos a ficarem fechados, implorando a Deus que eles não abrissem, eu estava vulnerável, carente e a única coisa que meu coração queria era ele. E isso era puro suicídio.

— O senhor precisa de algo? — Pergunto ainda sem encará-lo.

— Jude, por favor — sua voz era calma.

Eu não entraria no jogo dele.

— Posso atendê-lo?

Insisto, mas dessa vez tomando uma dose de coragem e o encarando, o que foi uma péssima ideia, Claus estava tão lindo, usava camisa branca e jaqueta de couro, sua calça jeans tinha cortes em cada joelho, seu cabelo estava uma bagunça, assim como meus pensamentos.

— Eu preciso falar com você.

Ele não parecia estar mentindo, seus olhos eram alarmantes, mas de qualquer forma ceder não era uma opção para mim.

— A menos que vá comprar algo, não temos o que conversar, senhor Connelly — fui ríspida.

Ele me encarou com raiva, trincando o maxilar e então olhou além de mim para os produtos que ficavam expostos na parede, caminhou em minha direção e com o dedo indicador apontou para algumas canetas esferográficas.

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