17 - Missões Impossíveis

188 19 0
                                    

Assim que as três bruxas empurraram Edgar e Essa para dentro de seu quarto
queimado e fedorento no alojamento, Hester trancou a porta e olhou de cara feia
para Essa.
"Tedros, seu cabeça de frango! Por que você atracou a mão da Agatha?!
Quase fez com que fossem descobertos!"
Tedros e Agatha estavam ambos curvados, ofegantes.
"Sophie! Ela está... usando... aliança...", Agatha disse resfolegando. "Quase a
abracei..."
"Deveria ter aproveitado. Sem chance de sairmos desse lugar vivos", disse
Tedros, olhando para baixo, para seu corpo feminino cheio de curvas. "Você viu
o jeito como aqueles meninos Sempre ficaram me olhando no corredor?"
"Nós vimos nossa melhor amiga novamente e ainda estamos inteiros. Eu
chamaria isso de êxito", Agatha respondei, balançando seus membros de menino
e caindo numa das camas, derrubando uma moldura na mesinha de cabeceira.
"Eu chamaria de suicídio", disse Tedros, puxando o short.
"Acalme-se, princesa. Tem tanta gente nesse castelo que ninguém mais sabe
quem é quem", disse Hester, zombando e arrumando a fotografia de sua mãe,
diante de uma casa de pão de gergelim.
"Vocês dois estarão a salvo em nosso quarto até essa noite", acrescentou
Anadil, vendo dois de seus ratos cheirando o terceiro, que estava fraco. "Se bem
que se a 'Essa' falar mais com esse sotaque horrível, talvez eu corte a sua
garganta."
"É o único jeito que consigo manter a voz alta!", Tedros respondeu.
"Faz com que você pareça uma leiteira de Maidenvale", disse Dot,
distraidamente, remexendo em seu armário. "O papai gosta de leiteiras. Ele
mantinha uma em nosso porão."
Todos do quarto olharam para ela.
"Que bom que você acha isso engraçado", Tedros vociferou, ainda puxando o
short. "Nem consigo pensar nesse corpo imbecil! O feitiço que Merlin usou para
tingir meu cabelo, seja lá qual for, está coçando terrivelmente e meu traseiro não
cabe nas minhas calças, meus pés são pequenos demais e minhas pernas estão
congelando e toda hora eu tenho que fazer xixi..."

"Pelo menos uma coisa não mudou", murmurou Agatha

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Pelo menos uma coisa não mudou", murmurou Agatha.
Tedros lançou-lhe um olhar nocivo.
"E quem foi que arranjou esses nomes idiotas? Edgar e Essa, como se nós
tivéssemos nascido com bastões de críquete em nossas mãos, bebericando chá
nas Colinas Malabar."
"Os nomes foram ideia minha", Dot corou, saindo do armário, parecendo
magoada. "Hester me deixou escolher, com a condição de que eu ficasse gorda
novamente. Ela disse que se eu ficasse gorda como no primeiro ano e nós três
fingíssemos adorar esse lugar, ninguém desconfiaria que somos espiãs do Bem.
Claro que nós tínhamos que ajudar vocês: primeiro, a Agatha é nossa amiga;
segundo, Aric quase matou a Hester e agora ele é Reitor; e, terceiro, nós não
podemos simplesmente deixar que o Diretor da Escola transforme a escola
inteira em Escola do Mal. Não faz sentido ser do Mal se não há o Bem contra
quem lutar, faz? O que nós faríamos o dia todo? Ficaríamos comendo pipoca e
fazendo pedicuro? Além disso, imaginei que se ajudasse vocês a resgatar a
Sophie, embora não possa mais usar isso", ela segurou seu antigo corpete azul da
Escola das Meninas, "pelo menos teria feito algo da minha vida e o papai não me
chamaria mais de fracassada", disse Dot, fungando. "Passei todas as nossas aulas
tentando pensar em nomes legais para vocês, e foi por isso que tirei notas baixas,
e vou acabar virando uma planta, mas Edgar parece com Agatha, se você disser
prendendo a língua, e Essa rima com Tedros, se você não pensar muito a
respeito, e eu achei que vocês se orgulhariam de mim, por ter feito um trabalho
tão bom", Ela assoou o nariz no corpete.
Hester, Anadil e Agatha encararam Tedros.
"Ponha-se no meu lugar, Dot", disse ele, sentindo-se culpado, coçando o
cabelo. "Sou o Príncipe de Camelot, em breve serei Rei, se eu não morrer
primeiro. Voltei à Floresta com a minha princesa para salvar nossa melhor amiga
e não me candidatei a fazer isso sendo a garota, está bem?"
"Sendo 'a garota'? É isso que eu sou?", Agatha pôs-se de pé num pulo, com
seu corpinho magricela. "A Garota"?
"Olha, só estou dizendo que se algum dos meus amigos me vir assim..."
"Estou bem certa de que eles acabaram de vê-lo no corredor", rugiu Agatha,
com os hormônios masculinos fervilhando. "Acho que o Chaddick até piscou para
você."
Tedros pareceu ter sido esbofeteado.
"Essa é a velha Agatha", Hester deu um sorrisinho malicioso.
"Finalmente, de volta ao grupo!", disse Anadil.
"Não como membro oficial, é claro", disse Dot.
"Meninos ficam zangados e famintos o tempo todo? Eu poderia comer esse
travesseiro", Agatha se esparramou no colchão, revolvendo a fuligem.
O travesseiro se transformou em chocolate.
"E é por isso que eu não sou um membro oficial", disse Agatha, sorrindo para
Dot ao morder o travesseiro.
Tedros ficou olhando sua princesa, agora um menino esfomeado e briguento;
as três bruxas do Mal, ainda rindo às suas custas; a sua própria silhueta delgada, o
queixo suave e as pernas lisas, refletidos numa moldura de vidro... O príncipe
começou a suar.
"Não consigo fazer isso... simplesmente não consigo...", a ponta de seu dedo
começou a reluzir em dourado. "Vou fazer um contrafeitiço e reverter a
poção..."
Agatha deu um salto e o agarrou
"Eles vão te pegar no segundo em que você sair por aquela porta! Vão matar
todos nós!"
"Nós chegamos até aqui, está bem?", implorou Hester, empurrando seu
corpo de menina para cima da cama.
"É o único jeito, Tedros", Anadil o tranquilizou, segurando seu dedo aceso.
"Talvez até o transforme numa pessoa melhor", Dot bufou, antes de
acrescentar, baixinho. "Menos dramático, pelo menos."
Tedros mergulhou as bochechas cor de pêssego nas mãos e se curvou sobre a
cama.
"Nós jamais conseguiremos! Nunca vamos tirar a Sophie daqui! Eu nunca
mais vou voltar a Camelot, jamais serei rei e vou morrer como uma garota!"
"Seu moleque mimado, chorão e cabeçudo!", o demônio no pescoço de
Hester inchou avermelhado. "Nós quatro passamos a vida provando que somos
mais que garotas frágeis, e aí está você, agindo como se ser uma garota fosse
uma sentença de morte! Sua vida inteira você contou com seu queixo furadinho,
seus olhos brilhantes e sua barriga de tanquinho como substitutos de uma alma.
Ora, agora você é uma de nós, Essa, e todas as nossas vidas estão dependendo de
você, portanto se você não parar de choramingar e começar a agir como um
homem de verdade, seu príncipe de meia-tigela, eu vou enfiar esse demônio no
seu..."
Ela viu Agatha sacudindo a cabeça e secretamente formando letras em
fumaça, com o dedo aceso: PROBLEMAS COM A MÃE. Hester mordeu o lábio.
"Tedros, meu amigo", ela continuou, tentando parecer amistosa, com
resultados ambíguos. "Eu sei que não é fácil, mas você conseguiu entrar nessa
escola infernal. Essa foi a parte mais difícil. Agora, nós só precisamos que você e
Agatha terminem as missões que o Merlin lhes deu."
"Vocês têm o dia todo para pensar como fazer. Enquanto isso, é melhor que
Hester, Dot e eu voltemos para a aula, ou a Sophie vai desconfiar de alguma
coisa", disse Anadil, lançando um olhar para Hester.
Hester ajoelhou-se na frente de Tedros e pegou seus dedinhos entre os dela.
"Vamos deixá-lo aqui, com a Agatha, e voltaremos depois do jantar. É
quando a sua missão começa. Está bem?"
Tedros não respondeu. Hester ergueu a bainha da blusa, revelando uma
cicatriz rosada horrenda, na barriga.
"Eu levei uma facada do Aric para proteger a sua princesa. Para proteger o
seu verdadeiro amor, Tedros. Agora é a sua vez de provar do que é capaz." Ela
deu uma olhada para Agatha, com sua pinta de menino pinguim. "Vocês dois. Se
vamos salvar a Sophie e o nosso mundo, precisamos que vocês sejam um time."
Agatha e Tedros não se olharam.
"Um sorriso, Edgar e Essa", disse Hester. "Por favor."
"Hester pedindo um sorriso? O mundo está mesmo no fim", zombou Dot.
Lentamente, Edgar e Essa se olharam. Eles se viraram para Hester e
mostraram sorrisos idênticos. Hester relaxou aliviada.
"Voltamos logo, pombinhos. Usem seu tempo com sabedoria", disse ela,
enquanto suas colegas de quarto a seguiam porta afora. "E tentem não infringir
nenhuma regra da escola, se entendem o que eu quero dizer."
Agatha e Tedros mantiveram os sorrisos até que a porta se fechou e foi
trancada pelo lado de fora. Então, eles se olharam e franziram a testa.
Menos de uma hora antes, Edgar e Essa estavam espremidos sobre um toco
de árvore na Floresta, observando Merlin salpicar purpurina num arbusto de
espinhos roxos carnívoros, colocando-os para dormir.
"Quando posso ser revertido?", Tedros perguntou exigente, com uma voz
grave e bochechas rosadas de menina.
"Quando você voltar vivo", disse o mago, cutucando um espinho molenga
para testar.
"O que significa nunca", murmurou Agatha, estreitando os olhos para os
portões altos com lanças de ferro que bloqueavam a entrada da Escola do Bem e
do Mal. As lanças que um dia reluziram em ouro, agora tinham um tom ácido de
verde e mostravam um aviso familiar:

A escola do bem e do mal 3 Infelizes para sempre - Soman ChainaniOnde histórias criam vida. Descubra agora