27 - Corações Rebeldes

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"E se o Merlin recrutar os reinos dos Sempre contra nós?", Sophie ouviu o
Professor Manley perguntar.
"Pela última vez, Bilious, o Bem se defende, não ataca; os reinos do Sempre
não virão lutar contra nós, se não lutarmos contra eles", rugiu a voz de Rafal.
"Além disso, eles não são tolos de arriscar o próprio povo para salvar alguns
heróis decrépitos. Não que isso vá salvá-los, é claro. Uma vez que Sophie e eu
provarmos que o Mal pode vencer, iremos destruir os reinos do Sempre, um a
um!"
"E se mais de nossos alunos se tornarem espiões do Bem?", perguntou a
Professora Sheeks.
"E se a Princesa Uma trouxer um exército animal?", forçou Pólux.
"Se você está preocupado com a habilidade de nossos alunos lutar contra
animais, então me pergunto o que você está fazendo como professor", disparou o
jovem Diretor da Escola. "Quanto a espiões, Sheeba, eu acredito que a ameaça
de encarceramento na Brigada vai conter quaisquer rebeliões adicionais."
"Porque isso funcionou muito bem essa noite", murmurou Cástor.
Sophie não estava prestando atenção neles, pois estava inspecionando a
comida exposta nos fundos da antiga sala de aula congelada de Lady Lesso.
Rafal tinha prometido que eles serviriam almoço na reunião dos professores, mas
ela só encontrou um monte de peixe frio, batatas queimadas e queijo endurecido.
Ela deu uma conferida em seu reflexo numa parede de gelo e quase não se
reconheceu. Lá se fora a menina em pânico, carente, que tinha perseguido um
príncipe até Avalon; em seu lugar, agora havia uma rainha imperiosa, com uma
coroa de espinhos e um vestido magnífico. Desde a coroação do dia anterior,
diante de vilões famosos e ex-colegas de classe, todos prestando homenagem à
nova líder, Sophie tinha começado a se sentir como seu velho eu. Ela olhou para
a estrela branca de Merlin que enfiara no bolso. Sem dúvida, o mago a deixara
para fazê-la repensar sua lealdade ao Mal. Em vez disso, a estrela só serviu para
reforçar seu compromisso. Porque, assim como Agatha, aquele velho duas caras
a usara o tempo todo. Ele fingiu que a salvara porque queria vê-la feliz quando,
na verdade, só queria que ela destruísse a aliança. Assim como Agatha, ele não
se importava se ela ficaria sozinha. Ela não era nada além de um meio para um
fim. Uma pateta ingênua. Um elo na corrente do Bem. E isso não parecia nem
um pouco do Bem para ela.

Ah, mas o que ela não teria dado para ver aquele intrometido jogado noscalabouços gélidos, com sua capa estúpida, o chapéu infernal e os gracejos senis

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Ah, mas o que ela não teria dado para ver aquele intrometido jogado nos
calabouços gélidos, com sua capa estúpida, o chapéu infernal e os gracejos senis.
Da próxima vez, ela mesma cuidaria de prender os prisioneiros na Brigada.
Seus olhos voltaram-se para o bufê sofrível e ela deu uma olhada para os
professores sentados — Professor Manley, Professora Sheeks, Cástor, Pólux e
Lady Lesso — cada um deles com um prato cheio daquela comida pútrida. O
Reitor Aric era o único que faltava na reunião.
"O nosso maior problema é que nós esprememos todos os alunos do Mal na
antiga Escola do Bem, e os imbecis daqueles Nunca não sabem diferenciar
aquele castelo de suas próprias bundas", resmungou Cástor. "Toda hora acabam
trancados em armários ou caem em passagens secretas. Como podem proteger
uma escola se não sabem a localização de nada..."
"O maior problema que temos é a comida", Sophie rugiu.
Todos da sala se viraram para ela.
"Se isso é o que servem numa reunião do corpo docente, — à sua própria
rainha, me pergunto o que os alunos estão aturando?", Sophie reclamou,
sentando-se ao lado de Rafal na antiga escrivaninha de gelo de Lady Lesso. Ela
passou o braço por baixo do braço dele. "Agora que eu fui coroada, tenho o
direito de fazer algumas mudanças por aqui. E você não pode liderar um exército
cheio de gases e mal nutrido, não é, querido?"
Por um momento, o jovem Diretor da Escola pareceu tão emudecido quanto
os professores. Depois, ele tocou o rosto de Sophie.
"É claro, minha rainha."
"Adorável", disse Sophie. Ela lançou um olhar fulminante para Pólux. "Dê
um jeito nessa comida!"
Pólux parecia ter sido atingido com esterco. Lady Lesso limpou a garganta.
"Rafal..."
"Você quer dizer Mestre", Sophie a corrigiu.
Lady Lesso desviou os olhos para ela. A Reitora lançou-lhe um olhar
entretido, do tipo que se dá a um cãozinho que demonstra ter vontade própria.
"Mestre", ela continuou de modo afetado, de volta para Rafal, "eu acho que o
restante dos meus colegas está tentando dizer que não se pode abordar uma
guerra iminente como uma criança impetuosa. Se Hester e Anadil, duas de
nossas melhores Nunca, acabaram se revelando espiãs do Bem, como podemos
confiar que os outros alunos serão fiéis à nossa causa? Monitorá-los em seus
futuros grupos talvez abrande seus instintos de rebeldia, mas isso não consegue
abordar suas lealdades mais profundas. Quando confrontados com a escolha de
lutar conosco ou contra nós, não poderemos prever quantos deles realmente
serão nossos aliados. Particularmente aqueles Sempre cujas famílias lutaram
pelo Bem durante toda a vida. E, falando francamente, Mestre, acreditar no
contrário é deixar que sua recente juventude prejudique seu discernimento."
"Estou bem certa de que Rafal e eu sabemos bem mais sobre o que os jovens
pensam do que você, Lady Lesso", Sophie estava faiscando.
"É mesmo?", questionou a Reitora, com os olhos fixos nela, já sem o ar
entretido. "Porque tudo o que eu vejo é uma escola cheia de alunos que se
voltarão contra vocês no instante em que tiverem uma chance."
Sophie sentiu o braço de Rafal se contrair. De repente, ele parecia um
adolescente incerto, em vez de um feiticeiro poderoso. Como ele podia deixar
que os professores o questionassem dessa forma? Sophie estufou o peito.
"Lady Lesso, eu acho ofensivo que você conteste a liderança de nosso
Mestre..."
"O que você está propondo, Lady Lesso?", perguntou Rafal, ignorando a
rainha. Sophie se calou.
"Proponho que você evite a todo custo que os alunos lutem por você", disse
Lady Lesso. "Leve os antigos vilões para a Floresta e arme uma emboscada para
as tropas de Merlin, antes que eles cheguem aos nossos portões. Deixe que o
Exército Sinistro acabe com eles, antes que cheguem à escola. Os alunos devem
permanecer entrincheirados aqui sob o nosso controle."
"É o plano mais sensato", concordou o Professor Manley, como se ele e
Lady Lesso já tivessem discutido o assunto. "Nossos alunos só iriam atrapalhar
seu exército."
"Isso irá evitar espiões e sabotagem", reforçou a Professora Sheeks,
claramente por dentro do plano.
"E isso salvará a vida dos alunos", acrescentou Cástor, também fazendo parte
do time, aparentemente. (Pólux franziu o rosto, como se fosse a primeira vez que
ouvisse o plano.)
"Então, os velhos vilões vão lutar a batalha, enquanto os jovens alunos ficam
aqui?", Sophie questionou, incrédula. "E eu presumo que vocês, nosso virtuoso
corpo docente, também vai evitar a linha de frente?"
"Não dá para deixarmos os alunos aqui sem supervisão, dá? Ainda mais
diante da lealdade dúbia que eles têm", frisou Lady Lesso, encarando também,
com se quisesse enforcar Sophie com a própria coroa. Rafal sorriu secamente
para os professores.
"Isso não tem nada a ver com lealdade, tem? Vocês acham que não iremos
ganhar. Agora que eu tenho a juventude do meu lado, vocês acham que eu vou
perder essa guerra."
"A juventude também traz com ela o otimismo negligente e a disposição de
arriscar a vida por seus jovens colegas, dois pontos nada úteis numa guerra",
observou Lady Lesso. "Uma guerra em que metade de suas tropas pode não
estar do seu lado."
Rafal fixou o olhar no dela, mas Sophie notou que ele agora estava se
questionando ainda mais. Ela queria que ele punisse Lady Lesso para mostrar
toda sua força como um líder do Mal. Mas o jovem Mestre remexeu na gola e
desviou o olhar.
"Receio que tenha desperdiçado seu fôlego, Lady Lesso. A verdade é que eu
já havia decidido deixar os alunos na escola, antes que você sequer mencionasse
isso."
"Aposto que sim", murmurou Cástor.
"Deixar os alunos para trás, querido? Tem certeza...", Sophie tocou a cintura
de Rafal.
"Não posso acreditar que você deixou que elas fugissem", Aric entrou
escancarando a porta, "depois do que aquela bruxa com demônio na pele fez
comigo", Aric ardia de raiva, com o VERME em sua testa flamejando em
vermelho-fogo. "Eu disse que você deveria ter destripado todas elas e servido
suas vísceras em tortas, no jantar."
"Porque isso, sim, certamente iria inspirar lealdade de seus colegas alunos",
Lady Lesso debochou. "Você e o jovem Diretor da Escola deveriam substituir
nosso corpo docente inteiro por meninos adolescentes de cabeça quente. Vocês
poderiam rebatizar as Torres de Impetuosidade, Arrogância e Matadores."
"Você acha que por ter amedrontado aquele demônio e tê-lo afugentado para
longe de mim, pode falar comigo desse jeito?", Aric aproximou o rosto ao dela e
a segurou pelo pescoço. "Acha que porque chamou alguns professores para
ajudar seu 'menininho ferido' tudo está perdoado?", ele rosnou, salivando. "Bem,
eu culpo você por aquela bruxa espiã ter me atacado. Você que a ensinou, nesses
últimos dois anos, portanto, algo deu claramente errado em sua instrução, se ela
ataca o próprio Reitor", Aric apertou o pescoço dela com mais força ainda. "Mas
você é a Velha Reitora e eu sou o Novo, mãe. O que significa que você está fora,
eu estou dentro e essa escola será do meu jeito. E, pode confiar, quando eu digo
que você estará fora mais depressa do que imagina."
Lady Lesso regurgitava, tentando respirar...
"Aric, eu prefiro que você mate sua mãe depois que a guerra terminar",
disse Rafal.
Sophie percebeu que seu tom era muito sério. Aric também sentiu isso, pois
ele deu um sorrisinho irônico para a mãe e assoviou em seu ouvido.
"E antes de te matar, eu também vou matar a sua amiguinha fada madrinha.
Dovey, não é? Vou arrancar o coração dela com as minhas próprias mãos e fazer
com que você assista", ele a soltou rapidamente e recuou. "Claro, Diretor. Por
favor, continue."
Lady Lesso não demonstrou qualquer emoção, mas quando seu filho voltou
ao seu lugar, Sophie viu que ela esfregava a mão nas marcas que ele havia
deixado em seu pescoço, com os olhos dela cintilando de pavor.
"Então, nosso plano está pronto!", Rafal prosseguiu. "Uma vez que Merlin e
seus heróis se aproximarem, os antigos vilões irão emboscá-los na Floresta,
enquanto os jovens alunos defenderão os castelos sob a supervisão dos
professores. Vocês não dirão aos jovens alunos que eles ficarão para trás na
guerra que se aproxima, é claro. Pois, na próxima semana, eles treinarão
rigorosamente para o combate ao lado dos velhos vilões. Isso vai garantir que
estejam preparados, caso algum dos heróis de Merlin consiga passar pelo
Exército Sinistro e adentrar o território da escola. Quanto a quem será o Líder de
Treinamento de ambas as escolas..."
"Eu", Aric e Lady Lesso disseram ao mesmo tempo.
Rafal ignorou Lady Lesso e começou a assentir para Aric.
"Tenho uma ideia melhor", disse Sophie.
Rafal, Aric e o restante dos professores se viraram para ela.
"Espero que seja tão boa quanto a ideia da comida", murmurou Cástor,
arrancando risos de deboche.
"COMO SE ATREVE?!", Sophie disparou.
A sala caiu em silêncio.
"Eu sou sua rainha", disse Sophie, inclinando-se na direção dos professores.
"Não sou uma aluna, nem uma professora, mas Mestre de ambos. Assim como o
jovem Mestre diante do qual vocês se encontram e, no entanto, continuam a
desrespeitar. Não é de admirar que nossos alunos duvidem de sua própria
lealdade ao Mal, quando eles têm velhos professores amargos que não enxergam
valor na juventude, e um jovem Reitor que não é capaz nem de se proteger", ela
olhou para Aric enquanto circulava os professores, tal qual um tubarão. "Mas a
partir de hoje isso vai mudar. Porque agora eles têm a mim."
"Logo que fui nomeada professora, eu resisti. Em meu coração, ainda sentia
que deveria ser do Bem. Afinal, isso é o que foi ensinado aos Leitores como eu:
jamais perder a fé no Bem, por mais perdido que você esteja. E, no entanto, por
mais que as Torres do Bem tenham sido batizadas de Coragem, Honra, Pureza e
Caridade... quando eu estava perdida, foi o Mal que me estendeu essas coisas. A
regra diz que o Bem se defende, perdoa, ajuda, dá, ama... mas, em minha
história, foi o Mal que provou que essas regras são verdadeiras. E, subitamente,
eu compreendi o que Rafal vinha tentando me dizer o tempo todo. Que alguns
corações são rebeldes, pulsando com raiva, escuridão e dor, da forma que outros
pulsam com luz. E, no entanto, mesmo que meu coração bata pelo Mal, isso não
significa que eu não posso encontrar amor. Isso não significa que eu não posso
encontrar a felicidade. Isso só quer dizer que eu tenho que encontrar o amor ao
lado de alguém que abrace a minha escuridão, em vez de lutar contra ela.
Porque esse é o amor que mudará o mundo. Esse é o amor que vencerá essa
guerra. E esse é o amor que nós temos que ensinar."
Sophie fez uma pausa, deixando que essas palavras ecoassem na sala
silenciosa.
"Eu passei as duas últimas semanas com Merlin, Tedros e Agatha. Estive cara
a cara com todos aqueles heróis desprezíveis em sua caverna. Eu sei quais são as
suas fraquezas e como derrotá-los. E se vocês ainda duvidam de mim, então
talvez devam se lembrar de que o último rito de qualquer coroação é o desejo de
uma rainha para seu reino. Eu não tive chance de fazer meu pedido antes, mas o
farei agora. Meu desejo é fazer o que eu não pude fazer da primeira vez, quando
estive nesta escola: liderar a guerra contra o Bem e saber que a justiça está do
nosso lado. Todos vocês talvez não acreditem que o Mal possa vencer essa
guerra. Talvez vocês prefiram ficar para trás, com os alunos, acovardados diante
do futuro. Mas eu não. Eu vou preparar o nosso Exército Sinistro para a guerra.
Ficarei ao lado de Rafal, na linha de frente. Farei o que for preciso para mostrar
ao mundo que o Mal pode vencer. Porque esse já não é mais apenas o meu conto
de fadas. É o de todos nós. E, no final, minha vida é digna de ser arriscada, se isso
significa mais corações rebeldes tendo um final feliz."
Ela estava com as bochechas vermelhas, o coração disparado no peito. Os
professores a encaravam, mas não estavam mais debochando. Em vez disso,
seus olhos brilhavam com uma nova esperança, como se o Mal finalmente
tivesse mesmo uma chance. Rafal pegou a mão de Sophie.
"Muito bem, então", ele anunciou, orgulhoso. "Creio que encontramos nossa
Líder de Treinamento."
Sophie lhe deu um sorriso imponente e se virou para Lady Lesso, esperando
que ela estivesse igualmente orgulhosa pelo tanto que sua ex-aluna progredira...
Só que Lady Lesso não parecia nada orgulhosa dela.
Depois que o almoço foi servido, Merlin limpou a garganta e se preparou
para falar, mas ninguém prestava a menor atenção. Estavam ocupados demais
com a comida.
Com mais de vinte pessoas para servir: treze velhos heróis, três jovens bruxas,
uma ex-rainha e seu cavaleiro, uma futura rainha e seu rei, e um doninha sem
amor, o chapéu de Merlin se escondera na cozinha, soltando gritinhos de estresse,
até que, uma a uma, as bandejas de prata começaram a flutuar magicamente
num vai e vem pela porta. Logo, a mesa de jantar estava coberta de deleites
coloridos e cosmopolitas: salada de caranguejo, faisão ao curry e geleia de
beterraba, pato desfiado em marinado cítrico, pizza de presunto apimentado,
tapenade de iogurte e menta, salada de flor selvagem e erva-doce, e bolo de
chocolate com madressilva crocante.
Com os heróis da velha Liga famintos depois de suas labutas na Floresta, e os
jovens privados de um café da manhã por conta dos acontecimentos matinais, a
sala de jantar rapidamente se transformou numa cena de batalha, congestionada
e quente, com corpos colidindo e mãos atracando pizza e bolo, que Agatha nem
sequer foi procurar Tedros. Ela também não procurou seu príncipe após o
almoço, pois tinha comido muito e depressa demais e teve de se esconder atrás
do sofá, onde podia segurar a barriga e arrotar. Ao espiar acima, viu que todos
tiveram a mesma ideia; cada cantinho da casa do sítio estava preenchido com
um corpo jovem ou velho, curtindo uma indigestão ou desmaiado de tanto comer.
Agatha bocejou e fechou os olhos, prestes a se juntar àquele estado de coma,
quando ouviu o baque de três corpos no chão.
"Depois de tudo que nós fizemos para colocá-los para dentro e depois para
ajudá-los a escapar daquela escola, depois de arriscarmos a nossa vida, vocês
não conseguiram nem fazer a Sophie destruir a aliança?", a voz de Hester
atacou.
"Eu tentei, Hester...", Agatha abriu os olhos.
"Primeiro, você não pode falar com suas amigas usando uma coroa de
diamantes. Isso é muito pretensioso", disse Anadil.
Agatha tinha até se esquecido que estava com a coroa. Ela rapidamente a
tirou e colocou atrás das costas.
"Posso usar um pouquinho?", Dot pediu, com a boca cheia de pizza
transformada em chocolate. "Aposto que vai ficar bonita em mim!"
"Isso se couber nesse cabeção", Hester alfinetou.
"Você sabe o quanto isso é injusto, sua nojenta!", Dot jogou pizza nela,
acertando-a bem na bochecha. "Você me obrigou a ganhar peso para ficar no
grupo e agora está debochando de mim por causa disso? Você é tão insegura que
precisou que eu ficasse gorda para se sentir bem consigo mesma? Bem, você
escolheu a garota errada para implicar, queridinha. Eu me amo,
independentemente da minha aparência, portanto nada que você diga jamais
fará com que eu volte a me sentir horrenda. Pois, ao contrário de você, Hester,
eu jamais serei horrível por dentro."
Hester ficou boquiaberta, olhando para Dot como se ela fosse um urso
raivoso.
"Agatha, dê a maldita coroa à garota, antes que ela fique assim para
sempre."
Dot arrancou o diadema das mãos de Agatha e ficou se admirando numa
urna de bronze ao colocar a coroa (de cabeça pra baixo e de trás pra frente, mas
ninguém disse nada).
"Bem, onde estávamos?", prosseguiu Anadil. "Ah, certo. Na parte em que
Agatha falhou com todas nós."
Qualquer prazer que Agatha tivesse tido com a tirada de Dot já tinha
evaporado. "Ouçam, eu achei que pudesse convencer Sophie a destruir a aliança.
Nós tínhamos até nos aproximado novamente nos últimos dias. Foi como se ela
fosse a antiga Sophie e eu a velha Agatha, e eu achei que ela me ouviria..." Ela
se lembrou dos últimos momentos em que as duas passaram juntas e foi
dominada pela culpa. "Tive a minha chance. Deveria ter aproveitado..."
"Você não precisa se defender, Agatha. A verdade é que não importa o que
você fez", disse Hester, com uma compaixão estranha, claramente mais esperta
depois das palavras de Dot. "Nós lhe alertamos desde o dia de sua chegada. Nós
três avisamos que Sophie foi selecionada para a Escola do Mal por um motivo. E
não importa o quanto você a ame ou tente mudá-la, era lá que ela iria parar."
"Nós só não achamos que seria como a rainha do Diretor da Escola",
lamentou Anadil. "Agora, como vamos fazer com que a Sophie destrua a
aliança...?"
Um silêncio agourento recaiu sobre o rosto das bruxas, e Agatha percebeu
por que todos tinham ignorado Merlin quando ele tentou falar antes do almoço.
Eles queriam alguns bons momentos antes de enfrentarem a verdade. E a
verdade é que Sophie destruir a própria aliança era a única forma de matar o
Diretor da Escola e impedi-lo de matar todo mundo. E, agora que Sophie
regressara ao Mal, não havia esperança de que ela destruísse aquela aliança.
"Vocês a viram quando ela voltou?", Agatha perguntou baixinho.
"Nós a vimos do mesmo jeito que vimos você quando entramos pelo portal:
usando uma nova coroa", Hester contou.
"Só que com umas quatrocentas pessoas a mais na plateia", disse Dot, ainda
fazendo caras e bocas, admirando-se na urna.
"Mas ela realmente estava linda, tenho de admitir", Anadil acrescentou,
pensativa. "Entrou desfilando no Teatro de Fábulas, de braço dado com um belo
menino, exatamente como a velha Sophie, que acreditava que seu destino era ser
muito maior que todo mundo. O estranho era como ela estava calma. Nada
parecida com aquela bruxa cheia de verrugas que destruía qualquer coisa pelo
caminho. Foi como se o Mal tivesse finalmente aberto o caminho dela para um
final feliz."
"Como se o Mal tivesse direito de ganhar", Dot assentiu.
"Como se o Mal fosse o Bem", Hester concluiu.
Agatha pensou em Sophie, que apenas alguns dias antes tinha encostado a
cabeça em seu ombro enquanto as duas cavalgavam pelos campos. Sophie, sua
melhor amiga de vestido cor-de-rosa, que fantasiava em ser uma princesa do
Bem. Sophie, que desenhava castelos de vidro, pensava no nome de seu futuro
príncipe e matutava sobre como seria sua inimiga mortal do Mal; enquanto
Agatha tinha sido rotulada de má desde o dia em que nascera. Ela tinha retaliado
de forma irônica ao dançar conforme a música, vestindo preto e perambulando
pelo cemitério, acarinhando seu gatinho odioso... até que a ironia passou e até ela
acreditava que acabaria sendo uma bruxa.
Agora, ali estavam. Ela, a rainha do Bem. Sophie, a rainha do Mal.
"Como será que ficamos tão perdidas?", ela suspirou. "Como podem duas
melhores amigas terminarem numa guerra, uma contra a outra, apesar de se
amarem mutuamente?"
"Porque, agora, cada uma está lutando por algo maior que vocês mesmas",
disse Hester.
"Eu sinto saudade do tempo em que minha maior preocupação era
sobreviver às transformações das aulas de Embelezamento", Agatha baixou a
cabeça.
"Falando em transformações, alguém notou que o Hort está ainda mais
suculento do que estava na escola?", Dot comentou, mordendo a pizza de cacau
que pegou no chão. "Eu o vi quando chegamos, e ele está com um bronzeado de
trabalhar no campo e sujo de lama, como se ele fosse o Capitão Lenhador. E
vocês sabem como eu adoro esse tipo lenhador, tenho até uma queda pelo Robin
Hood. E, se isso ainda não bastasse, cheguei de fininho por trás dele e dei uma
boa fungada, e notei que agora ele tem cheiro de homem, nada daquele menino
que usava pijama de sapinhos e cheirava a talco de bebê, e eu só fico pensando
que já que neste lugar não tem muitos quartos, quem sabe eu consigo convencer
o Merlin a me colocar no mesmo quarto..."
"Só por cima do meu cadáver", gritou Hort, pescoçando a conversa das
meninas num canto da sala.
Hester olhou pra ele e seu demônio se remexeu.
"Isso pode ser providenciado."
Hort murmurou algo obsceno e sumiu. Hester viu Dot olhando para ela de
olhos arregalados.
"O que foi agora?"
"Você acabou de me defender?"
"Só porque você está ridícula com essa coroa", resmungou Hester.
Todas as meninas riram, até a Dot.
"Que piada eu perdi?"
Elas olharam para Tedros, lambendo iogurte dos dedos.
"Eca! Lá vem o príncipe pegajoso", Hester disse.
"É bom ver que você está terrível como sempre, mesmo trabalhando pelo
nosso lado", disse o príncipe.
"Vamos nessa", Hester disse às suas colegas de coven, levantando-se. "O
cheiro de príncipe mimado me dá enjoo."
Anadil e Dot foram atrás dela, mas só depois que Tedros passou a mão na
cabeça de Dot e pegou a coroa de volta. Ele esperou até que as bruxas não
pudessem ouvir e olhou para Agatha.
"Eu não... ahn... estou fedorento, estou?"
"Hester acha o Reaper fofinho", disse Agatha.
"Entendido", Tedros sentou-se ao lado dela, ainda com a camisa suja de
grama e as calças surradas, mas ele tinha tomado banho, pois seus cabelos
estavam molhados e ele cheirava ao sabão de chá que Guinevere mantinha na
banheira. Ele se inclinou acima dela e ajeitou a coroa de volta em sua cabeça.
"Sabia que você faria isso", Agatha suspirou. "Eu nem sou uma rainha de
verdade, Tedros. Para começar, primeiro você tem que ser coroado rei..."
"Eu serei, em uma semana."
"Se estivermos vivos, algo que está ficando cada vez mais incerto. E mesmo
que você seja coroado rei, eu sou jovem demais para ser uma rainha... quer
dizer, oficialmente... você sabe..."
"Ninguém está lhe pedindo para ser oficial. Ainda", Tedros respondeu,
arrumando a coroa. "Mas você é a minha rainha. Ninguém além de você. E eu
gosto de te ver usando a coroa. Porque, enquanto você usar, sei que ainda me
ama. E, considerando a nossa história de falha de comunicação, as dicas físicas
são úteis."
Agatha fungou.
"É neste momento que você deve me dizer como posso demonstrar meu
amor", Tedros provocou.
"Hã... romance não é muito o meu lance", disse Agatha, pousando a cabeça
no ombro dele. "Todo ano tem uma dança do Dia dos Namorados em Gavaldon.
Teve um ano que eu fiquei tão irritada com todos aqueles casais que lancei um
gambá-bomba e esvaziei o lugar."
"Espero que eles tenham te punido por isso."
"Eles tinham medo que eu cozinhasse seus filhinhos num caldeirão de bruxa."
"Lembre-me de jamais te dar um presente no Dia dos Namorados", Tedros
passou o braço em volta dela.
Através da passagem em arco, Agatha viu Guinevere recolhendo a louça
suja, sozinha.
"De qualquer forma, não há nada que eu queira", ela suspirou. "O único
presente que eu gostaria seria conversar mais uma vez com a minha mãe."
Tedros olhou para ela.
"Se bem que, se você arranjasse um tempo pra conversar com a sua mãe, só
vocês dois, isso significaria quase a mesma coisa para mim", disse Agatha.
"Acho que já fui bem longe nesse sentido", Tedros desviou o olhar.
"Você me perguntou sobre um jeito de demonstrar o seu amor. Eu não sabia
que isso tinha limite."
Tedros não respondeu, e Agatha não pressionou. Logo, os dois estavam
dormindo nos braços um do outro. Por volta das três horas da tarde, o chapéu de
Merlin passou flutuando pela sala, servindo café e chá, e todos, um a um,
começaram a voltar à sala de jantar, onde o mago estava sentado à cabeceira da
mesa. Ninguém sentou com ele. Em vez disso, os velhos heróis estavam junto às
paredes, e os jovens alunos sentados no chão, papeando, enquanto o mago
aguardava, pacientemente. Quando um silêncio ominoso recaiu sobre a sala, os
antigos heróis rapidamente começaram a preenchê-lo com histórias de como
tinham sobrevivido essas duas últimas semanas.
Peter Pan e Sininho, por exemplo, tinham se abrigado num bunker com
sereias da Terra do Nunca, enquanto Cinderela e Pinóquio tinham se escondido
na torre de Rapunzel, pensando que, se Rapunzel já estava morta, os velhos vilões
certamente não iriam frequentar o lugar.
"A torre dela agora é um museu, como a casa da Branca de Neve, então, há
uma corda que os turistas escalam para chegar lá dentro", disse Pinóquio. "Vocês
tinham que ter visto a Cinderela escalar, balançando e batendo na torre como
uma bola desgovernada. Ficava assoviando para que os pássaros ajudassem, mas
com todo o xingamento, eles só ficavam olhando, deixando que a natureza
seguisse seu curso..."
"Se a natureza seguisse seu curso, você seria lenha de fogueira", rosnou
Cinderela.
João e Maria usaram uma estratégia semelhante, pois regressaram à antiga
casa de doces da bruxa, agora também um ponto de referência dos Sempre.
"A bruxa zumbi é idiota, mas não tão idiota a ponto de achar que voltaríamos
à casa dela", explicou João. "Claro que a ideia foi minha."
"Sua ideia! A única coisa que você fez foi comer metade do telhado!", rugiu
Maria.
Agatha notou Hester mostrando os dentes ao ouvir isso... Os olhos de Agatha
se acenderam de repente, pois ela se lembrou do retrato da bruxa desfigurada na
Escola do Velho. "Hester, aquela é a sua casa!", ela sussurrou. "Sua mãe é
aquela bruxa! Ela está viva em algum lugar da Floresta..."
"Ela não está viva, Agatha. Ela é um zumbi sob o controle do Diretor da
Escola", chiou Hester. "Não sou idiota, nem sentimental a ponto de achar que
uma pateta qualquer que ele trouxe de volta da cova é a minha mãe."
"Hester, eu sei que você se orgulha por ser forte", Agatha sussurrou
preocupada, "mas como você pode simplesmente ficar aí sentada, com eles
falando dela desse jeito? Eles a mataram!"
Hester encarou-a com um olhar gélido e brilhante.
"O maior equívoco que um vilão pode cometer é se envolver com vingança.
João e Maria eram duas crianças famintas tentando sobreviver na Floresta.
Minha mãe achou que tivesse capturado mais um par de meninos mimados,
gananciosos e glutões, e acabou por subestimá-los grosseiramente. João e Maria
a mataram porque tiveram de fazê-lo. Não foi pessoal", ela deu mais uma
olhada nos dois irmãos idosos. "Isso não significa que eu aguente olhar para a
cara deles, é claro. Mas também não significa que a história deles ainda tem algo
a ver com a minha."
Agatha viu Dot e Anadil olhando para Hester com admiração e, por um
instante, Agatha ficou se perguntando se naquela sala de heróis, jovens e velhos,
Hester não seria a maior heroína de todas.
"Eu não devia ter sido tão malvada com ela mais cedo", Dot sussurrou para
Agatha. "Deve ser difícil me ter como amiga, quando eu sou o tipo de garota que
a mãe dela costumava comer. Quer dizer, se eu tivesse ido à casa dela naquele
dia, em vez de João e Maria, a mãe dela ainda estaria viva. Maria salvou João
porque ela o amava, mas eu teria acabado sozinha e cozida até ficar no ponto.
Por isso que não sou uma Sempre. Não existe mais ninguém que se importaria o
suficiente para me salvar."
"Isso não é verdade", alguém contestou.
Dot se virou e viu Hester olhando diretamente para ela.
"Isso não é nem um pouco verdade", disse Hester.
Dot corou. Agatha forçou sua atenção de volta à história de João e Rosa, só
para conter um risinho. E eles seguiram contando, cada herói deleitando a sala
com suas histórias de sobrevivência. Chapeuzinho Vermelho, Princesa Uma,
Yuba e o Coelho Branco, até que doze tinham falado, menos um. Então, e
somente então, a sala ficou em silêncio de vez.
Lentamente, todos se viraram para a cabeceira da mesa e ninguém mais
estava sorrindo. Merlin tirou o chapéu.
"Sete dias", ele proferiu. "Esse é o tempo que o sol ainda vai iluminar nossa
Floresta, com base nos cálculos de Yuba. Sete dias. Se nós desejarmos sobreviver
além desses dias, não temos escolha a não ser atacar a Escola do Mal, e o Diretor
da Escola sabe disso. Ele sabe que o Bem sempre luta pela vida. E eu receio que
nós não tenhamos escolha, exceto cair em sua armadilha", o mago suspirou. "Ao
mesmo tempo, como tantos de nossos colegas heróis vêm sendo assassinados na
Floresta, o escudo protetor sobre o Mundo dos Leitores está quase destruído. Se
algum dos antigos membros de nossa velha Liga morrer, desconfio que o escudo
finalmente cairá. O Diretor da Escola irá invadir o mundo deles e reivindicar o
final secreto que ele espera há tanto tempo. Um final que, ele acredita, destruirá
o Bem para sempre."
Por um momento, ninguém falou, assimilando tudo.
"Não entendo. Matar esses dois patetas não é o suficiente?", perguntou
Cinderela, apontando para Agatha e Tedros. "O conto de fadas é deles. Por que
ele precisa do Além da Floresta?"
"É uma boa pergunta, e eu gostaria de ter a resposta", Merlin respondeu.
"Mas não tenho dúvidas de que ele vai matar Agatha e Tedros também, quando
chegar a hora."
Agatha e Tedros trocaram olhares tensos.
"Acho que está claro que o Diretor da Escola quer que seu conto de fadas
seja tão cruel, tão do Mal, que não reste mais nada do Bem para contar história
depois dele. Ele já está reescrevendo muito do nosso passado. Agora, ele está
atrás do nosso futuro. Qualquer que seja o final que ele está planejando, ele
acredita que tornará o Mal invencível."
"E você não faz ideia do que seja esse final, Merlin?", forçou a Princesa
Uma.
"Somente uma suspeita, nada que eu compartilharia antes de saber com
certeza. De fato, nossa única esperança é pegar Sophie e convencê-la a destruir
aquela aliança."
Agatha sentia-se nervosa, tentando se lembrar que agora a melhor amiga
estava liderando o inimigo.
"Então, como fazemos isso?", perguntou Chapeuzinho Vermelho.
"Nós invadimos a escola, é claro", Merlin sorriu.
Os velhos heróis se entreolharam, cautelosos.
"Bem, e quais são os reinos Sempre que se juntarão a nós?", perguntou João.
"Nós precisaríamos, no mínimo, de Maidenvale, Gillikin e Avondale..."
"Nenhum", Merlin respondeu.
"O quê?", disparou Rosa.
"Nenhum dos reinos Sempre vai se juntar a nós."
A sala ficou totalmente imóvel.
"Merlin", disse Peter Pan. "O Diretor da Escola é jovem e forte. Ele tem
duzentos vilões antigos que não podem ser mortos por nada, exceto fogo, além de
uma escola cheia de alunos jovens..."
"Deixe esse problema comigo", o mago falou. "Enquanto isso, espero que a
Liga trabalhe com nossos jovens heróis: Agatha, Tedros, Hort, Hester, Anadil e
Dot; e os prepare da melhor forma possível para os vilões que irão enfrentar, já
que vocês já batalharam contra esses mesmos vilões. Nós partiremos para a
guerra em uma semana, a contar dessa noite.
"Mas nós somos uns velhotes!", João disse.
"E eles são um bando de jovens idiotas!", Maria completou. "É impossível!"
"É idiotice!", disse Cinderela.
"É um massacre, isso sim", corrigiu Chapeuzinho Vermelho.
"A outra opção é deitar e esperar a morte", disse Agatha, colocando-se de pé.
Todos se viraram para ela. Tedros lançou-lhe um olhar surpreso, como se,
naquele momento, ela tivesse muito mais coragem que ele. Enquanto isso,
Agatha sentia o suor se acumulando sob a coroa. Na verdade, ela tinha se
levantando antes de ter algo a dizer. Mas então, ela viu Guinevere, no canto da
sala. A antiga rainha assentiu para ela, com um sorriso, e Agatha sentiu a voz lhe
voltar.
"Minha mãe morreu para que eu pudesse viver", disse Agatha, ainda
observando Guinevere como se ela estivesse lhe transmitindo as palavras.
"Durante grande parte da minha vida, cometi o equívoco de achar que ela era
ignorante. Achava que ela era velha e estava totalmente por fora, e, de forma
alguma poderia saber o quão difícil era ser jovem. Nunca prestei muita atenção
nela, da mesma forma como eu e Tedros desconsideramos todos vocês, logo que
chegamos à caverna."
"Desconsideraram?", interrompeu Peter quase uivando. "Você e seu
namorado disseram que éramos um asilo para os que estão com o pé na cova!"
"Bem, vocês também tiraram suas conclusões a nosso respeito", Agatha
rebateu. "Vocês pensaram o que minha mãe pensava: que gente jovem é
negligente e imprudente, e que ganha tudo com facilidade."
Os velhos heróis resmungaram em concordância.
"Mas, no fim, minha mãe soube como me manter em segurança", Agatha
prosseguiu. "Ela não apenas me salvou da morte... ela também me levou até
vocês. Não a um reino de guerreiros, nem a uma jovem Liga de Cavaleiros, mas
a um grupo de antigos heróis lendários que ela sabia que me protegeria. E ela
estava certa, não estava? Por isso que eu deposito minha fé em vocês, mesmo
que vocês não acreditem em si mesmos, nem em nós. Porque eu posso não ter
ouvido minha mãe enquanto ela estava viva. Mas eu a ouço agora", Agatha olhou
um a um os membros da Liga.
"Eu e meus amigos contaremos tudo que sabemos sobre o jovem Diretor e
sua nova escola. Em troca, nós precisamos que vocês nos contem como nos
defender de seus velhos inimigos. Deixem que o Merlin se preocupe com o nosso
plano de guerra. Nossa função é ouvir uns aos outros, Sempres e Nuncas, jovens
e velhos, por mais fraco que seja o nosso exército. E se alguém não quiser fazer
parte desse exército, então pode partir agora e ver como se vira sozinho na
Floresta."
Merlin se levantou. Todos os olhos se voltaram pra ele.
"Ah, minha nossa. Não, eu não vou embora", ele disse. "É só minha bunda
que já tá meio quadrada de ficar sentado."
O riso irrompeu na sala. Agatha viu Tedros sorrindo para ela com uma
expressão suave, como se suas palavras sobre a mãe fossem tão significativas
para ele quanto foram para ela.
"Bem, agora que nossa rainha já deu o tom, o trabalho de verdade vai
começar", Merlin declarou. Ele girou o dedo acima da mesa e surgiram
pequenas estátuas de mármore de cada membro que estava na sala. "Cada
jovem aluno treinará com um velho herói..."
Agatha se espremeu entre Hester e Hort, tentando ter uma visão da mesa,
enquanto Merlin formava os pares com as estatuetas, anunciando as equipes de
treinamento: Dot com Chapeuzinho Vermelho, Anadil com João e Maria.
Agatha não conseguia focar. Sua coroa estava coçando terrivelmente e ela
ergueu os olhos, torcendo para que Tedros estivesse distante o suficiente para que
ela pudesse tirá-la... Só que ela não via mais Tedros em lugar algum. E agora que
observava a sala, viu que Guinevere também não estava ali.
Ela ouviu a tranca da porta da frente e deu uma olhada para trás, vendo a
sombra de um menino através da cortina da janela, levando sua mãe lá para o
lado de fora, sozinho. Hester a cutucou.
"Preste atenção."
Agatha virou-se para a mesa. O mago estava olhando diretamente para ela,
dizendo algo sobre seu mentor e sua missão na guerra que estava por vir... Mas
Agatha não conseguia parar de sorrir porque, por um breve instante, ela se sentiu
como se uma guerra já tivesse sido ganha.


A escola do bem e do mal 3 Infelizes para sempre - Soman ChainaniOnde histórias criam vida. Descubra agora