19 - Reuniões da Velha Escola

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Meninas têm a cabeça mais mole que os meninos?
Tudo que Tedros sentia era a baba escorrendo de seu lábio, a bochecha ralada
e a cabeça latejando de dor. Ele não conseguia sentir os olhos, muito menos abrilos,
e ficou imaginando se era assim que as mangas se sentiam quando caíam das
arvores e se espatifavam, antes de se dar conta de que mangas não têm
sentimentos e era provável que ele estivesse sofrendo de uma concussão violenta.
Em meio aos ataques de náusea, ele tentou tocar a parte de trás da cabeça,
verificar se tinha sangue, mas suas mãos não se moveram. Ele abriu lentamente
uma fresta nos olhos, e viu que ainda estava num corpo de menina, esparramado
numa cama branca de dossel, amordaçado e com os punhos presos aos mastros,
amarrado com lençóis de veludo vermelho.
Com um nó na barriga, ele virou a cabeça e viu Sophie sentada sobre um
altar de pedras, num canto, com o Storian parado em cima de uma página em
branco.
"Ora, ora, Essa, se é que esse é realmente o seu nome. Você me contou
tantas mentiras que ouvir seu papo de 'garota para garota' parece um tanto sem
sentido, você não acha? Mas, deixe-me lhe dizer o que eu sei. Você não é uma
aluna nova. Você não é uma assassina Nunca. Você nem é uma Nunca. Você e
seu 'primo' são espiões do Bem e estão aqui para destruir meu final feliz. Só que
você chegou tarde demais, Essa, querida. Agatha e Tedros já partiram há muito
tempo, como atesta essa página em branco, e Rafal e eu estaríamos em plena
noite romântica se não fosse por você."
Tedros tentava desesperadamente falar com a mordaça na boca.
"Ainda tem algo a dizer? Ah, querida", Sophie disse num tom arrastado,
levantando-se. "Bem, já que o Diretor da Escola e você são tão amigos do peito,
por que você simplesmente não conta para ele? Ela ergueu o dedo iluminado em
direção à janela, prestes a disparar uma chama no céu..."

Mas então Sophie baixou as mãos, arregalando os olhos

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Mas então Sophie baixou as mãos, arregalando os olhos. Na cama, os cabelos
longos de Essa foram clareando, passando de preto para dourado e encolhendo
até o couro cabeludo, assim como seu queixo, que ganhou uma covinha e as
maçãs do rosto que saltaram, mostrando uma barba loura escura por fazer.
Agora, mais depressa, as pernas e os braços ganhavam pelos e os pés
aumentaram dois tamanhos, os ombros e peito alargaram, rasgando as costuras
da camisa. Enquanto a garota estranha se retorcia de dor, a batata de sua perna
foi ficando musculosa, os bíceps aumentaram, assim como os antebraços,
rasgando os nós das amarras até que elas finalmente se soltaram e ele arrancou a
mordaça com um rugido, já não sendo mais uma menina, ou alguém estranho,
mas um príncipe em seu corpo, parecendo um leão libertado da jaula. Sophie
recuou para um canto.
"Teddy ?"
Um som raspado familiar preencheu o ambiente, e Sophie olhou para baixo,
vendo o Storian despejar uma nova cena na página em branco: uma garota de
pernas arqueadas, com um capacete na cabeça, correndo pela Ponte do Meio
Caminho, rumo à Escola do Velho.
"Aggie?", Sophie deu um gritinho esganiçado.
Ela olhou para cima, para Tedros, de pernas trêmulas, respirando ofegante.
"Não entre em pânico", tranquilizou o príncipe, ao se mover até a metade da
cama. "Apenas não entre em pânico, docinho...", ele estendeu a mão pra ela,
abrindo um sorriso vencedor. "Um príncipe está aqui para salvá-la, está bem? Vai
ficar tudo bem..."
Sophie entrou em pânico e saiu correndo até a janela, com o dedo aceso,
lançando uma chama rosa-choque na noite... Uma explosão dourada a dissipou e
Sophie girou para ver o dedo de Tedros aceso, apontando em sua direção.
"Ouça. Agora eu sou um menino. Portanto, ou nós faremos isso da maneira
mais fácil, ou teremos que fazer do jeito difícil", ele alertou, esperando que
Sophie parasse de respirar ofegante e recobrasse o bom senso.
Em vez disso, ela correu até a janela, tentando disparar outra chama.
"Então será do jeito difícil", Tedros suspirou.
Dois minutos depois, Sophie estava presa ao mastro da cama, com os lençóis
de veludo vermelho, gritando todos os palavrões possíveis por baixo de sua
mordaça. Tedros a encarava do altar, com a camisa rasgada e coberto de
arranhões.
"Agora, pela primeira vez em nossas vidas, Sophie, nós dois vamos ter uma
conversa normal."
O Storian sabe que eu estou aqui, pensou Agatha, enquanto seguia
sorrateiramente pelo corredor escuro, em seu corpo de menina. Era só uma
questão de tempo até que o Diretor da Escola viesse em seu encalço. Um relógio
tocou lá no alto do castelo. Onze horas. Restava uma hora.
Ela apressou o passo com suas botinas, abafado pelas goteiras ruidosas que
pingavam do teto mofado. Ela precisava encontrar a espada de Tedros agora. A
Excalibur era a única esperança que eles tinham para destruir a aliança do
Diretor da Escola — e, consequentemente ele próprio.
Mas, onde ela estava?
Mesmo com algum tempo de sobra, ela não fazia a menor ideia do que havia
dentro da Escola do Velho, muito menos quem estava à espreita dentro do
castelo, ou onde deveria procurar a espada que poderia estar escondida em
qualquer lugar: num armário secreto, por trás de uma lareira, embaixo de um
tapete, atrás de uma porta invisível, embaixo das pedras que ela pisava... Quem
ela estava querendo enganar? Essa era uma missão tola!
Agatha se recostou numa parede, tentando não vomitar. Eu não vou conseguir
fazer isso. Jamais a encontrarei. Uma velha voz respondeu, dentro de sua cabeça.
"Não falhe."
As últimas palavras de Merlin. As mesmas palavras de sua mãe.
O mago havia colocado o destino do Bem em suas mãos e nas de Tedros por
um motivo. Talvez ela duvidasse de si mesma. Mas ela não duvidava de Merlin.
Não falhe.
Dessa vez, a voz era a sua. Respirando fundo, Agatha virou e seguiu para o
foy er. A entrada da sala estava em silêncio, vazia e insuportavelmente úmida.
Qualquer sinal da Escola de Meninos, com temas militares, havia sido apagado,
com o foy er de rochas negras do jeito que era no primeiro ano: cheio de
goteiras, pouco iluminado por gárgulas empunhando tochas em suas bocas. Sem
qualquer sinal dos guardas, Agatha seguiu rapidamente até a antessala ao lado do
foy er, onde três escadas em espiral subiam aos dormitórios. Os retratos dos
novos Nunca haviam sumido, sem dúvida tinham sido transferidos para o outro
lado da baía. Mas o resto das paredes ainda estava forrado de antigos alunos do
Mal, cada um deles emoldurado ao lado de uma cena do que eles haviam se
tornado após a formatura.
Só que agora, enquanto Agatha olhava mais atentamente, ela via que as
molduras dos vilões mais famosos do Mal haviam sido todas desfiguradas. O
retrato do Capitão James Hook, ou Capitão Gancho, quando jovem,
sorumbaticamente belo, tinha sido pichado por várias pessoas:

A escola do bem e do mal 3 Infelizes para sempre - Soman ChainaniOnde histórias criam vida. Descubra agora