7. She

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As coisas pareciam estar de volta ao normal. Demorei um tempo para parar de viajar na memória do dia das pedras, não queria que aquilo atrapalhasse o momento em que eu e Calum estávamos então me esforcei.

Eu e os meninos junto com um grupo de amigos pensávamos em uma viagem para as férias. Em uma dessas semanas passadas nos juntamos na cafeteria de sempre para podermos conversar e planejar tudo.

Acabamos não resolvendo quase nada, passava o tempo e a cada hora alguém precisava ir embora resolver alguma outra coisa e adivinhem... ficamos só eu e ele. Estranhamente o universo parecia estar a nosso favor e não vou lutar contra ele.

Terminava de arrumar as coisas, hoje é o dia em que estamos indo para nossa tão esperada viagem. Eram umas dez pessoas ou mais, muita gente que ainda não conhecia. Quem eu sabia que iria além de nós quatro (Eu, Calum, Michael e Luke), era uma menina chamada Crystal, um cara chamado Roy e, obviamente, o Ash.

Bali, 2016

Chegamos de noite e aquela era a manhã do primeiro dia. Não fizemos muita coisa por conta do cansaço da viagem. Passamos o dia na piscina da casa em que alugamos, bebendo, conversando e para o almoço pedimos pizza.

Começava escurecer e fazer mais frio, sinto minha garganta secar e saio da rodinha de conversa por um segundo para pegar um copo d'água na cozinha. Dou de cara com Ash no cômodo tirando uma cerveja da geladeira, peço para que deixe o aparelho aberto já que iria pegar água. Me viro para encher o copo em cima do balcão e Ash permanece ali sentado me observando.

– O que foi? – falo com um sorriso e provavelmente vermelha de vergonha, nunca gostei de pessoas prestando atenção demais em mim.

– Nada. – ele ri. – Desculpa, é que você é muito bonita. – agora tenho certeza de que estou vermelha.

– Ah... Obrigada.

– Na verdade acho isso desde a primeira vez que te vi, e depois que conversamos naquela dia no quintal tive a certeza. E além de linda, você é muito legal, Lia.
– ele me chama por um apelido que com certeza inventou na hora por que nunca ninguém havia me chamado de Lia antes.

– Você também, Ash. – falo já tranquila
– Obrigada, você é um fofo. Sua energia é incrível, adorei te conhecer.

– Estava pensando, não fizemos nada hoje, né? Tá afim de sair para jantar?
– sou pega de surpresa, fico meio apreensiva no começo mas acabo aceitando, por que não, né? Já tinha bastante tempo que não saia com ninguém.

22:00. Prontos para sair. Eu não falei nada pra ninguém e, aparentemente, ele também não, logo percebo já que todos nos olham assustados quando caminhamos juntos e de certa forma arrumados até a porta.

– Tchau! Cuidem da casa! – brinco, rindo das expressões dos nossos amigos no sofá da sala

– Tchau! – Ash também se despede e todos respondem balançando as mãos no ar sem dizer nada enquanto nos sumíamos atrás da porta.

Paramos em um restaurante de massas na beira da praia, que por sinal tinha uma comida incrível. Foi uma noite de conversas e risadas, e honestamente, não espera menos vindo do Ashton. Terminamos o vinho e insisti para que dividíssemos a conta.

Decidimos caminhar pela orla da praia antes de voltar para casa.

– Como nasceu sua paixão pela bateria?

– Não sei. Acho que no começo usava como escape já que não tive uma estrutura familiar. Minha mãe criava eu e meus irmãos sozinha e eu, como o mais velho, me sentia um pouco pressionado, me forçava para ser o exemplo e, talvez, tentar dar uma figura paterna.

– Nossa... – não sabia como responder aquilo. – E como conheceu os meninos?

– Mike me enviou uma mensagem no facebook. – nós rimos – Por que não te conheci naquela época? Honestamente, muito tempo perdido. – ele para na minha frente e me encara. Fico totalmente sem reação e não falo nada.

Ele tira um fio de cabelo caído do meu rosto e deixa a mão ali, o vejo se aproximar. Entro em desespero, parece que finalmente cai a ficha de que aquilo era um encontro. Penso em todos os possíveis fins que poderiam acontecer caso o beijasse naquele momento. Me lembro dos fracassos anteriores de quando ainda tinha esperança de conseguir sentir alguma coisa e simplesmente me afasto.

– Eu... – respiro fundo – Desculpa Ash, eu não consigo. – ele me olha sem entender e talvez um pouco decepcionado.

– Ta tudo bem, você não tem que se desculpar por nada. – sorrio e encaro meus pés.

Seguimos o caminho de volta para casa. Ele tentou puxar qualquer assunto e manter uma conversa até que chegássemos. Fiquei feliz com sua maturidade e por ter feito questão de não criar um clima estranho entre nós. Agradeço pela noite e peço desculpas mais uma vez antes de seguir para meu quarto.

Tomo um banho e coloco uma roupa quentinha. Vou até o lado de fora da casa para pegar um ar antes de me deitar para dormir, me sentia envergonhava e ainda precisa pensar muito sobre o que tinha acontecido.

Encontro Calum sentado em uma das mesas de madeira perto da piscina sozinho e vestido da cabeça aos pés de moletom.

Calum's POV

Tália sentada na cafeteria de sempre contando sobre um de seus projetos de produção da faculdade, era inevitável não reparar seu sorriso enorme e sua paixão pela fotografia. Ela falava e tudo parecia acontecer em câmera lenta na minha cabeça, minha mente parecia prestar atenção em detalhes que nunca foram atrativos antes.

Bochechas grandes mas que não atrapalhavam o desenhado quase perfeito do seu rosto. Sardas sobre seu nariz e na região embaixo dos olhos castanho tão escuros que quase sumiam no preto da pupila, marcados com as olheiras. Lábios finos, sorriso perfeito e cabelos que se misturavam em castanho e ruivo. Ela é perfeita.

Abro o olho e me sento na cama frustado por não conseguir dormir. Tália não saia da minha cabeça e ainda não aceito que eu esteja incomodado com ela e Ashton mais uma vez. Olho meu celular para checar a hora e ainda é meia noite, pego o cigarro e o isqueiro na escrivaninha e sigo para a área da piscina. Sento com a droga acessa entre meus dedos, infelizmente era a única que podia acalmar meus pensamentos naquele momento.

Estava fugindo dos sentimentos desde que terminei meu último namoro. Eu nunca acreditei muito no amor e então simplesmente desisti depois de tentar inúmeras vezes, mas do jeito que as coisas estão acontecendo meu plano fugitivo parecia ter ido por água a baixo.

Minhas reflexões são interrompidas quando vejo Tália passar pela porta e logo perceber minha presença, ela me encara e segue em minha direção.

– O que está fazendo aqui sozinho?
– pergunta se sentando do meu lado.

– Precisava pensar e não estou com sono para dormir agora.

– Você tá bem? – olha para mim mas logo direciona o foco para minhas mãos.
– Posso? – aponta para o cigarro.

– To de boa. – passo o que estava entre meus dedos para os dela que logo puxa um trago.

– No que está pensando?

– Nada de interessante.

– Você não tá assim por que sai com Ash hoje não, né? Você mesmo disse que se incomodar com isso era ridículo. – fico sem palavras com sua audácia de dizer aquilo com tanta firmeza, como se ela fosse o centro de tudo e o motivo da minha insônia naquela noite, me irrito por que aquela era a verdade.

– Desculpa se eu não tenho controle dos meus próprios sentimentos.

Ela não diz nada, só me encara. Desvio o olhar para frente, minha vez de dar um trago. Solto a fumaça que some no ar.

Enfim olho em seus olhos, sinto sua mão passar pelo meu cabelo me causando arrepios, naquela momento tenho vontade de beija-la de novo. Tomo coragem para dizer o que deveria ter dito quando conversamos no carro.

– Tália, eu não consigo seguir fingindo que nada aconteceu. – falo de uma vez.

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