2. Lights Up

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Fiz o que precisava e terminei com Lucas naquela tarde. Desde então tem sido como esperava, saio todos os dias só para não ter que enfrentar minha própria companhia.

Fazem três semanas que vivo nessa rotina, mas hoje tá sendo diferente. Eu to cansada, sem ânimo ou força para sair.

Estou deitada no meu quarto assistindo qualquer filme da netflix, sem o menor interesse, apenas para evitar pensar demais. Olho o relógio que marca quatro da tarde. Meu telefone vibra e vejo o nome de Calum brilhar sobre a tela, levanto da cama, atendo a ligação e fico perambulando pela casa.

– Oi baixinha, como você tá? Tá tudo bem? – ele sabia da minha situação e como não queria tocar no assunto limitava suas palavras.

– Oi Cal, eu to de boa. Você tá ocupado? Pode vir aqui?

– To terminando aqui no estúdio e vou para aí.

Apenas concordo e desligo a ligação. Sabia que não podia fugir dos meus sentimentos para sempre, e sinceramente, já não aguentava mais guardar tudo que sentia pra mim. Estava ao ponto de explodir.

Eram quase cinco horas quando Calum chega. Sentamos na varanda enquanto deliciamos uma taça de vinho.

– Como foi no estúdio hoje? E como tá o álbum?

– Estamos escrevendo uma música que vai fazer muito sentido para os fãs e por isso estamos levando mais tempo para terminar essa. Se chama ''Ghost Of You''.

– E é sobre o que?

Ele olha pra mim e faz sinal com a cabeça para mudar de assunto. O encaro e ele faz o mesmo, sorrio por que talvez soubesse do que se tratava. Não só Calum, mas Luke também, os dois tiveram terminos difíceis no ultimo mês.

– E você como está? – pergunta enfim mudando de assunto.

– Estou melhor na verdade. Apesar de tentar não pensar muito, sempre acabo o fazendo.

– E o que tem pensado?

– Em mim e o por que de ser tão insegura e fria. – ele me encara e eu continuo.
– Sempre acreditei que meus pais fossem bons companheiros mas não como um casal. O relacionamento deles é extremamente tóxico. Meu pai passa do limite e minha mãe não faz nada. Conversei com ela algumas vezes e é óbvio que me meto quando acontece do meu pai gritar e perder o respeito com ela na minha presença mas não tem mais nada que eu possa fazer se ela não me escuta. – percebo que estou falando demais e paro mas Calum está com os olhos fixados em mim prestando atenção. Me sinto confortável para continuar.
– Meus sentimentos sempre foram meio invalidados lá em casa, não passava de uma descarga emocional para eles, por isso com o tempo fui me afastando e ficando mais calada por que falar me fazia muito mal. Meu pai adora se exaltar e apontar erro nos outros mas não aceita quando fazemos isso com ele, como o próprio diz, ele está sempre certo. Pensando esses dias, cheguei a conclusão de que viver com essa realidade de um relacionamento por anos me fez desenvolver insegurança e receio de me abrir.

Termino e olho para baixo, fico brincando com a taça de vinho, o silêncio estava me matando, era realmente muito difícil ser vulnerável. Seguro as lágrimas, doía reviver tudo aquilo. Calum pensa um pouco antes de dizer qualquer coisa.

– Você é incrível, Tália. – ele me olha e tomo coragem para tirar os olhos da taça e o olhar nos olhos de volta. – Você é corajosa e madura. Entender de onde vem suas inseguranças é tao difícil, e mesmo com medo, você se abriu e tentou ser vulnerável. Por favor não se pressiona, afinal, você só precisa de você mesma pra ser feliz. E eu vou tá sempre aqui.

Olho para ele sentado do meu lado, o sol começava a se por na nossa frente, sua pele estava radiante iluminada pela luz laranja de fim de tarde, seus olhos pequenininhos brilhavam em um marrom amendoado e seus cachos do cabelo faziam o mesmo. Sorrio com aquela cena e com tudo que ele diz. Calum tem sido um amigo incrível pra mim e não sabia como podia agradecer por tanto.

Não consigo conter algumas lágrimas mas enxugo rápido as gotas caídas na bochecha e rio do quão melancólica estava sendo.

– Obrigada por ter vindo e me escutado, sinto que tirei um peso das costas.

Ele sorri pra mim e me abraça. Ficamos ali entrelaçados, minha cabeça em seu ombro enquanto o sol sumia no céu.

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