13. Canyon Moon (parte 2)

35 8 0
                                    

Calum's POV

Hoje é domingo, não tenho nenhum compromisso e não adiarei mais nada. Prometo pra mim mesmo que vou resolver isso de uma vez por todas. Afinal, não aguentava mais ficar longe dela.

Coisa do destino ou não, quando estou voltando do estúdio que fui visitar apenas para pegar algo que havia esquecido ontem, vejo Tália sentada em um dos bancos da orla com um casaco enorme que a fazia parecer menor do que já era. Os braços entrelaçados nas pernas. Ela está olhando a lua. Sinto vontade de abraçá-la.

Gosto de pensar que existe uma corda invisível que amarra ela a mim. Não importa o que aconteça a gente sempre se cruza no caminho, afinal foi assim que tudo começou, foi assim quando a vi no bar e no jardim da casa de Bali, agora aqui na praia.

Tália's POV

Abro os olhos e sinto minha cabeça pesar. Mais uma tarde de ressaca, mais um dia acordando sozinha e mais uma vez lembrando de tudo que havia acontecido, álcool definitivamente não fazia esquecer como queria. Eram cinco da tarde, o horário que acostumei acordar aos domingos já que só chego em casa de manhã.

Sinto falta da presença de Calum todos os dias. Bufo por perceber que estava pensando nele. De novo.

Me levanto e preparo um café. Sento na varanda enrolada em um coberto que levo comigo. Fico ali sozinha pensando e digerindo tudo, faço o que já devia ter feito a muito tempo, realmente não podia fugir pra sempre.

A lua aparece no céu e decido ir até a orla. Coloco roupas quentes e confortáveis sem me importar muito e deixo meu apartamento.

– Licença, será que posso fazer companhia? – ouço uma voz masculina surgir por trás de mim.

Viro o olhar em sua direção, fico desnorteada, não podia ser Calum, deve ser apenas o álcool de ontem à noite ainda presente no meu corpo.

Pisco algumas vezes e demoro a entender que era realmente ele. Penso em gritar, correr para seus braços, perguntar por que não havia me procurado antes, pedir desculpas e escutar o mesmo, mas apenas afirmo com a cabeça e abro espaço para que sente do meu lado.

Faz-se um silêncio que dura uns cinco minutos, acredito que ninguém sabia muito o que dizer embora ambos soubéssemos que queríamos a mesma coisa: conversar e enfim resolver as coisas.

– O que veio fazer aqui? – pergunto.

– Eu... ahn... eu... – ele coça o pescoço
– Na verdade estava indo pra casa e te vi aqui e bom... decidi parar.

Mais silêncio.

– Por que não me procurou? – digo após alguns segundos.

– Você também não me procurou.

– Mas foi você quem disse coisas horríveis para mim e ...

– Você me deu motivos! – ele me interrompe e diz aquilo em tom relativamente alto. Balanço a cabeça e me levanto decidida a ir embora. Parecia impossível conversar e não ia aceitar que gritasse comigo mais uma vez.

– Não, não Tália. Desculpa. – ele segura minha mão – Não vim aqui brigar, só quero conversar.

Receio mas acabo cedendo. Sento novamente no banco a mais ou menos um palmo de distância de seu corpo. Encaro a praia na minha frente e espero que fale.

– Sinto sua falta. – é tudo que sai da sua boca. Meu coração amolece mas esforço para não transparecer.

– Acho que nos dois erramos e devemos desculpas. – respondo e sinto seu olhar em mim – Quero que entenda que não falei o que falei por mal. Nunca senti nada parecido antes de você, só não tinha certeza do que estava acontecendo. – o encaro de volta – Também sinto sua falta, Calum. Muita.

Vejo um sorriso formar em seu rosto mas nenhum de nós se move. Ele parece pensar um pouco e seu rosto volta a seriedade.

– Eu sei, agora entendo isso. Me desculpa por tudo que disse. – ele toma cuidado antes de dizer em seguida – Já te disse isso antes mas entraremos em turnê semana que vem. – ele pausa, talvez esperando um sinal positivo. Já sabia o que viria e deixo que fale. – Só não quero te perder, Tália. Preciso entender nós.

– Uma hora ou outra teríamos que ter essa conversa, eu sei disso e mesmo assim ainda não sei o que fazer. – ele encara suas mãos quebrando nosso contato visual. – Por favor não pense que duvido do que sinto por você, sei que te amo. – escuto minha própria voz e desacredito que realmente havia dito aquilo.

– Eu também te amo. – responde e sinto um peso enorme sair das minhas costas.
– Não vou estar aqui nos próximos meses, já é complicado comigo aqui, imagine a distância. Você consegue entender meu lado? – não consigo segurar as lágrimas que descem pelos meus olhos.

– Eu te entendo. – ele me puxa para seus braços. Agora, Calum também está chorando. – Me desculpa por ser tão complicada. – enterro minha cabeça em seu pescoço.

– Não se desculpe por isso. Acho que nos dois precisamos desse tempo, não é?
– me afasto e afirmo com a cabeça. – Mas não duvide de que estarei sempre aqui.
– ele segura meu rosto e limpa minhas bochechas molhadas.

– Preciso de chocolate. – faço bico e ele ri.

Ficamos abraçados com os olhos na lua por um tempo. Sinto uma paz no coração enorme, algo que não sentia a muito tempo. Agora sei que amo Calum, mas ele estava certo, precisamos desse tempo sozinhos. A forma que estávamos levando as coisas não ia fazer bem para nós e nem para nossa relação, sempre soube disso e costumava me culpar.

Calum me assegura de que não preciso me culpar por nada, e agora, entendo que relações são vias de mão dupla, não posso carregar esse peso sozinha nas costas, me sentia dessa forma e isso com certeza era um dos motivos do nosso distanciamento.

Caminhamos até a cafeteria de sempre para que comprasse o chocolate que tanto queria. Sentamos em uma das mesas que ficava ao ar livre - nada novo - mesmo com o vento frio. Aproveito para me atualizar nos detalhes do álbum e da turnê. Ficamos ali até que a cafeteria nos expulse por que precisava fechar.

Lembro de que essa é, provavelmente, a última vez que teremos a chance de fazer isso nos próximos meses, sinto a melancolia tomar conta de mim. Encaro seu rosto moreno, os cachos desgrenhados por causa do vento, suas pintinhas no rosto e seu lábio grosso. Não consigo conter um sorriso. Memorizo cada traço seu como se fosse a última vez que fosse vê-lo.

Did You Get The Sensation Today?Onde histórias criam vida. Descubra agora