Epílogo

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Não importa o que eu diga aqui, a experiência é única pra cada um, mas se fosse a dois anos atrás, gostaria que alguém tivesse me contado - não é sobre o que recebemos e, sim, como recebemos. Amor é plural, e talvez seja por isso que é o sentimento mais falado. É universal. É complicado. É subjetivo. Amor é conforto, felicidade, ciúmes, frio na barriga, segurança, diversidade, e outras milhares de sensações. Calum foi a primeira pessoa que eu amei, a primeira pessoa que me fez sentir essa enxurrada de emoções e eu decidi receber a pluralidade desse sentimento com medo, com retração.

Nunca soube interpretar o que eu sentia por que sentia tudo ao mesmo tempo.

Imagino se todos os meus desejos tivessem se realizado, talvez ele ainda estivesse aqui, mas todo mundo sabe que os melhores filmes nunca foram feitos.

E se hoje eu estou falando sobre amor, algo que jamais seria capaz de fazer a meses atrás, foi por que ele me mostrou. Aprendi tudo que sei sobre amor com ele.

Mas ainda preciso aprender o amor próprio, e esse só eu sou capaz de me ensinar. E é por isso que decidimos não ficar juntos. Por enquanto. Não se sabe o futuro, e se eu nunca puder ter o Calum como o tive outra vez está tudo bem. Sei que não importa a forma que for o amor, ele vai está sempre comigo e eu com ele.

No primeiro mês em que me vi sozinha por completo novamente, quando Calum me deixou pela segunda vez, foi como se estivesse voltado para o fundo do poço. Voltei a rotina das festas e bebedeiras no objetivo de esquecer tudo. Isso se repetiu tantas vezes, antes de Calum e depois de Calum, tantas e tantas vezes. Custei a aprender, mas é assim que as coisas são, o ciclo se repete até que você o finalize.

O mesmo ciclo mas parecia mais pesado, não sofria mas só por mim, agora, também era escrava da memória e das palavras. Mesmo que ele tenha me desculpado e mesmo que tenhamos decidido juntos estarmos separados, nada me distanciava da culpa. Lembrava do que havia dito e do que havia escutado como resposta. Lembrava dos nossos momentos únicos. E nesse contraste de lembranças boas e ruins, voltava a me culpar pelo fim de nós. Eu sabia que minhas palavras atiravam pra matar quando eu estava enlouquecendo e eu tenho muitos arrependimentos sobre isso.

Até estar em festas era difícil, eu era uma ferida aberta e tudo que eu queria era ele. Nenhum contato se não o dele era capaz de me proporcionar prazer. Nada mais fazia sentindo sem Calum. E no dia em que recebi aquela mixtape foi como um tiro no peito.

Foi naquele mesmo dia que entendi que eramos apenas flashbacks em um rolo de filme e que o real final desse ciclo dependia somente de mim. Precisava me recompor sozinha, ele não estava mais ali e o passado é passado.

Imagino que seja incomum ter o primeiro amor no auge dos vinte anos, geralmente é nessa idade que você vive a vida a flor da pele e aproveita de todas as formas possíveis, mas você nunca sabe. E em minha defesa... acho que não tenho nenhuma, por ir sempre contra a gravidade.

Faço de tudo uma tempestade, a culpa é minha por não saber viver bem sozinha.

40 dias depois dele

O interfone toca, atendo e o porteiro me avisa que chegou um pacote o qual havia deixado em minha porta. Não esperava nada, tentei pensar em possíveis coisas que poderiam ser mas nada vinha em mente.

Destranco o feixe e encontro um pacote pequeno de papelão em cima do tapete da entrada.

Remetente: Calum Thomas Hood.

Procuro por uma tesoura para ajudar abrir o pacote e o faço. Encontro uma fita cassete, as músicas enumeradas atrás e um pedaço de fita branca na frente escrita com caneta preta: For you, From me.

1. I Miss You
2. Never Be
3. If You Don't Know
4. Easy (Troye Sivan)
5. Stay (Post Malone)
6. Kill My Time
7. Close As Strangers
8. Beside You
9. Wherever You Are
10. Unpredictable

Procuro pelo tocador de fita antigo do meu pai por toda a parte e o encontro empoeirado na dispensa. Apoio o aparelho na mesa da sala, limpo e checo para ter certeza de que ainda está funcionando.

Coloco a fita e a primeira música começa a tocar. Sinto um aperto enorme no coração quando ouço Calum cantar, e continuar durante toda a playlist.

"Pick you up if you fall to pieces
Let me be the one to save you
Break the plans we had before
Let's do something new and unpredictable"

As últimas frases cantadas por ele na mixtape.

Despedir-me de Calum não foi como no ensino médio. Foi muito mais difícil que imaginei. A segunda despedida mas a única completa de sensações.

Resisto a vontade de perguntar se alguma pequena ou grande parte tivesse sido diferente, se estaria tudo diferente hoje? Ele estaria aqui? Talvez em alguma realidade paralela ele ainda esteja aqui, ou talvez tenha dado tudo completamente errado. A única verdade é que as coisas foram exatamente como deveriam ser.

Poderia ter sido tudo diferente mas não é isso que eu quero. Se você nunca sangrar, você nunca vai crescer. A vida é assim, cada um sangra seu próprio sangue e é isso que a faz tão única.

Teria sido incrível se tivesse sido ele mas os melhores amantes de todos os tempos, hoje, já acabaram.

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