Um novo caminho

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Ainda podia sentir toda a adrenalina, eu tentava respirar fundo e me acalmar. Fazia tempo que eu não tocava assim e eu me sentia bem melhor. Eu havia contando o que precisava ser dito, seco as lágrimas que ainda teimava em cair e me levanto dando de cara com a Bia. 

Bia: Sinto muito – ela parecia envergonhada – Não queria atrapalhar.

Ana: Está ai a muito tempo? – eu perguntei com um pouco de vergonha – Bia?

Bia: Sim! Estava te vendo tocar – abaixei a cabeça – Se sente melhor? Você parecia muito entregue. 

Ana: Me sinto sim – era estranho o jeito que conversávamos – Precisa de alguma coisa? 

Ela parecia bem nervosa e eu só queria ficar sozinha, mas também queria o abraço da minha irmã. 

Bia: Porque não voltou quando lembrou de tudo?

Essa pergunta sempre me assombrava e ao olhar para Bia eu pude ver que não tinha mais toda aquela mágoa, ela parecia disposta a me ouvir.

Ana: Acho que precisamos sair e tomar um ar – ela concordou com a cabeça e saímos.

Ao andar pelo parque eu me mantinha em silêncio, como contar. Ela me julgaria? Me odiaria mais? Tantas perguntas. Mas estava na hora de contar a verdade. 

Ana: Eu não lembrava de muita coisa – eu respirei fundo – Só que eu andava e andava e tudo em mim doía, até que o escuro venceu e eu cai. Quando acordei tinha duas pessoas ao meu lado. 

Bia: Thiago era uma delas? – sorri e fiz que sim com a cabeça – Quem era a outra pessoa?

Ana: A mãe dele – sorri ao me lembrar de como Maria era especial – Sempre tão boa comigo. 

Bia: Não lembrava de nada? – ela perguntou sentida. 

Ana: De nada!

Voltamos a ficar em silêncio, o parque estava lindo nesse dia e ao chegarmos em um lugar muito mais do que especial para nós duas, nos sentamos sobre a grama.

Eu respeitaria o seu momento de silêncio, tinha muitas coisas a serem ditas. Bia olhava para a paisagem do lugar com um sorriso no rosto.

Bia: Eu sempre venho aqui. 

Ana: Eu também – olhei para ela sorrindo. 

Bia: Pode me contar mais?

Eu poderia?

Ana: Eu sentia muito medo Bia – ela me olhou entendendo – Eu não tinha nada e eles foram tão generosos comigo, sempre me apoiando e sempre cuidando de mim – eu olhei para a vista do parque – Minha cabeça era um grande buraco negro que sempre me puxava para baixo e com isso veio o desespero, o temor e as crises – eu estava perdida em dolorosas lembranças – Eu não era ninguém e a partir dali eu passei a me chamar Ana, nome que a Maria me deu – sorri ao me lembrar – E eu pensava. Como seguir em frente? Então eu comecei a ser outra pessoa. 

Bia: Foi muito difícil – eu a vi secar uma lágrima – Eu sentia tanto a sua falta, os dias não tinham mais cor, meu coração era escuro. Não tinha mais a minha maninha pra segurar minha mão – eu olhei minha mão – Estávamos em um mundo sem cor.

Ana: Estávamos – lhe dei um olhar triste – Mas eu não estava sozinha e as vezes eu pensava o que eu tinha feito para merecer pessoas tão especiais assim.

Bia: Aposto que muitas coisas boas – rimos e meu coração se alegrou – E depois?

Ana: Depois eu era a Ana e estava feliz – ela abaixou a cabeça – Mesmo sabendo que faltava algo importante, minha cabeça era sempre essa confusão, mas ai as coisas mudaram. 

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