06 - Meu tio, meu amigo.

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Meu tio me levou até uma sorveteria, se alguém quiser me conquistar, é só me levar em uma sorveteria.

Mas dessa vez não funcionou. Eu ainda estava louco da vida. Tudo o que eu queria, era socar alguma coisa; eu sei, estou fora de controle, e para acabar de completar tudo, desapontei minha mãe em um nível inimaginável, eu conheço as regras, e joguei todas pela janela.

Meu tio, com certeza me conhecia muito bem. Levou-me até uma mesa, e sentamos, ele cruzou os braços e ficou me olhando, e eu comecei a ficar constrangido, nada pior que uma pessoa ficar esperando você confessar que foi um completo babaca.

- Me desculpa tio! - Pedi, por não saber o que falar.

- Desculpar pelo quê? - Ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.

Erguer a sobrancelha é um hábito que a família da minha mãe tem. Todos tem essa mania, acho que até o Calebe que tem só cinco anos, tem essa mania, na verdade o único que não tem essa mania sou eu.

- E então, rapazinho? - Tornou a me perguntar.

Como se a rádio patrulha da igreja não já tivesse espalhado aos quatro cantos, naqueles minutos em que eu fiquei esperando por ele, o que havia acontecido.

- Sei lá tio, as coisas estão tão estranhas. Eu não me reconheço, eu esmurrei o Davi. - Confessei envergonhado, mesmo sabendo que ele já sabia, falar em voz alta me deixava ainda mais constrangido.

- E porque você fez isso? - Perguntou sem se alterar.

- Ele ofendeu a minha mãe. - Eu me justifiquei.

- Você sabe que isso não foi certo. Afinal de contas, seja lá o que ele falou sobre a sua mãe sabemos que não é verdade. Apesar, que eu na sua idade, já teria quebrado aquele Davi há tempos, e que sua mãe não nos ouça, caso contrário nós dois ficaremos de castigo, e a sua educação é diferente da minha, então não saia por aí quebrando as caras das pessoas mesmo quando seus donos mereçam. – Disse piscando.

Eu sorri o bom de falar com meu tio era isso, ele sempre compreendia a situação da gente, mesmo que não fosse favorável. Respirei fundo, e desabafei com meu tio.

- Tio, qual a possibilidade da minha mãe me deixar conhecer o meu pai? - Meu tio assoviou.

- Meu filho, só Deus sabe. Mas você gostaria de conhecer o seu pai? - Perguntou curioso.

- Gostaria sim. Eu não sei nada sobre ele tio. Nem o nome dele eu sei, isso não é justo. Mas por outro lado, não quero magoar a minha mãe. - Digo confuso.

- Você já orou por este encontro com o seu pai? - Meu tio perguntou interessado.

- Sim. Mas essa a primeira vez que eu estou assumindo em voz alta, que eu gostaria que ele fizesse parte da minha vida. - Digo tímido.

Veja bem, eu não sou ingrato ou mal agradecido, não é nada disso. Sou muito grato pela minha mãe, tenho plena consciência do amor de Deus por mim; e tenho plena consciência de que Deus é o meu Pai supremo, que Ele é a base para tudo na minha vida.

E é, com certo pesar que admito, que até naquela tarde em que eu vi o Ricardo e a Bia naquele amasso, eu não pensava muito no meu pai.

E nesses meses eu tenho sim pensado nele; e eu já imaginei inúmeras situações que só me deixam mais frustrado.

Já imaginei. Que ele é um cafajeste. Um mau caráter. Um aproveitador, 'afinal de contas minha mãe tinha treze anos quando ele a deixou gravida'. Um irresponsável que caiu fora para não me criar, ou assumir a minha mãe...

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