Só havia uma coisa, em que a igreja e a escola eram unânimes, ao me fazerem bullying, eu nunca ter beijado na boca, e aparentemente ser imune ao charme de todas as garotas.
Isso me rendeu os mais diferentes apelidos, e os mais cruéis comentários no decorrer dos meus quatorze quase quinze anos.
Admito que talvez eu seja mesmo imune há muitas das garotas, quando a Mariana me cercou no banheiro masculino, foi muito constrangedor, mas realmente, não me fez querer aproveitar da situação, não me senti na obrigação de provar nada a ninguém, e sinceramente, fiquei mais constrangido por ela que por mim.
Eu já estava acostumado à maioria das pessoas pensarem que era gay, na verdade nunca compreendi bem porque que homem para provar que era homem tinha que ser um cafajeste, e mulher que fazia a mesma coisa era uma desavergonhada, acho que a maneira como as pessoas se enxergam e enxergam aos outros e muito destrutivo para o meu gosto.
Mas como já sabemos não sou imune a todas elas, Bia é o meu calcanhar de Aquiles, eu me perco quando ela está por perto, e apesar de eu jamais avançar o sinal, ela me tira dos trilhos.
Existem momentos, em que eu gostaria de ser diferente, e abraça-la, beija-la, e pensar depois nas consequências de tal atitude, principalmente quando o abençoado do irmão dela pega no meu pé, e me trata como se eu fosse a escoria da sociedade.
Então me lembro, que ela não tem culpa do irmão ser o idiota que é, 'me desculpem retiro o idiota, o judas que ele é, ela não tem culpa', mas principalmente eu me lembro, do que eu sou feito, e de Quem eu sou FILHO.
Na manhã de segunda feira, eu estava extasiado, com as descobertas que eu havia feito sobre o meu pai. Quanto mais eu perguntava sobre ele, mais eu tinha perguntas, e eu bombardeei a minha mãe de perguntas, até ela me dispensar para a escola. Encontrei a Bia logo na entrada da escola.
- Bom dia! - Eu a cumprimentei sorrindo.
- Bom dia! - Ela me respondeu cismada. - O que aconteceu ontem? Pela manhã você estava, bem não sei explicar como você estava, e a noite você era outra vez o meu bom amigo de sempre, e hoje... - Ela me olhou confusa. - Bem, hoje você continua sendo você, mas de alguma maneira está diferente. – Ela diz pensativa.
- No intervalo a gente conversa. - Eu digo passando minha mão em seu cabelo.
Ela olhou dentro dos meus olhos confusa, e por um instante, eu vi em seus olhos uma emoção que eu não reconheço e também não sei explicar, mas que faz meu coração acelerar.
Ficamos ali no corredor, olhando um para o outro, ela pegou minha mão, que estava em seu cabelo, e entrelaçou os dedos nos meus, sem tirar os olhos dos meus, e eu bobo, sentindo aquela sensação agradável que o toque dela me proporcionava, sentindo o calor do olhar dela que me aquecia, e naquele momento eu desejei dizer a ela tudo o que eu sentia.
Nos assustamos com o Ricardo empurrando a nós dois, e o momento passou. Ela largou imediatamente a minha mão, e senti um vazio, e um frio percorreu meu corpo, cruzei os braços sentindo a tristeza me inundar.
- O que vocês estão fazendo aí parados no corredor, feito dois espantalhos? - Ricardo perguntou sorrindo.
- Nada! Estou indo para minha sala, vejo vocês no intervalo. – Ela diz saindo.
- Te vejo no intervalo. - Ele me diz. - Bia espera! - Ele grita indo atrás dela, ela parou e olhou para mim, com um olhar triste que mais uma vez eu não entendi. Fui para a minha sala, com aquele vazio no peito me sufocando.
Voltei a encontrar a Bia no intervalo, eu estava na biblioteca, quando ela apareceu estava furiosa. E eu sorri da ironia da situação, ontem eu estava furioso com o mundo, hoje parece que ela que destroçar alguém.
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Projeto perfeito de Deus.
Ficção AdolescenteSpin-off de no Tempo de Deus. Paulo é um típico adolescente cristão. Bem humorado, carismático, perspicaz, e ama trabalhar na obra do reino de Deus. Ele é filho de mãe solteira, mas sabe que não é filho do acaso, ele é filho de Deus. Ele não conhece...