CAPÍTULO 23

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Victorya

Assim que cheguei em casa e subi direto para meu quarto, ignorando minha mãe na sala, claro que meu pai chegaria logo em seguida.
Eu o deixei na sala de reunião com o Oliver e sai do departamento furiosa. Se ele me procurasse para mais explicações, faríamos isso em casa, não onde todos poderiam nos ouvir.

- Onde está a Victoria? – ouvi meu pai perguntar a alguém no corredor do segundo andar, a alguns metros da porta do meu quarto.

- Eu acho que ela entrou no quarto. – ouvi a voz de Margo lhe responder.

Não demorou muito tempo para meu pai dar duas batidas rápidas na porta do meu quarto e depois abri-la para entrar, me encontrando parada em pé de frente para a janela do meu quarto, que dava para a piscina e o jardim dos fundos.

- Victoria me explique melhor essa história. Quando você pensava em nos contar sobre isso?

Me virei para o meu pai tentando conter a fúria que eu sentia.

- Eu pensei em contar quando fosse a hora. O Oliver não tinha direito nenhum de interferir em um assunto meu.

- Mas ele não deixou de ter razão. No lugar dele eu também não a colocaria em risco. E por isso eu digo que você vai ficar apenas na equipe técnica, não mais em campo, até esse assunto se resolver.

Senti a raiva deixar meus músculos ainda mais tensos enquanto eu cerrava meus dentes para não alterar ainda mais a voz, mas mesmo assim ela acabou saindo alterada quando lhe respondi.

- Por favor não faça isso. Vocês não têm o direito, eu sei muito bem me cuidar e vocês não terão chance sem mim.

- É isso, ou você está fora do caso. – meu pai responder me fazendo expirar um pouco da fúria de dentro de mim enquanto eu voltava a me virar de frente para a janela do meu quarto, para poder me acalmar.

- O que é que está acontecendo aqui? Vocês dois estão discutindo outra vez? – Ouvi a voz da minha mãe e os barulhos dos saltos dela contra o mármore entrando em meu quarto.

Droga! Meu pai contaria a ela, e assim ele ganharia mais uma aliada nessa ideia ridícula deles de superproteção.

- Victoria está gravida. – meu pai lhe respondeu enquanto eu fechava meus olhos com força pedindo a Deus que aquilo acabasse logo e eles me deixassem sozinha.

- Gravida? – minha mãe pareceu surpresa ao se dar conta daquilo – Vic querida, isso é verdade?

Me virei para ela e assenti, até que minha mãe veio a passos largos em minha direção e me puxou para seus braços, com uma abraço apertado.

Olhei dela para meu pai ainda parado no lado de dentro da porta do meu quarto e percebi Margo logo atrás dele com um sorriso radiante para mim.
Minha nossa! Eles seriam insuportáveis agora.

- Vic você não imagina tamanha felicidade que sentimos. – minha mãe falou afastando-se para me olhar, mas mantendo suas mãos em meus braços – A quanto tempo você já sabe? Já contou para o Othon? Aposto que ele vai explodir em felicidade.

O Othon! É claro que eles pensariam logo nele.

- Não, eu ainda não falei nada a ninguém, ainda nem fui ao médico. – olhei da minha mãe para meu pai e minha irmã que continuavam parados nos olhando. – Isso está indo rápido demais e eu ainda não tive tempo nem de processar essa informação. Então por favor não falem mais nada para ninguém, muito menos para o Othon. Eu preciso de um tempo.

Minha mãe assentiu com seus olhos brilhantes quando voltei a olhar para ela.

- Sim minha filha. Entendemos que você mesma vai querer contar para ele. Eu imagino o quão contente ele irá ficar.

Ela então me soltou e eu forcei um sorriso imaginando tudo aquilo, e não me sentindo nem um pouco empolgada.

- Então se puderem me dar um tempo sozinha, eu preciso muito disso.

Minha mãe concordou enquanto minha irmã e meu pai saiam do quarto nos deixando sozinhas.

- Meu bem vou marcar seu médico o mais rápido possível, não se preocupe com isso, e se quiser posso lhe acompanhar.

- Obrigada mãe, mas eu vou sozinha.

Ela assentiu outra vez e me deu um rápido beijo no rosto antes de sair me deixando em meu quarto.

*

No dia seguinte pensei que seria tranquilo ir ao médico sozinha, e dentro de mim havia um ponto de esperança que aquilo tudo não passasse de um sonho e que o médico me acordaria com boas notícias. Mas não foi nada disso, ele só confirmou o que eu sabia, e lá estava aquela manchinha escura na tela dando forma a um bebe que tinha batimentos fortes e acelerados. Ele era perfeitamente saudável para seu tempo de vida.

Depois de passar um tempo no banheiro do consultório encarando o espelho, tentando pensar no que eu ia fazer, saí de lá me sentindo completamente sozinha. Sorte a minha que eu havia pego um taxi, pois eu não tinha condição nenhuma de dirigir naquela manhã. Eu não tinha nem noção para onde eu queria ir.

Assim que sai do prédio da clínica medica e pisei na calçada, olhei para o lado a procura de um taxi e meu corpo paralisou ao ver que eu não estava sozinha.

Oliver estava encostado em sua moto, com os braços cruzados em frente ao seu peito, enquanto olhava para mim, como se estivesse me esperando.

- O que você está fazendo aqui? – perguntei misturando a confusão a surpresa de vê-lo ali, enquanto permanecia parada no mesmo lugar no meio da calçada.

- Laura me falou da sua consulta e que você viria sozinha, então eu precisei vir ver se você estava bem.

Senti meu coração bater mais forte enquanto sentia meus olhos começarem a queimar na produção das primeiras lágrimas. Rapidamente respirei fundo repreendendo todos aqueles sentimentos que estavam por um fio de me dominar e olhei para o outro lado para ver se não haveria nenhum taxi parado próximo a calçada, que pudesse me tirar dali, mas não havia nenhum.

- Eu estou bem como você pode ver, então já pode ir.

Oliver me deu um sorriso decepcionado, meio de canto quase me fazendo derreter, e então se endireitou pegando um de seus capacetes.

- Vamos, eu acho que você precisa de uma carona, não vai ser fácil encontrar um taxi essa hora.

Ele esticou seu braço forte, em uma camiseta preta e justa, e me ofereceu seu capacete.

Eu sabia que não poderia fazer isso, mas que chances eu tinha em lutar contra a minha vontade de me afastar dele, se ele sempre surgia para mim, e uma hora ou outra nos encontraríamos e ele me salvaria outra vez.

Peguei o capacete e me movi em sua direção.
- Só me tire daqui e me levar para qualquer lugar que não seja minha casa nem o departamento.

Oliver sorriu e assentiu para mim antes que colocássemos nossos capacetes e depois montássemos em sua moto e ele nos tirasse dali.

Não sei quanto tempo viajamos, mas enquanto eu sentia novamente o perfume maravilhoso do Oliver misturado a brisa quente de verão na garupa da moto dele, me dei conta que estávamos na praia de Castle Island.

Oliver parou a moto próximo ao gramado e logo depois que tiramos nossos capacetes ele pegou minha mãe e me levou até a borda da grama que se misturava a areia, e que tinha uma vista com apenas o mar a nossa frente.

- Sentar e ver o mar sempre me ajuda a esfriar a cabeça e pensar com clareza.

Olhei para ele e sorri o vendo se sentar na ponta do gramado.

- Eu quase não venho a paria, acho que nunca tenho tempo para isso. – respondi me sentando ao seu lado – Deve ser um privilégio morar de frente para o mar e ter uma vista dessa todos os dias.

Ele concordou comigo com um largo sorriso.
- É por isso que não largo a minha casa por nada.

Senti um aperto em meu peito com sua resposta e puxei minhas pernas em frente ao meu corpo enquanto as abraçava próximas a mim para que não me sentisse ainda mais sozinha.

Ele tinha sua casa, sua vida, era claro que ele não trocaria tudo isso por nada, nem por ninguém. Quem em sã consciência trocaria tudo aquilo por outra pessoa, ainda mais gravida?

Senti a mão quente do Oliver deslizar por minhas costas até que seu braço me abraçasse. Por mais que o sentir ali tenha feito eu me sentir um pouco melhor, ainda não parecia o bastante, enquanto continuei em minha posição confortável.

Mas acho que ele percebeu o quão eu ainda me sentia sozinha, pois seu braço me puxou ainda mais para ele.

- Vem cá. Senta aqui na minha frente.

Olhei para o Oliver, e quando pensei sobre sua proposta não me senti nem um pouco insegura, eu precisava da segurança que ele estava me oferecendo.

Rapidamente me levantei e me mudei, me sentando entre suas pernas, de costas para ele, enquanto seus braços passavam em torno de mim, me segurando firme encostada em seu corpo, de frente para o mar.

- Agora pode pensar, eu estou aqui e você não precisa se preocupar. – a voz rouca do Oliver sussurrou ao lado do meu ouvido fazendo meu coração voltar a disparar, enquanto minha pele se arrepiava e meus olhos enchiam de lagrimas, mas desta vez não me privei de deixar elas cairem.

Deixei as lagrimas correrem em meu rosto enquanto os últimos meses passavam feito um filme em minha cabeça, me lembrando de cada emoção. Desde o dia que descobri do Othon com a estagiaria e depois vi os dois juntos, me fazendo me dar conta que eu não sentia mais nada por ele além de nojo. Passando pela viajem a Las Vegas, onde eu e o Oliver nos conhecemos, as coisas maravilhosas que vivemos juntos, fazendo daquele o melhor de semana da minha vida.

Mas logo depois precisei voltar ao mundo real, encarar meus pais e o Othon, que voltaram a insistir que eu o perdoasse e que repensasse sobre o casamento que estávamos adiando a anos, até o dia que eu descobri que estava gravida e senti um abismo gigante se formar em minha vida.

Eu precisava tomar decisões sérias e importantes em minha vida, e tendo meu pai sempre me forçando a ficar com o Othon eu entendi que aquilo era a coisa certa a fazer. Eu não estava fazendo isso por mim, nem por ele, eu estava fazendo por meu filho, lhe dando a chance de viver com um pai, e também por minha família, já que o nosso casamento abriria novas oportunidades para nosso pai, em uma aliança segura com o pai e a família do Othon.

Só que tudo isso virou um grande ponto de interrogação e todos meus motivos se diluíam com o reencontro com o Oliver. Com ele voltei a viver, a ver a felicidade em coisas pequenas, ele se tornava um ponto seguro no meio de todo aquele abismo, mas ao mesmo tempo ele me lembrava do que eu não poderia ter. Aquele ponto seguro não era para sempre, uma hora ele ia se desfazer, ele ia embora e eu estaria novamente sozinha, perdida naquele abismo, que se aprofundou ainda mais depois daquela consulta médica.

Senti os braços do Oliver se fecharem ainda mais em torno de mim enquanto seu rosto se afundava na curva do meu pescoço depois das minhas lágrimas cessarem.

- Me desculpe. – sua voz calma falou ao meu lado enquanto eu continuava vendo o mar a nossa frente – Eu não tinha o direito de falar sobre sua gravidez para seu pai, era claro que você ia querer fazer aquilo, mas na hora eu não encontrei outra escolha. Eu não posso por você nem seu bebe em risco, eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com vocês.

Seus lábios tocaram o tecido da minha camisa que cobria o meu ombro e eu assenti para ele.

- Eu entendo que você queira nos proteger, você é assim, mas você não vai poder me proteger para sempre.

Virei meu rosto para lhe olhar sobre meu ombro, e encontrei seus olhos em mim.

- Se eu pudesse eu protegeria, mas vou dar meu máximo enquanto eu puder.

- Obrigada. – respondi abraçando seus braços em torno de mim e baixando minha cabeça, até me dar conta que seus braços em torno da minha cintura se fechavam em minha barriga, onde meu filho estava e aquilo fez meu peito se aquecer enquanto eu engolia em seco. – Podemos sair daqui? – perguntei voltando a olhar para ele – Acho que eu preciso de um lugar onde eu possa te abraçar.

Oliver sorriu e concordou antes que nos levantássemos e voltássemos para sua moto.

Nem Tudo Fica em Las Vegas (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora