CAPÍTULO 35

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Victorya

No dia seguinte enquanto eu estava trabalhando na sala junto com a Becca, Enzo praticamente invadiu a nossa sala parecendo nervoso.

- Vic. Preciso que você venha comigo.

Imediatamente me levantei nervosa da minha cadeira, a empurrando para tras, enquanto começava a sentir meu coração disparar acelerado pela forma como ele me olhava.

- O que aconteceu? - perguntei largando minhas coisas e depois indo até ele.

- É o nosso pai. Só venha comigo, te explico no caminho.

Enzo tomou minha mão e me arrastou da sala pelo prédio atraindo os olhares de todos por onde passávamos.

Assim que chegamos ao elevador, enfim consegui ficar a sós com ele para poder saber o que é que estava acontecendo.

- O que aconteceu com o nosso pai? Ele esta bem?

Enzo então virou-se para mim e assentiu com a cabeça.

- Sim, ele está bem. Quer dizer. Eu não sei. Eu acabei de receber uma ligação que ele foi preso.

- Preso? - perguntei surpresa por aquilo.

Tudo bem. Othon me falou que meu pai estava sendo investigado. Meu pai até chegou a me falar que era sobre omissão, mas que não daria em nada, era apenas uma perseguição contra ele. Só que agora ele estava preso e nossa mãe deveria estar arrasada.

Assim que o elevador parou eu segui o Enzo a passos rápidos até o seu carro e então ele dirigiu até a nossa casa.

Quando chegamos a Margo estava sentada no sofá abraçada as almofadas chorando e a nossa mãe estava na sala com um dos advogados da família. E eu senti meu mundo ruir. Então era verdade, meu pai tinha sido preso.

- Crianças! – minha mão veio então até nós assim que nos viu, e abraçou nós dois juntos, um em cada braço.

- Como você esta? - Enzo perguntou voltando a olhar para ela.

- Horrorizada. Foi terrível.

- Porque ele foi preso? - perguntei assim que me virei para nosso advogado.

- Eles afirmaram que o senhor Vermont estava envolvido com um grupo de dentro do FBI que omitia provas e casos para defender e acobertar pessoas que estavam sendo investigadas em troca de altas quantias, que era dividida entre esse grupo.

- Por corrupção? - perguntei usando o termo certo e não da forma como o advogado estava usando para tentar amenizar o caso do meu pai.

- Bem. Isso é o que eles dizem. – o advogado respondeu.

- Se eles dizem porque eles tem prova. Eles não o prenderiam sem provas, ainda mais um membro do FBI. E o meu pai já sabia que estava sendo investigado.

- Vic. – minha mão chamou minha atenção e então eu me voltei para ela.

- É verdade mãe. Não tentem ofuscar o que é a verdade. Meu pai trabalhou anos no FBI, passou sua vida toda conhecendo sobre leis e crimes, ele sabe o que é corrupção, e se ele fez, e ainda deixou provas, ele sabia do risco que estava correndo.

Minha mãe me olhou horrorizada para mim enquanto Enzo apenas abaixou sua cabeça, e eu entendi que ele não queria magoar ainda mais a nossa mãe concordando comigo. Mas eu já havia cansado de ser uma boba que aceitava e abaixava a cabeça para eles. Porque nenhum deles se importou o quanto me magoavam quando ficavam me forçando a fazer coisas que eu não queria.

Então voltei para o advogado e fui até ele enquanto Enzo levava minha mãe para se sentar.

- Alguém já foi acompanhar ele até a delegacia? - perguntei ao advogado.

- Sim. Já temos um advogado esperando por ele lá.

- Ok. E quem mais foi preso? Quem mais fazia parte desse grupo?

Percebi que o advogado desviou os olhos de mim e olhou para minha mãe.

Então me virei para ela a tempo de ver ela acenar com a cabeça para ele.

Droga. Minha mãe estava acobertando alguém.

- Quem a senhora está acobertando? - perguntei olhando para ela.

- Vic. – Margo chamou com sua voz embargada de choro e meus olhos inchados – Não faça isso. Já estamos todos tristes.

Acenei minha cabeça enquanto respirava fundo apoiando minhas mãos na minha cintura.

- Vocês sabem que não vão poder esconder nada de mim. Eu tenho acesso a essas informações só com uma ligação. Então é melhor vocês dizerem logo e a gente vai poder saber o que fazer com o nosso pai.

O advogado hesitou por um instante enquanto olhou de volta para minha mãe, mas no fim ele pegou uma folha em sua pasta e me entregou.

Rapidamente passei meus olhos sobre os nomes que estavam naquela lista, e reconheci muitos deles, inclusive do meu pai, até que um deles chamou minha atenção me fazendo paralisar.

Eu estava congelada, olhando aquele nome digitado no papel enquanto lutava para respirar e me manter calma, enquanto tentava colocar minha cabeça em ordem, mas estava praticamente impossível.

- Que merda é essa? - perguntei levantando a folha em minha mão olhando para minha mãe.

- Eu não sei. Seu pai não me fala todas as coisas. Eu só sabia que eles tinham negócios, só não sabia que tipos negócios que eram.

Enzo levantou-se do sofá e veio até mim pegando a folha da minha mão enquanto nossa mãe tentava se explicar. E assim que ele encontrou o nome que eu me referia ele me olhou surpreso.

- Que merda Vic! Ele ia usar você.

- É por isso que queriam tanto que eu me casasse com o Othon. É por isso que queriam unir as famílias. E é por isso que ele chegou onde ele chegou. O meu pai estava envolvido com o pai do Othon em crimes de corrupção. Vocês têm noção que o meu casamento sempre foi armado por eles? E no mínimo logo o Othon ia entrar junto nesses esquema depois de ser promovido? Se é que já não está, e o seu nome só não está nesta lista.

Eu não conseguia aceitar aquilo. Minhas mãos tremiam e eu já estava ficando enjoada e tonta.

Meu pai era um criminoso.

- Vic. Fica calma. Você mal saiu do hospital. Você não pode ficar assim. – Enzo tentou me acalmar me puxando em seus braços e eu recostei em seu peito o abraçando de volta.

E então eu me dei conta quanto aquilo era estranho para mim. Como o abraço do meu irmão, que me confortava e me protegia quando eu era mais nova, agora era um abraço desconhecido. 

E o que eu mais desejava agora era o abraço e o cheiro do Oliver para me acalmar. Só com o Oliver eu me sentiria calma e segura outra vez. Mas até isso eu havia perdido na minha vida. E tudo por culpa do meu pai.

As lágrimas corriam em meu rosto e eu já não consegui mais guardar tudo aquilo.

- Eu não consigo ficar calma – assumi entre o choro – Eles arruinaram a minha vida. Eles me forçaram a querer casar com o Othon apenas pelos benefícios deles. Eu perdi tanto nesses últimos meses e ninguém se importou. Eles usaram a imagem de família perfeita, de uma família estável, de uma família protegida, para me fazer acreditar que o certo era casar com o Othon até quando eu estava gravida de outro. Porque o Oliver nunca poderia me dar a família que eu tinha aqui. E eu precisava dar a mesma estabilidade ao meu filho. Mas eu nunca ia querer dar essa estabilidade para o meu filho, porque eu não ia querer que ele tivesse uma imagem de um pai criminoso também. – tentei secar as lágrimas do meu rosto e então soltei do Enzo para me virar para minha mãe. – Meu pai mentiu tanto para mim, se vangloriando de uma família que era sustentada por mentiras, que ele me afastou do único homem que conseguiu me fazer feliz, e que eu o perdi sem poder dizer que eu o amo.

Quando Enzo me abraçou de volta  eu me dei conta de quanto eu estava chorando e soluçando ao assumir para mim mesma que eu amava o Oliver, mas agora poderia ser tarde demais.

*

Já fazia quatro dias que meu pai estava preso, mas eu não estava fazendo mínimo esforço em tira-lo de lá, nem de saber como ele estava, ou como estava indo o processo dele.

Mas enfim era segunda-feira e eu não via hora de voltar a trabalhar, depois de passar alguns dias afastadas para evitar a falação sobre o meu pai e o pai do Othon.

Me tranquei em minha sala, enquanto a Becca estava na academia, e aproveitei para trabalhar. Até alguém bater na minha porta e então Ayla abri-la para olhar para dentro.

- Esta ai? - ela perguntou com uma voz doce que me fez sorrir.

- Claro. Pode entrar.

Ela então entrou com seus braços para tras e com um sorriso todo disfarçado.

- Eu só vim trazer uma coisinha para você.

Ela então colocou um envelope em branco sobre a mesa e o deslizou em minha frente.

- O que é isso? - perguntei sorrindo, mas me sentindo confusa.

O que ela estava inventando agora? Deveria ser uma de suas gracinhas para tentar me animar.

- Abra. Eu acho que pode ser isso que você esteja precisando. – ela respondeu dando pequenos passos para tras e em sentido a porta.

Peguei o envelope e o abri antes que ela saísse e então me senti ainda mais confusa vendo o que havia dentro.

- O que significa isso? - perguntei voltando a olhar para ela que agora já estava na porta a um passo de sair no corredor.

- Leia. E todas nós achamos que você deveria ir.

Ayla então saiu apressadamente para o corredor depois da sua resposta. Eu peguei os papeis de dentro, lendo o que estava escrito neles, enquanto um sorriso bobo surgia em meu rosto.

Nem Tudo Fica em Las Vegas (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora