1. Cheiro de hortelã e cigarros.

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04.05.2020

O sol reluzente penetra pela vitrine brilhante da cafeteria, o aroma de café misturado com um aromatizante de lavanda do lugar, me entorpecem. Como se já não precisasse do café concentrado para isso. A música ambiente me deixa com a sensação de tranquilidade, mesmo que minha vida não seja muito sobre isso. As pessoas alheias passeando e sorrindo pela calçada também me deixam assim.

A música finalmente para e sei que uma nova começará, bato os dedos na ponta da mesa em ansiedade e logo me torno tensão pura, uma nova música começa e estaria tudo bem se esta não me lembrasse dele e de tudo o que vivemos. Sei que mesmo que ele tenha ido há alguns anos ainda é como se fosse ontem. Como se tivessemos nos conhecido ontem naquele telhado e ele tenha partido nesse mesmo dia. Memórias de um inverno caloroso me tomam, mas tudo começou naquele começo de noite no bar.

17.12.2017

Eu respirava fundo mais uma vez naquele fim de tarde por ter que limpar todo o bar antes dele ser aberto. Solar, minha colega de trabalho, está sentada no balcão e não tenta nem disfarçar os sorrisinhos para o celular. Ela sorri e sacode todo o corpo, me dá agonia. Eu era ranzinza nessa época.

— Por que a cara feia Chaewon? - a loira me chama a atenção e tiro os olhos dela me concentrando na poeira que tiro do balcão, não respondo-a. — Aish, nem parece que é o Red Soul que tocará hoje à noite. - ela diz como se eu soubesse o que é
isso, levanto minha cabeça em confusão pelo o que ela fala e a questiono. — A banda daqueles garotos bonitos que eu te disse outro dia. - ela responde e volta a cabeça para o celular sacudindo as pernas em euforia mais uma vez, finalmente entendo.

Uma banda famosinha entre um nicho de jovens adultos tocará aqui hoje no bar em que trabalho, mas a casa não irá lotar hoje por isso. Assim como Solar, garotas interessadas no rosto dos meninos virão hoje, como parasitas, já posso até ouvir os gritinhos agudos.

Como se soubessem, escuto as batidas na porta de vidro e vejo um dos seguranças se apressar em abri-la depois de sussurrar um "chegaram". Três garotos entram e trazem consigo um cheiro amadeirado de eucalipto e cigarro, sinto uma aura vermelha misteriosa e sugante, meus pelos se arrepiam e entendo algo pela segunda vez no dia. Eles se dirigem até o palco longe do bar e volto minha atenção para a poeira que antes limpava.

— Com licença. - um quarto rapaz chega no balcão e se senta em um dos bancos, está de frente para mim e, por um segundo, me olha. Ele tem os cabelos médios e pretos cobrindo parte da testa, dentes tortos e cheiro de problema. Solar se debruça no balcão esbarrando em mim para falar com o homem e então ele não me olha mais. Me afasto, mas ainda posso ver os sorrisinhos de longe e escuto quando Solar fala:

— Isqueiro? Não, não tenho. - ela murcha a postura e vem até mim como um foguete deixando o rapaz olhando para nós duas sem entender muita coisa. — Pode me arranjar um isqueiro? - ela tenta cobrir minha visão do rapaz com sua cabeça e parece meio desesperada, concordo e ela volta apressada para o balcão e se debruça mais uma vez, me abaixo para buscar o objeto preto na minha bolsa atrás do balcão.

— Só não fume aqui dentro. - deslizo o objeto belo balcão até alcançar o rapaz alto com jaqueta jeans escura e dentes de coelho. Ele concorda e balança o isqueiro no ar, se retirando. Solar finalmente relaxa e se vira para mim, tem as bochechas vermelhas e está ofegante. Me pergunto o porquê disso tudo, afinal.

[...]

Faltando algumas horas para a abertura do local, eu vou até o telhado para passar meu intervalo de quinze minutos. Chegando, sinto o vento gelado balançar meus cabelos escuros e arrumo os fios que insistem em sair do diadema preto do uniforme. Deixo-me relaxar e aproveito para me preparar para a noite de álcool e música alta que me aguarda, preciso respirar o ar puro da noite escura mais uma vez se quiser aguentar mais seis horas dentro daquele lugar que me sufoca.

SAY YES TO HEAVEN || 🄹🄹🄺Onde histórias criam vida. Descubra agora